CASO DE POLÍCIA

Jogador acusado de praticar xenofobia e racismo contra árbitro venezuelano negro é solto

Em decisão, juíza afirmou que o "mundo está mimizento". Atlético Roraima avalia se capitão será escalado para jogo contra o Monte Roraima

O jogador Lucas Camilo e o árbitro Daniel Alejandro (Fotos: Hélio Garcias/BV Esportes)
O jogador Lucas Camilo e o árbitro Daniel Alejandro (Fotos: Hélio Garcias/BV Esportes)

A juíza Joana Sarmento de Matos determinou a soltura do zagueiro Lucas Camilo, do Atlético Roraima. Ele foi preso acusado de ofender de forma xenofóbica e racista o árbitro venezuelano Daniel Alejandro.

Durante audiência de custódia, a magistrada atendeu os pedidos de soltura apresentados pelo Ministério Público e a defesa do acusado, os quais não entenderam o episódio como crime. Ela entendeu que “não há nas condutas em tese praticadas qualquer situação a atrair, ao meu sentir, tipicidade criminal”.

“Falar mal de árbitro e de juiz faz parte do jogo. Falam mal de mim a todo momento, mas não saio por aí procurando crime onde não existe. O direito penal é a ultima ratio e não a primeira ratio com foi utilizada nos autos. O mundo está muito ‘mimizento'”, destacou Joana Sarmento em decisão.

Agora, o capitão do Tricolor, de 25 anos, vai responder ao processo por injúria racial em liberdade. “Em regra, o processo não tem andamento, não dá seguimento, só se as partes quiserem e que têm competência pra isso – no caso, o Ministério Público e o próprio Daniel podem se manifestar e pedir punição e caberá ao Judiciário novamente apreciar essa situação”, esclareceu o advogado do jogador, Adriel Galvão.

O advogado do jogador Lucas Camilo, Adriel Galvão (Foto: Lucas Luckezie/FolhaBV)

Além disso, Lucas Camilo pode ser denunciado ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RR), caso a procuradoria formalize a denúncia, uma vez que o caso foi relatado em súmula pela arbitragem. “Estamos municiando todas as documentações pertinentes para que ele não sofra nenhuma punição e possa jogar e competir normalmente, porque não houve crime algum praticado pelo Lucas”, completou o advogado.

O presidente do Atlético Roraima, Denner Andrew, declarou que o clube ainda avalia legalmente se vai colocar o jogador à disposição para o duelo contra o Monte Roraima, nesse sábado (8), às 16h, no Canarinho, pela nona rodada do Campeonato Roraimense. Sétimo colocado com sete pontos, o time busca a primeira vitória na competição. “É um jogador disciplinado, não sei o que houve, ainda preciso entender o que houve para tomar uma decisão”, explicou o dirigente, que está hospitalizado.

Entenda o caso

O caso aconteceu na terça-feira (4) de Carnaval, no estádio Canarinho, em Boa Vista, durante a vitória do Rio Negro sobre o Roraima por 2 a 0, pela oitava rodada do Estadual. Camilo não jogou a partida porque cumpria suspensão automática por ter sido expulso no clássico com o Baré e viu o time perder da arquibancada.

Na súmula, o árbitro do jogo, Thiago Fontes, relatou que Daniel Alejandro, como quarto árbitro, começou a se sentir ofendido pelo jogador, que teria dito a ele: “filho da p…, volta para a Venezuela, porque lá que é o teu lugar”.

O zagueiro Lucas Camilo assistiu à partida entre Atlético Roraima 0 x 2 Rio Negro da arquibancada do Canarinho por estar suspenso (Foto: Hélio Garcias/BV Esportes)

O venezuelano identificou Lucas Camilo e o denunciou aos policiais militares da Companhia de Choque, que reforçavam a segurança da partida. O jogador foi encaminhado para a Central de Flagrantes da Polícia Civil.

Em depoimento, Daniel Alejandro reiterou as acusações e acrescentou que Lucas Camilo chegou a proferir ofensas racistas como “porra, negão”, bateu no peito e disse “fui eu que falei”. Negro, o jogador negou, corrigiu o denunciante ao lembrar que disse, na verdade, “vai apitar na várzea, vai apitar na Venezuela” e afirmou que não faria sentido injuriar alguém da mesma cor.

A juíza do caso disse, na audiência de custódia, que falar “porra, negão” nesse contexto, em tese, “não é injurioso”. “Até porque o suposto ofensor não é um albino e inclusive se identificou como negro”, enfatizou. “Falar que é para arbitrar na Venezuela ou ir para Venezuela não é típico [crime]”.

Perfil Lucas Luckezie
Lucas Luckezie Jornalista
Jornalista
Trabalha na Folha pela 2ª vez e já esteve na Câmara de Boa Vista, na afiliada local da TV Globo e colaborou com SporTV, Globo e CNN Brasil.
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