A ciência que a gente faz

Pesquisa analisa os aspectos Geo-históricos e genéticos na formação da população de RR

A ciência que a gente faz te apresenta pesquisa sobre a evolução da população roraimense

herança genética de roraima
Roraima e sua gente: aspectos geo-históricos e genéticos na formação da população (Foto: Canva Pro)

No desenvolvimento da pesquisa “Roraima e sua gente: aspectos geo-históricos e genéticos na formação da população”, professores da Universidade Federal de Roraima chegam à conclusão de que a população do Estado encontra-se em “Equilíbrio de Hardy-Weinberg”. Ou seja, a lei do equilíbrio de Hardy-Weinberg é uma importante forma de verificar se a seleção natural ou outros fatores evolutivos estão influenciando uma determinada população.

A pesquisa foi tese de doutorado, da Perita Criminal Dra Érica Veras da Luz no Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, sob orientação da professora Dra. Fabiana Granja, com a participação das pesquisadoras Dra. Bárbara Bethonico e Dra. Meire Joisy Pereira. O estudo observa inicialmente que Roraima, localizado no extremo Norte da Amazônia brasileira, é uma terra que mistura pessoas.

A conexão fronteiriça com as Repúblicas Bolivariana da Venezuela e Cooperativa da Guiana, somando-se às migrações internas e internacionais, “inserem o Estado em um contexto peculiar de ocupação da região Amazônica, trazendo particularidades na formação da população do Estado e curiosidades sobre a diversidade dessa gente tão misturada e tão única ao mesmo tempo”, dizem as pesquisadoras.

Objetivo e a tese

A realização da pesquisa teve como objetivo estudar sob aspectos geo-históricos e genéticos a formação da população de Roraima. O levantamento foi estruturado em duas categorias de análise: geo-histórica e genética, onde a população de Roraima foi comparada com outras populações do Brasil, além de europeias, africanas e ameríndias.

Já a tese foi dividida em três capítulos: O primeiro capítulo fez referência aos aspectos geo-históricos do processo de formação da população de Roraima e teve como arcabouço teórico os processos migratórios e a miscigenação das populações por meio da historicidade de formação da população brasileira e ocupação da Amazônia, com destaque para o estado de Roraima e sua gente, fazendo uma breve referência aos povos indígenas que já habitavam estas terras antes das ondas migratórias que contribuíram e ainda contribuem na formação da população.

O segundo capítulo apresentou as características da composição genética de uma amostra da população de Boa Vista, capital de Roraima que concentra quase 70% da população de todo o Estado, por meio da investigação das frequências alélicas de 23 marcadores moleculares autossômicos, estimando a diversidade genética da população e a diferenciação com outras populações das cinco regiões brasileiras, populações caucasianas, africanas e nativoamericanas.

No terceiro capítulo foi abordada a diversidade alélica e haplotípica (medidas de biodiversidade que medem a variação genética dentro de cada espécie) de marcadores moleculares do cromossomo Y. Marcadores genéticos do cromossomo Y são transmitidos apenas dos pais para os filhos do sexo masculino, característica que permite que sejam úteis para investigar questões evolutivas, ancestralidade e estrutura populacional.

Resultado

Os resultados mostraram que a população de Roraima se encontra em Equilíbrio de Hardy-Weinberg para os sistemas alélicos analisados, além de mostrarem que não há estruturação populacional, uma vez que não houve diferenças significativas nas variantes alélicas entre as populações analisadas. A equação de Hardy-Weinberg, determina a configuração genética de uma população que não está sofrendo evolução. A partir dessa análise, são comparados os dados com as informações reais da população e, desse modo, perceber se há ou não evolução.

Os dados genéticos, tanto para os perfis de DNA autossômicos quanto para a linhagem paterna pesquisada pelo cromossomo Y, mostraram que não há diferenciação genética significativa entre a população de Roraima e as populações das cinco regiões brasileiras e populações europeias, apesar da forte influência indígena no Estado.

A maior parte da variação genética ocorre entre os indivíduos dentro das populações investigadas. Assim como não há distância genética digna de nota entre a população de Roraima e as demais populações das cinco regiões brasileiras e europeias. Os resultados mostraram também que, assim como estudos genéticos populacionais ao redor do mundo demonstram que não há diferenciação genética significativa entre as populações humanas.

A pesquisa evidenciou a não existência de raças na espécie Homo sapiens, os resultados deste estudo, entre a população de Roraima e as populações das cinco regiões brasileiras, mostrou que dentro da riqueza da diversidade cultural brasileira, estão guardadas as devidas proporções, “geneticamente somos todos iguais”.

Diante desta complexidade, a maneira mais simples de lidar cientificamente com a variabilidade genética da população de Roraima, enquanto brasileiros, é individualmente, como seres humanos únicos em seu conjunto genômico misturado e em suas histórias de vida que os tornam singulares e importantes na formação da população, contribuindo para a transformação espacial, social, econômica e cultural do estado de Roraima, concluem as pesquisadoras.