Quando o paraense Ronaldo Silva viu um saco de boxe pela primeira vez, enquanto acompanhava o cunhado em uma academia de musculação, em seu município natal, Itaituba, Oeste do Pará, decidiu que aquele seria o esporte que praticaria. Na época, com 14 anos, foi “nocauteado” pela modalidade e não largou mais.
Começou a frequentar o lugar de treino do cunhado e pegou gosto pela modalidade. “O dono da academia não gostava que eu fosse para lá, porque eu ficava batendo naquele saco de boxe e molhava todo o chão com meu suor”, relembrou.
Sem muitas oportunidades, decidiu começar, como a maioria, na simplicidade. Ele improvisou o próprio saco de boxe, feito da câmara de ar de um pneu de trator usado, erguido numa árvore nos fundos da casa dos pais, e deu os primeiros socos de uma vitoriosa carreira. “Ali comecei a praticar e a cada dia me apaixonava mais por aquilo. Era um sonho, e eu só estava em busca de uma oportunidade”, contou.
Oportunidade que surgiu por meio da mesma academia em que conheceu o boxe. De maneira despretensiosa, despertou o interesse do treinador, Ulisses Pereira, o mesmo que treinou o tetracampeão mundial Acelino Freitas, o Popó, e que o expulsava do local por encharcar o chão de suor.
Pereira viu na força e agilidade dos golpes de Ronaldo, um talento nato. Foi assim que o treinador levou aquele menino para Belém, capital do Pará, para disputar o primeiro campeonato. “Quando cheguei lá, tive dois meses para me preparar para o Campeonato Paraense, onde fiz três lutas e fui campeão”.
A partir daí, o boxeador começou a despontar no cenário local e, rapidamente, colecionou vitórias, que o levaram para a seleção olímpica do Brasil, o que o obrigou a mudar-se do Pará para São Paulo. “Tudo aconteceu muito rápido, de repente eu estava entre os melhores do País”, disse. Foi em São Paulo que ele se firmou como pugilista, conquistando vários feitos.
Ronaldo Silva tem um currículo invejável. Nunca foi derrotado em seu Estado natal, onde se manteve invicto por oito anos. No geral, das 84 lutas que disputou em sua carreira, perdeu apenas cinco.
Em 2002, se mudou com a família para Roraima, em busca de novos desafios. “Meu irmão me convenceu a vir para cá porque havia me dito que não tinha boxe no Estado e me deu a ideia de abrir uma academia aqui”, disse.
Mas a realidade em Roraima foi bem diferente do que o agora treinador imaginava. Sem recursos financeiros, a batalha para sobreviver do esporte aqui foi dura. “Não tinha condições, nem verba. Um amigo, que foi solidário comigo, me deu uma salinha para começar a dar aulas de boxe e, de imediato, coloquei quase 20 alunos. Cada um me dava uma mensalidade de R$30,00, mas não era o que eu queria”, contou.
Depois, a convite de um treinador cubano, Ronaldo Silva se mudou para Manaus, para auxiliá-lo por dois anos. “Fui fazer uma apresentação de boxe para o presidente Lula em Manaus e acabei ficando por lá. Ele gostou e pediu ao treinador que eu ficasse por lá. Posso dizer que meu primeiro emprego foi o presidente que me deu”, brincou.
Após o período na capital amazonense, Ronaldo retornou a Roraima. Em 2007, como ele mesmo lembra, fez o boxe se apresentar como a única modalidade olímpica de Roraima a disputar uma vaga nos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro.
No ano seguinte, fundou o projeto Atleta Olímpico, que visa a formação gratuita de jovens pugilistas. A ideia deu tão certo, que Roraima passou a estar entre os melhores centros do País. “Logo no primeiro ano, ganhamos seis medalhas em torneios nacionais, o que chamou a atenção da mídia sobre o boxe em Roraima”, declarou.
Atualmente, o projeto de Ronaldo Silva atende 390 atletas de 10 e 16 anos, possui duas filiais em Boa Vista, uma no centro, e outra no bairro Caranã, além de uma em Itaituba, sua cidade natal, inaugurada em dezembro passado. “A academia de boxe em Itaituba era um sonho que consegui realizar. Todas as aulas são gratuitas e eu me sinto satisfeito em poder ajudar as pessoas da minha cidade da mesma forma que fui ajudado”, disse.
Graças ao seu esforço pelo boxe em Roraima, o treinador foi homenageado durante a passagem da Taça da Copa do Mundo, em Boa Vista, em 2014. Na época, ele se espantou com a homenagem, já que sua modalidade não tem nenhuma relação com o futebol. Ele teve a honra de estar ao lado do tetracampeão mundial em 1994, o ex-jogador Mauro Silva, na retirada do pano preto que escondia o troféu mais cobiçado do futebol mundial.
No mesmo ano, o treinador foi presenteado com a vinda do heptacampeão brasileiro, primeiro pugilista brasileiro a conquistar dois ouros consecutivos nos Jogos Pan-americanos, e bicampeão sul-americano, o atleta paraense James Dean Pereira, que passou a treinar em sua academia.
CONHEÇA O PROJETO – Quem quiser conhecer o projeto Atleta Olímpico, pode entrar em contato com Ronaldo Silva, pelos números 99154-9610 e 98112-8235.
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