Esporte

Empresa diverge do Governo e diz que sem recursos, obra não tem prazo para acabar

Embora não tenha confirmado, o gerente da Coema Paisagismo deixou a entender que parte dos recursos destinados ao Canarinho poderia ter sido aplicada em outros setores

Divergindo do que garantiu o Governo do Estado, de que a obra do estádio Flamarion Vasconcelos o “Canarinho” seria entregue em dezembro deste ano, o gerente da empresa, Coema Paisagismo, Aurélio Sella, responsável pela reforma do estádio, afirmou que não tem previsão da entrega da obra. Segundo afirmou, por falta de repasse de recursos da parte do Governo do Estado. O governo já havia anunciado que o estádio seria entregue em julho deste ano, o que não aconteceu.

 “Não tem previsão de entregar a obra”, disse. “Não tem recurso para tocar a obra e a reforma está praticamente parada, só tem alguns poucos trabalhadores que estão fazendo um andaime por outra empresa, mas que vai parar também até receber o dinheiro”, disse.

Sella falou que a obra está com aproximadamente 75% concluída e citou que a estrutura principal já está praticamente pronta, faltando apenas a colocação de cadeiras, forros, emborrachar a pista de atletismo e outros pequenos detalhes de acabamento.

“A obra foi orçada em 32 milhões e acho que ainda falta ser repassado uns 12 milhões e não lembro agora quando foi a última parcela que recebemos, mas este ano só repassaram uns 300 ou 400 mil”, disse. “Já cobramos o restante ao Governo diversas vezes, porque as coisas têm que andar juntas e corretas, do financeiro com a construção, sem dinheiro não temos como construir. Cobrando do Governo todo dia e eles dizem que não podem pagar, e não vamos gastar dinheiro e depois não poder receber”, frisou. “Temos muito dinheiro envolvido lá [na obra] e o financeiro não está acompanhando, então tem que dar uma segurada até receber”, afirmou.

Embora não tenha confirmado, o gerente deixou a entender que parte dos recursos destinados ao Canarinho poderia ter sido aplicada em outros setores.

“Sabemos que tem dinheiro do Governo Federal, mas, ao que parece, teria sido usado um pouco desse dinheiro para outras coisas e nós ficamos sem receber”, afirmou.

A reportagem conseguiu contato com o presidente da empresa, Eloi José dos Santos Júnior, que afirmou já ter feito uma série de questionamentos sobre a demora no repasse.

“Já fizemos uma série de questionamentos sobre isso [demora no repasse] na Seinf, e o pessoal de lá fica bravo quando questionamos, mas procurem o Gregório [secretário da Seinf] para ver o que ele responde”, disse.

Eloi informou que houve uma reunião nesta segunda-feira na Caixa Econômica, com a empresa e o Governo, mas se limitou a dizer que a Caixa é a responsável pela fiscalização da obra, junto com o Governo e o Ministério Público Federal.

“O secretário Gregório Almeida é quem deve dar as explicações”, disse. (R.R)

Seinf garante entrega para dezembro e Sefaz se cala sobre atraso de repasse para empresa  

O secretário estadual de Infraestrutura, Gregório de Almeida Júnior, voltou a afirmar que o Governo do Estado vai entregar a estádio Canarinho para os desportistas no dia 7 de dezembro deste ano, conforme previsão do cronograma. “A previsão final é para a obra ser entregue no dia 7 de dezembro deste ano e estamos trabalhando junto à Caixa para possibilitar a conclusão dessa reforma, que já vem sendo executada desde 2012”, disse.

Quanto ao atraso no repasse dos recursos para a empresa Coema Paisagismo, conforme afirmou o gerente Aurélio Sella, Gregório Júnior se esquivou e, embora estivesse cercado de assessores técnicos e engenheiros durante a entrevista, limitou-se a dizer que devido a estar assumindo recentemente a secretaria, iria buscar mais informações com a Sefaz (Secretaria Estadual da Fazenda).   

“Estou tomando posse agora e vamos buscar, junto à Sefaz, as informações para poder dar uma resposta mais precisa”, disse, ressaltando que dos R$ 30,3 milhões referentes ao contrato total, pouco mais de R$ 18,9 milhões já teriam sido repassados para a empresa Coema Paisagismo, faltando ainda ser repassado algo em torno de R$ 11,4 milhões.

A reportagem tentou por três dias, via e-mail e telefone, agendar entrevista com o responsável pela Sefaz, mas, até o fechamento desta edição, não houve retorno por parte da Secretaria de Comunicação (Secom) do Governo para esclarecer sobre o atraso no repasse para a empresa.  

Gregório informou que esteve reunido nesta segunda-feira com a Caixa Econômica, mas que no encontro foram tratados assuntos diversos e não especificamente sobre o Canarinho.

“Sempre fazemos um ponto de controle a cada quinze dias e discutimos sobre todas as obras que temos em parceria com a Caixa para tentar equacionar resolver os problemas e entraves”, disse.

Segundo Gregório, alguns fatores que prejudicaram o andamento da obra. Citou, entre eles, o fato de ser uma reforma e não uma construção nova e por isso precisou ser feito um reforço estrutural na parte física.

“Como é uma reforma, a obra precisou de ajustes e mudanças depois dos estudos feitos pela empresa e houve modificações e adequações, inclusive utilizamos metodologias mais modernas, eficientes e mais econômicas e isso gerou alterações no projeto original”, disse.

Segundo Júnior, inicialmente estavam previstos R$ 35,3 milhões, com as mudanças no projeto reduziu para R$ 30,3 milhões. “Estamos tentando equacionar alguns entraves para a liberação do restante dos recursos junto à Caixa, e estamos trabalhando para concluir dentro do prazo”, disse, informando que já foram repassados 63% do financeiro para a empresa.

Ele ressaltou que, do projeto inicial que custaria pouco mai de R$ 100 milhões em três etapas, só será executada a primeira etapa. “As outras duas etapas de arruamento, paisagismo e urbanização, que teria investimento de R$ 24 mi, e a terceira etapa, que seria construir outra arquibancada, o chamado espelhamento da atual, seriam gastos mais R$ 40 mi. “Estas etapas não existem mais, foi visto que não há a necessidade de execução e não haverá prejuízo a execução da obra da etapa atual e o estádio ficará com a capacidade para 5 mil pessoas”, disse. (R.R)
 
Inquérito continua tramitando no MPF

Há mais de seis anos que o Ministério Público Federal em Roraima (MPF/RR) abriu inquérito para acompanhar o andamento das obras do estádio Canarinho. Desde o início, o MPF/RR solicitou ao Governo do Estado, Caixa Econômica Federal e ao Ministério do Esporte esclarecimentos sobre o andamento das obras de reforma do estádio.

Em contato com a assessoria de comunicação do MPF/RR para saber do andamento do processo, formos informados que o procurador estaria de férias, mas que “o inquérito ainda está aberto e tramitando”, afirmou.

“A última movimentação deste ano foi um pedido do MPF para que o Governo apresentasse um plano de manutenção/gestão do estádio”, citou, porém não informou se houve atendimento do pedido.

ENTENDA – O MPF/RR instaurou inquérito civil público em 2010 para investigar irregularidades na aplicação de recursos para a reconstrução do estádio sob a justificativa de que o Estado iria abrigar uma subsede da copa de 2014.

Na ocasião, o MPF expediu recomendação ao Ministério do Esporte, Governo de Roraima e Caixa Econômica Federal para a suspensão do repasse de recursos federais no valor de R$ 257 milhões.

A recomendação foi acolhida pelo Ministério do Esporte e o repasse de recursos para a reconstrução do estádio de futebol foi cancelada. Pelo projeto atual, serão repassados pelo ME R$ 99 milhões para a reforma do complexo esportivo, o que trouxe uma economia de R$ 158 milhões aos cofres públicos.

A reforma do estádio Canarinho iniciou em 2010 e se arrastam há seis anos, tendo iniciada na gestão do ex-governador Anchieta Júnior, e na época do lançamento do projeto foi anunciado que custaria R$ 257 milhões. Depois de inquérito instaurado pelo Ministério Público Federal, o projeto foi redefinido para cerca de R$ 30,3 milhões.