Passado o primeiro turno das Eleições 2018, observa-se que os roraimenses têm preferido novos nomes para a política. Das 34 vagas disputadas pelo Estado (duas para o Senado, oito para a Câmara dos Deputados e 24 para a Assembleia Legislativa), 16 foram para candidatos novatos. Ou seja, 47% dos eleitos são aqueles que se arriscaram pela primeira vez na política ou aqueles que já possuem uma bagagem na área, mas que estavam sem cargo ou que disputaram outro cargo, saindo do Legislativo Estadual para o Congresso Nacional, por exemplo.
O doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Roberto Ramos, explicou que o resultado das eleições em Roraima demonstrou o desejo de renovação do eleitorado estadual. Para o Governo, o candidato mais votado foi o empresário do agronegócio Antonio Denarium, em sua primeira disputa ao cargo e sem ter cumprido mandatos anteriores.
Outro ponto que pode ter influenciado é o fato do empreendedor ser filiado ao PSL, mesmo partido de Jair Bolsonaro, o preferido pelo eleitorado local para assumir a Presidência da República. Embora já tenha sido eleito como governador, Anchieta também significa uma mudança no atual cenário considerando que a governadora Suely Campos não conseguiu votação suficiente para se reeleger e nem disputar o segundo turno.
“Para completar, também há o desejo de grande parte do eleitorado local de não votar no candidato Romero Jucá para o Senado que, de certa forma, influenciou negativamente a candidatura do seu aliado Anchieta”, avaliou Ramos.
O candidato Fábio Almeida (PSOL) também teve uma posição de destaque, considerando que tinha menos tempo de propaganda partidária no horário eleitoral na televisão, sem estrutura econômica e cargo político, afirma o professor. “Com todas essas características, ele ainda assim conseguiu ser relativamente bem votado, ficando à frente do candidato Telmário”, lembrou.
TODOS OS SENADORES FORAM TROCADOS NAS DUAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES
Na análise para o Senado Federal, percebe-se um grau ainda maior de renovação com uma mudança de 100% dos senadores nas últimas duas legislaturas, com a eleição de Telmário no lugar de Mozarildo Cavalcanti em 2014 e de
Chico e Mecias no lugar de Ângela e Jucá em 2018.
“Acredito que o eleitorado urbano, de alguma forma, foi preferindo os dois eleitos para inovar, não contabilizando o voto a favor da Ângela. Todo o processo nacional de desgaste do senador Romero Jucá também ajudou a diminuir as chances de vitória”, completou.
Observou-se ainda uma disputa competitiva, com vários candidatos empatados e com chances eleitorais durante todo o processo. Até aqueles que apareciam com um percentual mais distante conseguiram uma grande quantidade de votos, mesmo sendo candidatos ao cargo pela primeira vez. “Isso pode ser uma tendência, embora seja ainda inicial. É algo novo do processo”, avaliou Ramos.
COM 50% DE RENOVAÇÃO, CÂMARA MANTÉM PADRÃO DAS ÚLTIMAS DISPUTAS
No caso da Câmara dos Deputados, a renovação se manteve a mesma das legislaturas anteriores com uma média de 50% de renovação, explica o cientista político. Para Ramos, o eleitor roraimense seguiu o sentimento de novidade, elegendo quatro novos candidatos. O voto sofreu ainda uma influencia de Bolsonaro. “Acredito que, no caso do candidato do PSL (o policial rodoviário federal Nicoletti), tenha funcionado o apoio da sigla”, disse.
Outro diferencial destas eleições é a vaga destinada à Joênia Wapichanas(REDE), que se tornou a primeira deputada federal mulher indígena do país e a única representante do seu partido eleita para a Câmara dos Deputados.
“É interessante que Roraima é proporcionalmente o Estado mais indígena do Brasil e ainda não havia conseguido eleger uma representante como deputada federal. Ela também é a única representante do seu partido, o que fortalece a sigla e dá essa característica diferente ao eleitorado de Roraima, o que pode configurar no estímulo de novas candidaturas e de pleitos indígenas com maior número de votos”, avaliou o professor.
RORAIMENSE MANTÉM MAIORIA DOS DEPUTADOS ESTADUAIS
A Casa Legislativa que não sofreu muitas mudanças foi a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), com grande parte dos deputados estaduais retornando ao cargo em 2019. Para o cientista político, o cenário é influenciado pelo contato mais direto que o deputado estadual tem com o seu eleitorado e a questão da máquina política.
“Os candidatos tem estruturas econômicas muito densas e podem manter um eleitorado durante os quatro anos para poder ter o seu mandato renovado. Acho que foi um cenário que mudou menos. O eleitor preferiu fazer essa mudança muito mais para outros níveis, do que para a Assembleia”, disse.
O professor justifica a avaliação ressaltando que até os demais candidatos eleitos para o primeiro mandato também têm um recurso econômico maior, explica Ramos. “Os que tinham menos recursos entraram muito mais pelos coeficientes do que pelo voto efetivo”, completou. (P.C.)