Crianças sem dinheiro para quimono lutam jiu-jítsu para vencer ansiedade

A luta principal para quem almeja alcançar o sonho, muitas vezes não é o adversário. Em ocasiões, a falta de dinheiro para comprar um quimono traz o desânimo. Mas, a garotada do Centro de Treinamento Kleyber Mota, do município de Caroebe, não se abala e vai aos treinos e embates da maneira que pode. Apesar das dificuldades financeiras geradas pela pandemia, as artes marciais não deixaram de ser uma válvula de escape para a socialização.

O mais novo local de prática de jiu-jítsu foi inaugurado em outubro, no município distante 120 quilômetros da capital Boa Vista. A cidade é conhecida pela forte exportação de banana, tendo Manaus como um de seus clientes.

Mas por ali faltava lazer e esporte. Agora são 30 alunos treinados e beneficiados, dos naipes masculinos e femininos, com idade entre nove e 45 anos. São iniciantes e a maioria de baixa renda. Jovens e adultos. São quatro noites de aulas por semana em um espaço cedido por um empresário local: segunda a quinta-feira, das 18h às 21h. As atividades são comandadas pelo psicopedagogo capixaba e faixa roxa de jiu-jítsu, o casca-grossa Lucas Frade.

O projeto conseguiu apoio do município com melhorias na estrutura e na compra dos materiais, além de todo suporte técnico do mestre de MMA e faixa preta da arte suave Kleyber Mota.

“Precisamos mostrar que essas crianças têm vontade, em um município tão pequeno e tão religioso. Eles querem buscar outras diretrizes, além do que é apresentado no município. Em Caroebe, tem pouca oferta de esporte. Eu estou me doando para tentar ajudar nesse sentido. Mas acredito que, com mais apoio, conseguiremos ajudar mais”, disse Frade.

Lucas Frade mora em Roraima há três anos, residiu em Uiramutã e há um ano mora em Caroebe. No município. exerce cargo de psicólogo e pedagogo, e é mestrando em Psicologia Escolar e Educacional 

“Trabalho em dois horários na área de Psicologia. No período da noite, eu dou o meu tempo para ajudar essas crianças, adolescentes e jovens, que poucas opções possuem. Ficam no joguinho do celular, atrás de boteco, cachaça e até drogas. E eu tive a oportunidade de abrir este espaço, fazer com que essas pessoas da sociedade do Caroebe possam enxergar os seus sonhos e desenvolver suas habilidades e construir suas carreiras profissionais”, disse.

Nascido em Cachoeiro do Itapemirim (ES), Lucas Frade montou um projeto com a Igreja Católica da Matriz Velha. Com o jiu-jítsu, vigorou oito anos e deu vários frutos. Agora, prossegue por Roraima tentado implantar o foi iniciado no Sudeste do País.

“O importante é fazer algo por mim e pelos outros também, temos que se doar, às vezes deixo de estar com a família e com a namorada, para ter esse momento com a sociedade, pois é a sociedade que me abraça e que me emprega. Nada mais justo do que dar uma retribuição a eles também”, disse Frade.

Os treinamentos são feitos na Rua Amazonas, no Centro de Caroebe.