Cinco dos nove clubes locais apoiam a reeleição do presidente da Federação Roraimense de Futebol (FRF), Zeca Xaud, de 78 anos. Com 48 anos no poder, ele é o mandatário mais longevo do Brasil à frente de uma entidade esportiva e pode ser reeleito no pleito de janeiro de 2023. Portanto, ele poderá chegar a 52 anos no cargo.
Conforme apuração da Folha, Xaud tem o apoio de Náutico, São Raimundo, Progresso, Rio Negro e River. Por sua vez, a chapa encabeçada pelo presidente do Atlético Roraima, Denner Andrew (pré-candidato a presidente), e pelo vice-presidente do Baré, Oziel Araújo (pré-candidato a vice), é apoiada pelos próprios clubes da composição e o GAS (Grêmio Atlético Sampaio). O Real é o único que não teria voto definido.
Em conversa informal com a Folha, Zeca Xaud não revelou a data da eleição, mas avisou que “todo mundo vai saber” quando publicar o edital do pleito. É depois dessa divulgação que as chapas poderão ser oficializadas.
O estatuto da FRF, por sua vez, diz apenas que a assembleia geral se reúne ordinariamente no mês de janeiro, sem sugerir o dia. Comumente, o pleito e a posse são realizados no mesmo dia, a cada quatro anos, em 1º de janeiro.
Conhecido como dono do futebol de Roraima, Xaud confirmou seu nome no pleito “porque eles querem”, se referindo aos clubes, afirmou que a chapa concorrente está mentindo ao dizer que possui apoio e a acusou de “fazer política” só às vésperas da eleição. “Por que eles não trabalharam durante o ano?”, questiona.
Líder da chapa de oposição, Denner Andrew, 37, revelou estar numa “batalha dura” para vencer Xaud no voto. “Guerra muito acirrada. Nossa possibilidade é de 50% para ganhar e 50% para perder. É um desafio, uma estrutura que a gente não tem”, declarou.
Máquina xaudista
Desde 1974, Xaud tem a “máquina” da FRF a seu favor. E não pretende largá-la. Nesses anos todos, ele repete que não é sua a culpa para o futebol de Roraima ocupar as últimas posições, ao dizer que a entidade só organiza os campeonatos. Repete, também, que a federação é a única do mundo que ajuda os clubes, pagando taxas e diárias até dos gandulas nos torneios.
O presidente da FRF costuma também ajudar financeiramente alguns dirigentes que lhe solicitam, na maioria das vezes, sem critério algum. Não se sabe muito bem de onde vem esse dinheiro, uma vez que transparência não é o forte da entidade.
O último balanço anual da FRF foi divulgado em 2018 e mostra que, naquele ano, a instituição tinha receitas e despesas de R$ 1.718.324,01. Os maiores investimentos foram com despesas com pessoal (R$ 419,6 mil), com o Estadual profissional masculino (R$ 312,5 mil) e com a administração da FRF (R$ 253,2 mil). Por outro lado, os menores foram para o setor jurídico (R$ 29,4 mil) e o futebol feminino (R$ 20 mil). Confira o documento completo aqui.
Foi sob a gestão de Xaud que, em 1995, Roraima foi o último Estado a profissionalizar seu futebol. A FRF vai começar 2023 uma posição pior no ranking nacional de federações (24ª) – já esteve em último. Essa colocação muito se deve ao desempenho do maior clube local na atualidade, o São Raimundo, que iniciará o ano na melhor posição de um roraimense na história: 73º melhor do País e quarto melhor da região Norte.
Oposição
Primeira concorrente de Xaud em eleições desde 2008, a chapa de Denner e Oziel defende a melhoria do futebol roraimense, por meio da organização do calendário de competições, do apoio à estruturação igualitária das equipes, da gestão participativa em conjunto com os nove clubes filiados, bem como ampliar o diálogo com o Poder Público para fomentar o crescimento da modalidade.
Além disso, o grupo quer acabar com a reeleição, flexibilizar a profissionalização de clubes, construir uma sede para a FRF, lançar um site oficial e ampliar a transparência da gestão. A chapa fala em não retirar “o que é bom” da gestão xaudista, como a ajuda aos clubes para pagar despesas em competições, e promete afastar a preocupação de alguns dirigentes de que o futebol roraimense possa perder a influência que possa existir na CBF.
O que dizem os clubes
A Folha também ouviu os outros oito presidentes sobre a eleição. Luciano Araújo, o Zuza, do Baré, disse estar em sintonia com o filho Oziel na chapa com Denner. “A federação não tem uma sede própria, um telefone de contato. A gente aceita tantas coisas que acontecem, que muita gente não sabe. 47 anos? Pow, o cara tem que ter uma consciência de dar a vez para os outros”, disse, criticando dirigentes ajudados por Xaud e esclarecendo que não tem nada contra a pessoa do atual mandatário da FRF.
O presidente do GAS, Jander Cavalcante, resumiu que o clube “sempre foi a favor da mudança” ao apoiar a chapa de Denner e Oziel. “O único motivo que me levaria a apoiar o Zeca Xaud seria uma possível desistência dessa chapa”, explicou.
O presidente do Náutico, Adroir Bassorici, disse que deve votar em Xaud, mas indicou que poderia analisar a proposta da chapa concorrente, caso ela se torne oficial. “A gente precisa aguardar até o final para ver se mais chapas existirão”, disse.
O presidente do Progresso, José Tarquinio, declarou voto em Xaud por temer que o futebol piore ainda mais sem ele no poder. “O Zeca é um cara parceiro, acho que botar outro cara que não tem muito conhecimento, o negócio vai ficar pior. Por isso vou continuar com ele”, disse o dirigente, que é vereador de Mucajaí.
O mandatário do Real, Leomar da Silva, apenas disse que o clube não havia definido o voto. O presidente do Rio Negro, Robério Ayres, não justificou o voto, mas declarou apoio a Xaud.
Única presidente de clube mulher no futebol roraimense, Adelaide Marcolino Peixoto, do River, disse que não há outro nome melhor, em Boa Vista, para substituir Xaud. “Se o Zeca tiver só um voto, é do River”, afirmou. “Ele tá velho, daquele jeito, mas não tem ninguém para substituir”, declarou, defendendo que é preciso experiência e conhecimento do futebol para gerir a FRF.
O presidente do São Raimundo, Sérgio Caranguejo, disse ter definido o voto, mas que não o revelaria. No entanto, nos bastidores, o time declara apoio a Xaud.
*Por Lucas Luckezie