Cotidiano

Prédios públicos abandonados evidenciam desperdício de dinheiro

Secretarias, escolas e prédios comerciais estão sendo, a cada ano que passa, mais depreciados pelo total abandono

O abandono, a depreciação e a presença constante de usuários de drogas em alguns prédios históricos de Boa Vista evidenciam o descaso do poder público com o patrimônio. A equipe de reportagem da Folha esteve em alguns locais que já abrigaram escolas e secretarias, e constatou que nem as recomendações feitas à atual gestão estadual pelo Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), em abril do ano passado, foram atendidas.

Um dos prédios em questão é o antigo edifício da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), localizado na Avenida Capitão Ene Garcez, no Centro. O prédio que já pertenceu à extinta Guarda Territorial de Roraima e ao 6º Batalhão de Engenharia e Construção (6º BEC), hoje tem inúmeras janelas, portas e telhas quebradas, além da deterioração da pintura e acabamento. Em outubro de 2015, o Governo do Estado chegou a anunciar que o prédio iria abrigar o Museu da Segurança Pública de Roraima. Contudo, nada foi feito até o momento.

Ali perto, na mesma avenida, o edifício da Secretaria Estadual de Educação e Desportos (Seed), localizado atrás do Palácio Senador Hélio Campos, sede do Governo do Estado, no Centro Cívico, está abandonado há mais de cinco anos. Os problemas no prédio são vistos no teto que está despencando, em rachaduras nas paredes e na fiação elétrica que está comprometida. Também em 2015, a gestão estadual garantiu que a reforma geral estava prevista para ser realizada ainda naquele ano.

A antiga sede da Secretaria Estadual de Gestão Estratégica e Administração (Segad), localizada na Rua Major Manoel Correia, no bairro São Francisco, é outro resultado do descuido. No local, abandonado há mais de quatro anos, é possível encontrar vários preservativos usados e vestígios da presença de usuários de drogas. Além das janelas, portas e telhas danificadas, o prédio está sendo tomado pelo mato e por fungos nas paredes.

O abandono também atingiu as escolas estaduais Diomedes Souto Maior, no Centro, e 31 de Março, na zona Norte. Há mais de 10 anos, a Escola Diomedes serve de abrigo para moradores de rua e usuários de droga. Tomada por lixo e mato, a estrutura não possui mais a fiação elétrica, forro e portas. No local, a equipe de reportagem conseguiu flagrar um morador de rua utilizando um dos corredores para dormir.

Desativada desde junho de 2015, a Escola 31 de Março também foi esquecida pelo poder público. O motivo dado para a desativação à época foi a falta de clientela da escola. Dois anos depois, o prédio já apresenta janelas quebradas e o acúmulo de mato e sujeira. Em períodos de chuva, o terreno é considerado como um risco aos moradores da região.

No mesmo bairro, o prédio do Boa Vista Shopping é outro exemplo de abandono. Após a desocupação dos lojistas, no final de 2015, o local foi inicialmente destinado para ser a nova sede da Segad, o que não se confirmou, e só no final de 2016 foi designado à Secretaria Estadual do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes) para ser a Casa do Trabalhador. Com o descaso, o prédio é constantemente utilizado por moradores de rua.

Na parte interna do prédio, a equipe da Folha constatou vidraças quebradas, fiação em decomposição, lixo espalhado, latas utilizadas para uso de drogas e uma TV quebrada no chão. Na parte externa, o mato e o lixo jogado vão construindo um cenário lamentável diante do que já existiu ali. Grandes ripas de madeira e pedaços de papelão, possivelmente utilizados para dormir, também foram vistos no local.

OUTRO LADO – Sobre os prédios públicos, a Secretaria de Gestão Estratégica e Administração (Segad) informou que o abandono por administrações anteriores demanda alto investimento nas reformas e adaptações, e que o Governo do Estado busca recursos para promover a recuperação e ativação dos edifícios. Conforme a Segad, a prioridade do Governo no momento é a manutenção e revitalização dos prédios públicos que estão funcionando e que atendem ao público em geral, como escolas e unidades de saúde, tendo em vista que são serviços públicos mais próximos da população.

A reportagem solicitou ainda informações sobre o tempo de desocupação dos prédios, instalação dos servidores e quanto é gasto pelo Governo do Estado com aluguel de imóveis que comportem as secretarias sem sede própria, mas não obteve resposta. (A.G.G)

Reforma de DPs impossibilitou leilão do Conjunto dos Executivos

O antigo Conjunto dos Executivos, que atualmente abriga a Cidade da Polícia Civil, situado na Avenida Getúlio Vargas, no bairro Canarinho, zona Leste, também se tornou alvo do descaso público. Apesar de ter sido adaptado para ser a Cidade da Polícia Civil, a fim de agilizar a prestação de serviços de várias delegacias, o local é sujo e está descuidado. Algumas casas, ainda em desuso, estão com as estruturas físicas totalmente comprometidas.

No primeiro momento, o local iria abrigar os departamentos de Polícia da Capital (DPJC), do Interior (DPJI), Especializada (DPE), de Operações Especiais (Dopes), de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), de Narcóticos (Denarc), Corregedoria Geral de Polícia, Diretoria de Administração (DA), o Núcleo de Inteligência do Denarc, a Divisão de Repressão a Entorpecentes (DRE) e o 1º Distrito Policial.

Contudo, apenas quatro casas estão sendo utilizadas pelo Governo do Estado com os departamentos da Delegacia Geral, de Narcóticos, de Polícia Judiciária do Interior e da capital, 1º DP, Departamento de Polícia do Meio Ambiente e Departamento de Armas, Munições e Explosivos.

Um leilão do antigo Conjunto dos Executivos chegou a ser anunciado em 2014, mas até o momento não aconteceu. Segundo a Segad, o local abriga a administração e alguns distritos da Polícia Civil, cujos prédios estão em reforma e, por esse motivo, o leilão ainda não ocorreu. (A.G.G)
 
Prédios abandonados valem menos a cada ano que passa
 
Durante a visita da Folha em alguns dos edifícios públicos abandonadas em Boa Vista, a equipe contou com a presença de um corretor de imóveis do Estado para saber quanto pode custar, em média, cada prédio. Apesar de serem necessárias medições e estudos específicos para cada caso, o corretor pôde averiguar a situação dos prédios localizados no Centro da capital, como é o caso das Secretarias de Educação, de Administração e de Segurança Pública.

Em relação à estrutura da Segad, o profissional estimou o valor de R$ 5 milhões. Na Secretaria de Segurança Pública, a média subiu para R$7 milhões. No entanto, ele pontuou que uma reforma no local custaria menos da metade do valor. A antiga Secretaria de Educação teve a maior estimativa, avaliada em quase R$10 milhões, levando em consideração o tamanho do terreno.

O corretor ressaltou que, pela falta dos dados necessários, os valores poderiam subir consideravelmente. Além disso, ele destacou que qualquer empresário de terrenos urbanos compraria os prédios pela localização. Por fim, ele disse que a cada ano que passa os edifícios passam a valer menos. (A.G.G)