O acampamento montado em frente à primeira Brigada de Infantaria de Selva completa uma semana nesta segunda-feira (7). Apesar de reiterarem o pedido de “intervenção federal” e ainda não obterem uma resposta pública e concreta dos militares, os manifestantes afirmam que não há previsão para o ato acabar.
LEIA MAIS
- TSE esclarece notícias falsas sobre o processo eleitoral
- Intervenção federal? Advogado diz não haver base legal para pedido em ato
- Empresas de RR não abrem hoje e alegam fraude em vitória de Lula
A manifestação tem sido pacífica pelas vias no entorno do quartel, as avenidas General Sampaio e Brasil, no bairro Marechal Rondon, zona Sul de Boa Vista, onde o fluxo de veículos ocorre normalmente. Ao longo de uma semana, os discursos e as formas de manifestação mudaram. Agora, além de pedir intervenção e contestar, sem provas, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas sem citar o presidente eleito, eles defendem a família, a pátria e a ordem em instituições como o Poder Judiciário.
No primeiro dia, quando bolsonaristas iniciaram bloqueios em rodovias federais pelo País, incluindo a BR-174 em Roraima, apoiadores do presidente foram, mesmo sob chuva, para a frente do quartel gritar por “intervenção militar” e usaram erroneamente o artigo 142 da Constituição Federal para justificar o que pediam.
Esse trecho constitucional é citado por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) desde maio de 2020, quando o presidente o sugeriu, em reunião ministerial, para que as Forças Armadas “intervenham para restabelecer a ordem do Brasil”, inclusive com intervenção no Judiciário.
No segundo dia, a mensagem de uma advogada começou a circular em grupos de WhatsApp bolsonaristas, aconselhando os manifestantes a liberar as rodovias caso a polícia chegue. Em relação aos atos nos quartéis, a orientação era de que não se podia usar camisas com fotos ou número de urna de Bolsonaro, nem usar pedir artigo 142 ou intervenção militar. “É para pedir INTERVENÇÃO FEDERAL”, dizia o texto.
“A manifestação tem que ficar clara que não é porque o Bolsonaro perdeu, e sim porque não queremos um ladrão no governo, isso é para não perdermos o Bolsonaro e não tornar inválida as manifestações”, completa a mensagem, enquanto que, no mesmo dia, manifestantes também bloqueavam a fronteira do Brasil com a Venezuela.
A orientação também tomou conta dos discursos no ato em Roraima. Apesar disso, no terceiro dia, quando o ato recebeu maior adesão no Estado e empresários serviam água e comida de graça, ainda havia manifestantes que não tinham ouvido o conselho e, portanto, usavam camisas alusivas a Bolsonaro e os carros estacionados próximos ao ato estampavam o adesivo de campanha do presidente. Houve até quem usasse o microfone para xingar Lula.
Enquanto isso, Bolsonaro divulgou um vídeo em que elogiava as manifestações pelo País, reprovava os bloqueios nas rodovias federais e sugeria para que os atos fossem em outro lugar.
Na quinta-feira, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) declarou que já não havia nenhum bloqueio nas rodovias federais de Roraima.
Nesse domingo (6), manifestantes seguiam com as bandeiras do Brasil e vestidos de verde e amarelo pelas avenidas do entorno do quartel. Havia faixas como “Todos pela Democracia”, “Deus, Pátria, Família” e “O Brasil não vai ser uma Venezuela!”. Os manifestantes repetiam, em direção à brigada: “Forças Armadas, salvem o Brasil”. “Não vamos desistir enquanto não vermos a libertação do nosso Brasil”, discursou um pastor, do trio elétrico, sob aplausos do público.
Empresários colocaram caminhões e tratores na entrada da avenida General Sampaio, com os dizeres “O Brasil mata a fome do mundo” e “Criminoso é tratar quem trabalha como criminosos”, o que seria uma referência à fala do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Alexandre de Moraes, que condenou os atos de apoiadores de Bolsonaro.
Nesta segunda-feira (7), vários empresários de Roraima prometem não abrir as portas em adesão ao protesto, alegando suposta fraude no segundo turno das eleições presidenciais e que não aceitam ser governados por Lula.