Os candidatos ao governo de Roraima nas eleições 2018 criticaram em entrevista para a reportagem da Folha, a privatização da Boa Vista Energia, que foi vendida na quinta-feira por R$ 50 mil, o preço de um carro popular. A venda pode resultar em um aumento inicial na tarifa de energia de 16,7%, no mínimo. Alguns especialistas apontam reajustes superiores a 70%.
Confira o posicionamento de cada um dos candidatos ao governo:
José de Anchieta (PSDB)
“Eu sou contra esse leilão. Não era hora de fazer o leilão da BV Energia, não era hora. A Aneel fez levantamento do patrimônio da CERR e a Eletrobras tinha que pagar ao Estado R$ 296 milhões em investimentos e a empresa que ganhasse o leilão ia negociar essa conta e não deram oportunidade para o estado refazer um encontro de contas para ver se realmente o patrimônio da CERR vale apenas isso e eu acho que não era hora de fazer o leilão. Eu só lamento”.
Suely Campos (PP)
“A venda da Eletrobras pelo preço irrisório de R$ 50 mil é mais um capítulo do golpe orquestrado no governo passado que lesou os cofres públicos e o povo de Roraima em R$ 586 milhões, valor apurado até esta data. Desde o dia 1º de janeiro de 2017, por decisão do Ministério das Minas e Energia, a Companhia Energética de Roraima (CERR), não tem mais concessão para fornecer energia elétrica nos 14 municípios do interior do Estado. A concessão foi repassada para a Eletrobras, empresa que firmou contrato de gestão compartilhada da Cerr no governo anterior, sendo co-responsável pelo empréstimo de R$ 600 milhões para saneamento da companhia estadual, a fim de federalizá-la, o que não ocorreu. Ao invés de dar continuidade à federalização, o governo federal optou por extinguir a concessão da Cerr, dando início ao processo de privatização, que teve um único concorrente e arrematador. Em Brasília, pedi a anulação da decisão que extinguiu a concessão da Cerr e conseguimos que a justiça roraimense determinasse a inclusão desse débito de R$ 586 milhões na contabilidade da Eletrobras antes da realização do leilão e vamos seguir adotando todas as medidas judiciais cabíveis para reverter os danos e prejuízos aos cerca de 200 mil usuários, nos 14 municípios do interior e aos mais de 700 funcionários da CERR e suas famílias, que permanecem com seus empregos ameaçados e esperamos que os órgãos de controle atuem para suspender esse leilão que também prejudica os servidores da Eletrobras e os consumidores de Boa Vista”.
Antônio Denarium (PSL)
“Vejo com preocupação. Hoje não há alternativa para resolver o problema da questão energética, que não seja incluir Roraima no Sistema Interligado Nacional, por meio da conclusão do Linhão de Tucuruí. É isso que eu defendo e que vou lutar para concretizar no meu governo. A privatização só é boa, quando traz benefícios diretos para a população, como no caso da ampla concorrência de mercado, que gera produtos e serviços com mais qualidade, a um preço justo. Nesse caso específico, uma única empresa assumirá a gestão da distribuição de energia no Estado. E uma empresa, que, diga-se de passagem, deixa a desejar, pois atualmente é responsável pelas termoelétricas que deveriam suprir a demanda de energia em caso de apagão na Venezuela, mas que a população sabe, acompanha, não está cumprindo sua função, tantos são os blecautes que temos tido por aqui.
Outro ponto é o valor da conta de energia. Quem garante que o valor pago não vai aumentar, em prejuízo ao consumidor? E os trabalhadores? Quem hoje é funcionário não terá nenhuma garantia de ter seu emprego mantido. Esse leilão acontece em um momento inoportuno. Volto a repetir: a saída para a nossa crise energética é o Linhão de Tucuruí”.
Fabio Almeida (PSOL)
“Nosso posicionamento é contrário a qualquer privatização de serviços ou bem público por ser um erro estratégico a venda, a entrega da política energética para o sistema privado, visto que se retira do Estado toda possibilidade de gestão de programas de desenvolvimento econômico e social. Nós temos a energia, ela é um bem estratégico e deve ser gerida e fornecida pelo Estado, tanto sua distribuição como geração. Ao assumir o governo de Roraima, nós iremos entrar na justiça, pois essa privatização de hoje, juridicamente, não tem condições legais de ser aceita pelo Estado de Roraima. Toda população vai perder, pois nós iremos ter problemas seríssimos no fornecimento de energia principalmente para as pontas de rede, ou seja, as nossas áreas rurais e vicinais que serão extremamente prejudicadas; temos um quadro de falta de perspectiva de interligação do sistema de Roraima ao Sistema Nacional e não há nenhuma mesa de negociação estabelecida com o governo venezuelano, de prorrogação do contrato de fornecimento de energia, o que nos deixa uma perspectiva de ter um sistema privatizado, visando o lucro de uma empresa”.
Telmário Mota (PTB)
“Considero isso um ato da maior irresponsabilidade e imoralidade já vista. Vamos por etapas: o governo Temer sem nenhuma explicação tirou a concessão da CERR e fechou suas portas provocando um prejuízo humano na casa de quase 700 que irão para o olho da rua mesmo trabalhando lá há 20 e 30 anos. Também tem um grande prejuízo material e patrimonial que fica em torno de um bilhão e está sendo entregue a preço de banana pela bagatela de 65 milhões e acoplado aos fatos deram a Boa Vista Energia que já tinha concessão de fornecer energia para a cidade e para o interior. Era algo orquestrado e planejado e tem a digital de um político de Roraima que todos conhecem muito forte por trás disso. Nós já pagamos a energia mais cara do país com quase mil megawatts/hora enquanto a média Nacional é de fração. Com a privatização eu não tenho nenhuma dúvida que vai aumentar muito mais a conta de energia. É um assalto ao patrimônio do povo brasileiro. Isso é um assalto ao povo de Roraima e é uma afronta à população como um todo”.