A prática de lutas com punhos fechados remonta o contexto de 5 mil anos a.C. Ela foi organizada na Grécia, e, em meados do século XVII, foi aperfeiçoada na Inglaterra, sendo reconhecida pelo nome “boxe”. A modalidade foi agregada às Olímpiadas em 1904, e ganhou o mundo.
O boxe chegou ao Brasil entre o fim do século XIX e início do XX, através dos marinheiros europeus. Daí, a modalidade cresceu no País, e revelou grandes nomes, como Éder Jofre, Maguila e Popó.
Ela só chegou em Roraima em meados de 1985, por influência dos guianenses, como contaram à Folha, os presidentes Angel Guevara, da Federação de Boxe do Estado de Roraima (FBER), e Helton Cavalcante, da Associação Roraimense de Boxe (ARB).
Segundo Cavalcante, “os primeiros atletas de boxe influenciados pelos guianenses foram o Alzemir e o Ângelo China – este é tio do Adail Aranha, que luta vale-tudo hoje”. A partir da década de 1990, surgiu “uma nova safra” de atletas, como “Sebastião Blindado, José Menezes, do Cantá – que hoje é falecido e foi um dos fundadores da ARB e da FBER -, aí vem o Moisés Lima – que hoje é presidente da (Federação de) Fisiculturismo -, o Roberto da Caer – conhecido na época como Lambança -, ele é paraense, foi campeão brasileiro na época, e veio para cá a trabalho, e aproveitou o boxe, que estava em alta com os guianenses, e fez algumas lutas -, e o Jonas Lamera – que hoje é guarda municipal”, explicou.
Pioneiros na prática da modalidade em Roraima, os atletas contrataram um treinador cubano que veio passar uma temporada em Roraima. Ele retornou de onde viera, o Rio de Janeiro, e o boxe “esfriou” em Roraima.
Logo, entra em cena o venezuelano Angel Guevara, que em 1997, em parceria com o São Raimundo Esporte Clube, criara a primeira academia da modalidade no Estado. Atletas como Gilmar Reis, o Mikail, os irmãos Adailton e Adilton, Helton Cavalcante, Francivaldo Romão, Bráulio Gomes (ex-presidente da FBER), Fábio Freitas (ex-presidente da ARB), foram os primeiros a treinarem no espaço.
Foto: Arquivo pessoal
Bráulio Gomes (E), o treinador da seleção olímpica de boxe de Cuba, Sarbélio Fuentes (C)e o ainda pugilista infantilAllan Costa (D), em 2005
Em 2001, eles criaram a ARB. No ano seguinte, de acordo com o atual presidente da associação, o boxe roraimense foi convidado pela Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) a participar do Campeonato Brasileiro, em Belém-PA, onde o pugilista Mikail fez história ao ser primeiro roraimense a competir nacionalmente.
Ainda sem federação em Roraima, a ARB foi alertada pela CBBoxe que atletas roraimenses só poderiam participar no Brasileiro se houvessem uma entidade que regesse o boxe no Estado. Daí, “em 2003, através da ARB, e de outras duas associações (de judô e taekwondo), ajudaram a criar a Federação (de Boxe do Estado de Roraima), a qual o primeiro presidente foi o José Luiz Oca, um venezuelano que residia aqui”, disse Helton Cavalcante.
No mesmo ano, a ARB criou seu primeiro projeto, no bairro Jóquei Clube, visando revelar novos pugilistas. Deste, foi revelado o atleta Jonh Félix, que mais tarde fora campeão roraimense e da fronteira Brasil-Venezuela.
Luiz Oca presidiu a FBER de 2003 a 2004, e ajudou, com o apoio do então presidente da ARB, Fábio Freitas, a dar suporte ao treinador paraense Ronaldo Silva, que acabara de chegar ao Estado.
Durante este período, Mikail foi prata no Campeonato Brasileiro, tornando-se o primeiro roraimense a medalhar numa competição nacional – o que deu a ele a oportunidade de representar o Brasil em um campeonato na Argentina -, e Roraima enviara a Manaus, uma delegação para participar da inauguração do Centro de Alto Rendimento da Região Norte, em 2004. “Mandamos os melhores da época”, relembrou Cavalcante.
Segundo ele, o boxe local já estava consolidado. Além dos nomes citados, se destacavam, Virgílio Mangabeira, Maicon Melo, Clemerson e Anderson do Cantá, além de Allan Costa, primeiro atleta infantil de Roraima, e que iniciou os treinos na ARB.
Em 2005, Bráulio Gomes assumiu a FBER, com a missão de modernizar a modalidade no Estado. Posteriormente, foram criadas, com o apoio da ARB, associações, como a de Boxe do Cantá, a América Champion e a Gigantes de Aço. Em meados de 2007, o boxe feminino chegara para ficar, com destaque para as atletas Swammy Santos e Cyrlania Souza.
E o boxe local experimentou seu auge em 2008, em Cuiabá-MT, onde o pugilista Allan Costa tornou-se o primeiro roraimense e brasileiro campeão da classe Cadete (15 a 16 anos), na categoria até 60 quilos. A classe era recém-introduzida no País. Na mesma competição, o atleta Delson Teixeira Sales tornou-se o primeiro roraimense campeão brasileiro de boxe olímpico adulto (acima de 18 anos). Ambos foram coordenados pelo cubano Novaldy Hernandez, como foi registrado no site da CBBoxe.
Em 2011, Allan Costa, mais uma vez, colocara Roraima no topo, ao conquistar, agora pela classe adulta, o ouro no Brasileiro, em Vila Velha-ES, onde o também roraimense, Raone Arruda, conquistara o bronze na classe Cadete. No mesmo ano, no Brasileiro Juvenil, os pugilistas de Roraima, Carlos Magno e João Leno da Conceição conquistam prata e bronze, respectivamente. Na competição feminina, a atleta Swammy Santos levou o bronze.
BOLSISTAS – De acordo com Helton Cavalcante, a ARB foi responsável pelos primeiros atletas do Estado a receberem ajuda do programa Bolsa Atleta, do Ministério do Esporte. Raone Arruda, Carlos Magno, João Leno, Swammy Santos, Cyrlania Souza e Allan Costa, foram os beneficiados.
Por apresentar um bom boxe, Arruda e Leno chamaram a atenção da Federação Amazonense de Boxe (FAB), por onde lutam atualmente. Da mesma forma, Swammy atraiu os olhares da Federação Paraense. “Ela foi através do namorado, que é também um atleta do Pará. O atual presidente gostou e pediu a transferência dela”, disse Cavalcante.
BOXE RORAIMENSE PARA OS RORAIMENSES – Em 2014, a FBER determinou que nenhum atleta de fora do Estado poderia se filiar à entidade. Um dos fatores que contribuíram para isso, segundo Helton Cavalcante e Angel Guevara, foi o cancelamento da Copa Norte de 2014, por falta de dinheiro, o que poderia fazer um atleta de fora denegrir a imagem da federação. A possibilidade de um atleta que não seja de Roraima lutar pelo Estado, e, ainda tirar uma Bolsa Atleta que seria destinada a um pugilista local, foi outro fato levado em conta.
Segundo o presidente da FBER, esta medida não vale para o pugilista James Dean Pereira, bronze nos Jogos Pan-americanos de 2003 e 2007, e filiado à entidade antes da nova regra, no ano passado. Por Roraima, Pereira foi ouro no Campeonato Brasileiro, em agosto passado. “Ele ganhou ouro representando Roraima, e então ele pode continuar (lutando pelo Estado)”, enfatizou Guevara.
HOJE -O boxe já é uma modalidade mais que consolidada no Estado. Entre os diversos projetos voltados para a modalidade, está o que a ARB desenvolve na Vila Olímpica Roberto Marinho, visando a formação de novos pugilistas. Atualmente, o projeto atende 15 atletas. “Esses 15 são os do ano passado. Nesse ano, a gente está esperando renovar, mas a gente está dando continuidade ao trabalho. Temos 15 garotos prontos para competição, e fora os das nossas academias”, declarouo presidente da ARB, Helton Cavalcante.
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