Recentemente, um caso de infidelidade dentro de um cinema em Roraima viralizou na internet. Uma mulher encontrou o namorado acompanhado de outra durante uma sessão. Pode não parecer, mas o caso é mais comum do que se parece.
Em primeiro lugar no ranking de infidelidade da América Latina, o Brasil é o país com mais casos de relações extraconjugais. De acordo com a pesquisa “Radiografia da Infidelidade e Infiéis no Brasil”,
. Izabella Melo, professora de psicologia do CEUB, explica os fatores que influenciam a infidelidade e aponta o papel da terapia na reconstrução de laços afetivos.
Por que ocorre a traição?
Segundo ela, existem três conjuntos de razões que podem levar uma pessoa a ser infiel em um relacionamento. (1) Fatores relacionais: referem-se à dinâmica específica do casal e às interações estabelecidas entre os parceiros. Contratos, combinados, regras e limites criados ao longo da relação influenciam diretamente na fidelidade. Insatisfação conjugal, críticas constantes, desdém, atitudes defensivas e a falta de comunicação são comportamentos que podem minar a satisfação dentro do relacionamento, contribuindo para a infidelidade.
(2) Já os Fatores intrapsíquicos: são internos e individuais, relacionados ao histórico pessoal e psicológico de cada pessoa. A teoria do apego de John Bowlby, por exemplo, sugere que a maneira como fomos cuidados na infância influencia nossas relações adultas. Estilos de apego seguro ou inseguro impactam a percepção e comportamento em relacionamentos. Autoestima baixa e questões transgeracionais, ou seja, valores e dinâmicas familiares passadas, também podem predispor uma pessoa à infidelidade.
(3) Por fim, os Fatores situacionais: são aspectos contextuais e circunstanciais que envolvem o casal, como estresse, sobrecarga com filhos, isolamento e a liberdade sexual contemporânea, influenciam a propensão à infidelidade. A disponibilidade de redes sociais e aplicativos de encontros facilita contatos extraconjugais, sendo fatores situacionais importantes.
A forma como cada pessoa é afetada varia muito, dependendo dos fatores relacionais, intrapsíquicos e situacionais. “A pessoa traída pode experimentar sentimentos de questionamento sobre si mesma, seu valor, confusão, insegurança, raiva, ansiedade, tristeza e vergonha. Já quem cometeu a traição enfrenta a reação emocional intensa do parceiro traído e possíveis consequências sociais. Ambos devem decidir sobre a reconstrução ou término da relação com base em seus valores e crenças” explica a psicóloga.
Qual é o papel da terapia no processo de reconstrução de relacionamento pós-infidelidade?
O objetivo da terapia é alcançar um estado de bem-estar para os envolvidos. A terapia acolhe os sentimentos de ambos, oferecendo um espaço para diálogo e reflexão sobre a continuidade ou término da relação. É importante que o terapeuta não julgue ou critique, validando os sentimentos dos pacientes e ajudando a encontrar caminhos adequados para o casal. A terapia busca sempre a segurança e bem-estar dos envolvidos, evitando a continuidade da relação em casos de violência ou incompatibilidade de valores.
Para a psicóloga, lidar com os sentimentos intensos de insegurança, ciúmes, tristeza e decepção fazem do processo muito dificil. “ A pessoa traída precisa expressar seus sentimentos de forma não acusatória, enquanto a pessoa que traiu deve reconhecer a quebra de confiança e trabalhar para reconquistá-la. O casal deve encontrar formas de fortalecer a comunicação e promover experiências positivas para melhorar a reconexão”
Tratamento terapeutico para casais
O tratamento geralmente começa com o acolhimento e a validação dos sentimentos dos envolvidos. Depois, são estabelecidos objetivos terapêuticos, seja para reconstrução da relação ou um término amigável. As sessões devem possibilitar diálogos para que ambos expressem seus sentimentos e trabalhem formas de lidar com eles. Experiências positivas e a melhoria da comunicação são incentivadas ao longo do processo terapêutico.
“A neurociência pode contribuir ao fornecer uma compreensão mais profunda sobre os mecanismos cerebrais envolvidos na regulação emocional, comportamental e na formação de vínculos afetivos. Conhecer esses processos pode ajudar terapeutas a desenvolver intervenções mais eficazes para melhorar a comunicação e a gestão emocional dos casais” complementa.
Como mudar?
“Para mudar, é necessário melhorar a comunicação, estabelecer novas regras e limites, promover a reconexão emocional e física, e trabalhar na construção de confiança mútua. É essencial que o casal discuta e renove continuamente seus combinados sobre fidelidade, garantindo que ambos estejam comprometidos em manter esses novos acordos” complementa a especialista.