Do cotidiano à página do jornal: alunos venezuelanos escrevem crônicas que superam barreiras culturais

Escrever textos não é algo fácil para todo mundo, agora imagina para alunos do ensino médio e migrantes? Confira como foi a experiência deles em serem colunistas no jornal FolhaBV

Professora Marcélia Nicácio e alunos do Ensino Médio do Colégio Militarizado Camilo Dias. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)
Professora Marcélia Nicácio e alunos do Ensino Médio do Colégio Militarizado Camilo Dias. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Escrever textos não é algo fácil para todo mundo, muito menos quando ele vai ser publicado em um site, uma revista ou no jornal. Agora imagina para alunos do ensino médio e migrantes? Essa foi a proposta de Marcélia Nicácio, professora de Português, do Colégio Militarizado Professor Camilo Dias.

Em julho e agosto, os alunos venezuelanos foram colunistas no jornal FolhaBV. A professora fez a escolha de 10 crônicas dentro da atividade de prática de escrita por meio da coletânea A Ocasião Faz o Escritor, desenvolvida para a Olimpíada de Língua Portuguesa. O objetivo, segundo Marcélia, não era ser publicado no jornal, mas trabalhar o gênero textual para proporcionar aos alunos a oportunidade de relatar suas próprias vivências como migrantes.

“Escolhemos a crônica para iniciar o projeto com as turmas do ensino médio, pensando especialmente nos alunos imigrantes. Não por ser um gênero fácil de escrever, mas por ser um gênero que provocaria neles a escrita no sentido de relatar suas próprias vivências enquanto migrantes no estado de Roraima”, explicou a professora.

Marcélia Nicácio, professora de Língua Portuguesa do Colégio Militarizado Professor Camilo Dias. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

O projeto foi realizado durante o segundo bimestre inteiro, cerca de dois meses. Conforme docente, o período auxiliou no cumprimento da atividade, que propõe realização de oficinas de leitura, escrita, conhecimentos linguísticos, ortografia, revisão e reescrita.

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Sensibilidade sobre a realidade do outro

Para Marcélia, a atividade foi necessária não apenas para prática da escrita em português aos alunos migrantes, mas também para mostrar a realidade deles aos colegas de turma e à sociedade roraimense.

Hoje, no contexto escolar de Roraima, temos um número significativo de alunos imigrantes, o que faz com que a nossa realidade seja bem diferente do que era há cinco anos. Enquanto educadores, precisamos olhar para a educação linguística com mais sensibilidade, considerando tanto a educação infantil intercultural quanto a ampliação da educação linguística. Muitos desses alunos estão aqui não porque quiseram, mas porque foram forçados em decorrência da crise migratória.

afirmou a professora.

As experiências contadas

Entre as crônicas e as experiências contadas, Eloirys Ramirez, de 18 anos, e Mariangel Jimenez, de 17, falaram sobre bullying e comida venezuelana. Temas muito distantes mas conectados pela resistência de uma vida melhor.

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“Quando estudei na Venezuela, minha primeira escola era militar. Sempre tive que me esconder, tinha muito medo do que poderia acontecer à minha família. Mas quando cheguei aqui, consegui fazer novos amigos, as pessoas foram muito legais comigo. Escrevi sobre isso na minha crônica porque acredito que pode ajudar outras pessoas que enfrentam situações difíceis. Não importa qual seja a condição delas, o importante é que saibam que podem alcançar seus sonhos, independentemente das dificuldades que a vida lhes impõe”, disse Eloirys.

Já Mariangel afirmou que escreveu sobre comida porque queria dar um toque de humor ao seu texto. “Adorei fazer a crônica, e muita gente comentou no final dizendo que gostou do que escrevi. Também fiquei emocionada ao ver que as pessoas se lembraram de momentos em que já haviam provado macarrão doce, que é uma das comidas que mencionei na minha crônica”, completou a aluna.

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