Professores itinerantes da Escola Estadual José Bonifácio, localizada na comunidade de Santa Maria, no Município de Caracaraí, Baixo Rio Branco, procuraram a FolhaBV para denunciar as condições de trabalho e apresentar demandas ao poder público em relação aos anexos da unidade que ficam em várias comunidades ribeirinhas de difícil acesso. Entre estas, apenas duas têm professores fixos: a comunidade de Cachoeirinha e a comunidade de Caicubi. As outras cinco comunidades (Canauini, Terra Preta, Sacaí, Itaquera e Remanso) são atendidas por professores itinerantes.
Em um documento, os profissionais reuniram queixas que incluem problemas nas salas de aula, moradias inadequadas, transporte precário, falta de produtos perecíveis e energia, ausência de suporte e direitos trabalhistas.
Entre as principais reclamações estão a falta de ventiladores, ausência de quadros brancos adequados, infraestrutura precária das salas de aula, móveis inadequados e falta de livros didáticos apropriados. Além disso, a denúncia aponta que as moradias dos professores não possuem banheiros internos, as construções são de madeira com brechas, faltam água encanada e bombas d’água, e não há privacidade para os docentes que moram com famílias locais.
No documento, as condições de transporte e instalação também foram apontadas como deficientes. Os professores são transportados em lanchas desconfortáveis e sem seguro de vida, e seus materiais frequentemente são danificados pela chuva. De acordo com eles, não há apoio logístico para encontrar moradias adequadas, e a restrição de espaço na lancha impede o transporte de itens essenciais. A escassez de produtos perecíveis e a energia elétrica fornecida por placas solares ineficientes também foram mencionadas, juntamente com a dependência dos moradores locais para alimentação.
A falta de suporte e direitos trabalhistas é uma preocupação apontada pelos denunciantes. De acordo com a denúncia, os professores não recebem auxílio adicional por trabalhar em áreas de difícil acesso, não têm dias livres para resolver problemas pessoais ou visitar a família, e enfrentam dificuldades em obter liberação para emergências familiares. Além disso, eles mencionam promessas de visitas da Secretaria de Estado da Educação e Desporto (SEED), suporte psicológico e trabalho em pares não foram cumpridas, e os professores estão sujeitos a ameaças de faltas e desligamento.
De acordo com os professores, essas condições precárias têm impactado negativamente a educação nas comunidades ribeirinhas, resultando em aumento da evasão de professores e prejuízo à educação básica.
O que diz o Governo de Roraima
A reportagem entrou em contato com o Governo do Estado que se manifestou por meio da seguinte nota:
A Secretaria de Educação e Desporto informa que está ciente das necessidades enfrentadas pela educação na região Baixo Rio Branco e adotará estratégias junto às equipes pedagógica e de logística para solucionar as demandas.
Na região, são sete comunidades ribeirinhas, sendo que duas contam com professores fixos (Cachoeirinha e Caicubi) e outras cinco com professores itinerantes (Sacaí, Terra Preta, Canauaní, Remanso e Itaquera). Os estudantes, no total, 150 do Ensino Fundamental e 40 do Ensino Médio, são atendidos com todos os componentes curriculares exigidos em cada etapa de ensino.
Informa ainda que a Seed realizou processos seletivos para a contratação de professores para atuação na região. A Secretaria atende as comunidades ribeirinhas adotando o modelo de ensino itinerante, no qual o professor atua de forma contínua em uma comunidade até que a carga horária anual do seu componente curricular seja concluída. Finalizada a carga horária, o docente troca de comunidade.
Informa ainda que, em 2020, o Governo de Roraima entregou para a comunidade ribeirinha a Escola Estadual José Bonifácio, em Santa Maria do Boiaçu, completamente revitalizada e mobiliada.