O ex-jogador Túlio Maravilha é uma das maiores lendas do futebol brasileiro. Autor de 1 mil gols, contestados pela imprensa nacional, o ídolo da torcida do Botafogo, de 46 anos, recebeu a Folha, em sua segunda passagem por Roraima, na semana passada.
Ele veio ao Estado para um amistoso beneficente da seleção brasileira de masters contra os veteranos do Atlético Roraima. O time venceu por 5 a 3, com dois gols de Túlio, que aumentou ainda mais sua conta e sua média de gols pela seleção master: em oito jogos, marcou 24 tentos, uma média de três por partida.
Em 2014, depois de ter alcançado os 1 mil gols, pelo Araxá (MG), time da segunda divisão mineira, Túlio encerrou sua carreira. Mas times como o Força Jovem Aquibadã (SE), da segunda divisão sergipana, tentaram “ressuscitá-lo” no futebol profissional.
Questionado acerca da chance de jogar em um clube de Roraima, Túlio respondeu positivamente. “Teria chance. Times de São Paulo, do interior do Rio, sempre me procuram, times menores, até mesmo lá de Goiás. Se de repente aparecer uma proposta que me encante, eu volto numa boa”, declarou.
Atualmente, o ex-jogador, que mora em sua terra natal, Goiânia, ganha a vida ministrando palestras motivacionais pelo Brasil, contando sobre sua obsessão de alcançar a marca de 1 mil gols. Ele lançará uma escolinha de futebol, em 2016.
“Fiz o meu ‘pé de meia’ tranquilo. Hoje, se eu pudesse ficar em casa, tranquilo, com o pezinho para cima, ficaria. Mas eu sou movimentado e gosto desse contato com o torcedor, de viajar. A gente está com a seleção brasileira de masters, viajando o Brasil todo, no Sul, no Norte, Nordeste, Sudeste, eu gosto de estar convivendo com essa rapaziada e conhecendo as poucas cidades que a gente não conhece no Brasil”, disse.
A agenda de Túlio é lotada. “Graças a Deus! Além das palestras, tem a seleção de masters, todo final de semana estamos viajando. Também faço campanhas publicitárias, volta e meia estou sempre aí na mídia, em programas de televisão. Então, praticamente, nos finais de semana, é raro eu ficar em casa”, destacou.
Em Roraima, Túlio fala sobre carreira, Botafogo e seleção brasileira
Ao longo dos 26 anos de carreira, Túlio Maravilha foi, como ele mesmo diz, hexa-artilheiro do futebol brasileiro: três vezes na Série A, duas vezes da Série C e uma vez da Série B. No total, são mais de 200 gols nas competições. “No meu DNA já estava escrito: ser artilheiro e artilheiro de mil gols”, disse o ex-jogador.
Com mais de 1 mil gols, como Pelé e Romário, Túlio diz estar com o dever cumprido. “Um legado que eu vou deixar para essa garotada, como os meus filhos, e dizer que o Túlio Maravilha fez história no futebol brasileiro, gols marcantes, títulos, uma marca história”, disse, acrescentando que torce por Neymar também alcançar o feito.
Sobre o fato de sua marca ser contestada, Túlio argumentou: “Se colocar na ponta do lápis só jogos oficiais, ninguém vai chegar (a essa conta). O Pelé teria 700, o Romário 700, eu também devo ter 700. Se não tiver os amistosos e aqueles jogos de pré-temporada, é humanamente impossível chegar (a essa marca)”, disse.
Entre os cerca de 30 clubes que defendeu, na obsessiva busca pelos 1 mil gols, está o Fast (AM), na Série C de 2006. Foi através do time que o ídolo botafoguense conheceu Roraima, onde jogou contra o São Raimundo (RR), pela terceira divisão.
“Eu fui muito bem recebido lá em Manaus, em Itacoatiara, onde fiquei uns três meses morando, aproveitando a culinária do Norte: muitos peixes, como Tambaqui, Jaraqui, Pirarucu, é uma gastronomia bastante eclética. Foi uma passagem muito legal (pelo Fast). Tive a oportunidade de conhecer a junção dos rios Negro e Solimões, então, essas coisas me deixaram marcado, pela grandeza que é o nosso País”.
BOTAFOGO – No dia 17 de dezembro, o último título nacional do time alvinegro, o Brasileirão, completará 20 anos. Nos últimos anos, o Botafogo não viveu um bom momento: entrou em crise, foi rebaixado para a Série B, em 2014. Mas, em 2015, foi campeão da segunda divisão e retornou à elite do futebol brasileiro.
Para Túlio, que ganhou o título mais importante de sua carreira com o Botafogo, em 1995, falta planejamento ao clube. “O Botafogo está sofrendo muito com a questão de dívidas trabalhistas, falta de planejamento, não tem uma política de ‘pés no chão’, e, agora, acho que, voltando para a Série A, eles têm de tudo para dar prioridade às divisões de base, revelar novos ídolos, e fazer um time bem eficiente e competitivo”, disse.
SELEÇÃO – Túlio não acha injusto o fato de não ter conquistado uma Copa do Mundo com a seleção brasileira, já que não vivia grande fase em 1994, por exemplo. “Se a Copa do Mundo fosse em 1995, com certeza, eu ia ser convocado, pois foi meu auge da carreira. Depois teve 1996, mas era ano de Olimpíada, já não tinha idade para jogar. Em 1998 eu não estava num bom momento. Em 2002, eu já estava quase no fim da carreira”, disse, destacando a concorrência com Romário, Ronaldo e Rivaldo na posição de atacante. “Se fosse hoje, eu ia ser titular absoluto, eu, Neymar e mais nove”.