Cotidiano

Cheia do Rio Branco avança e alaga avenidas e ruas no Centro e Calungá

Dezenas de famílias ficaram desalojadas depois que Rio Branco e Igarapé Caxangá transbordaram, no Centro

Com a água na altura da cintura e com o filho pequeno no colo, a dona de casa Mayrla Ambrósio, de 21 anos, tentava retirar, com a ajuda de parentes e de uma pequena canoa, os móveis que restaram em sua residência no cruzamento da Avenida Sebastião Diniz com a Rua Cerejo Cruz, no Centro de Boa Vista.

O local amanheceu completamente alagado com a cheia do Igarapé Caxangá, que deságua no Rio Branco, e deixou dezenas de famílias desalojadas na manhã desta quarta-feira, 05, também no bairro Calungá, na zona sul. “Faz quatro anos que moramos aqui. O rio vem enchendo desde a semana passada, mas não esperávamos que fosse ficar assim tão rápido. Agora só conseguimos atravessar de barco”, disse a dona de casa.

Em trechos das avenidas Sebastião Diniz e Getúlio Vargas, que dão acesso ao Centro, e nas ruas adjacentes José Danilo Rufino do Vale, Cerejo Cruz e Travessa Caxangá, no bairro Calungá, o transbordo do igarapé obrigou várias famílias a se retirarem de suas casas.

A toda hora, caminhões de mudanças e caminhonetes chegavam e saíam desses locais levando os pertences das famílias desalojadas. Enquanto esperava a mulher voltar com notícias sobre um novo lugar para morar, o comerciante Odilonei Araújo embalava os produtos do pequeno mercado tomado pela água na Avenida Sebastião Diniz e calculava os prejuízos. “Moro aqui há 20 anos e não esperava que houvesse outra cheia. Só com a mudança vou gastar pelo menos R$ 1 mil”, lamentou.

Pastor de uma igreja evangélica que fica na mesma área, o venezuelano naturalizado brasileiro Rafael Síquera estava relutante em deixar o local, mesmo com a cheia. “Até terça-feira estava tudo seco, foi muito de repente. Fui orientado a me retirar, mas não era algo que queria”.

 

Plataforma da Orla é interditada

A cheia quase histórica do Rio Branco, que na tarde de ontem chegou a 8,5 metros de altura, segundo a rede de estações convencionais e telemétricas da Agência Nacional de Águas (ANA), fez com que a Defesa Civil Municipal interditasse parte da Orla Taumanan para impedir trânsito de pessoas e evitar possíveis riscos com a cheia.

A plataforma inferior da Orla, que está quase submergindo com a cheia, foi fechada às 17h dessa quarta-feira. No início da semana, a própria Defesa Civil do município havia descartado a possibilidade de inundação no local e afirmou que a situação nem se comparava às enchentes ocorridas em 2011, quando ficou submersa. Ontem, porém, o volume de água já havia ultrapassado as pilastras da plataforma.

Famílias são retiradas de áreas de risco

Até o momento, mais de 50 famílias já foram retiradas de áreas de risco na área de interesse social Caetano Filho, conhecida como “Beiral”, no Centro. O trabalho de retirada de famílias atingidas pela enchente aconteceu durante todo o dia de ontem devido ao avanço das águas na região habitada.

Cerca de 20 técnicos da Defesa Civil e mais 10 bombeiros civis atuam na retirada das famílias. Muitas delas foram levadas até o abrigo no bairro Caimbé, na zona oeste, e outras, para casas de familiares e amigos.

A cheia do Rio Branco também atinge os moradores dos bairros Cauamé e Paraviana, na zona norte, onde algumas famílias já foram retiradas e outras estão preocupadas com a intensidade das chuvas e, consequentemente, a possibilidade de enchente.

No total, a Defesa Civil mantém mais de 200 famílias cadastradas para receberem atendimentos em caso de enchentes. A metade delas está localizada no Beiral. As demais se encontram em bairros como Calungá (zona sul), Paraviana, Cauamé (ambos na zona norte), Caranã e Nova Cidade (ambos na zona oeste). (L.G.C)