Cotidiano

Cáritas: Corte de repasses dos EUA paralisa refeições e acesso a água para migrantes

Instituição lançou campanha espontânea de arrecadação de fundos para retomar programas de segurança alimentar e de acesso à água para migrantes venezuelanos

Representantes da Cáritas Brasileiras concedem entrevista coletiva para falar de impactos das decisões de Trump para a instituição (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)
Representantes da Cáritas Brasileiras concedem entrevista coletiva para falar de impactos das decisões de Trump para a instituição (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

A Cáritas Brasileira anunciou a suspensão de dois de seus principais projetos de assistência humanitária e suporte à população migrante venezuelana em Roraima: Sumaúma e Orinoco, focados, respectivamente, em garantir segurança alimentar e nutricional, e promover acesso à água, saneamento e higiene.

O anúncio ocorre após a ausência de novos apoios financeiros dos Estados Unidos, oriundos das últimas decisões do presidente norte-americano Donald Trump de congelar quase toda a assistência para programas no exterior.

De acordo com a assessora nacional da Cáritas Brasileira, Vanessa Ayres, a interrupção desses atendimentos pode causar impactos significativos em Roraima.

“Essas pessoas não vão estar mais sendo atendidas por esses dois projetos, tanto brasileiros como migrantes. Então, vamos sobrecarregar outros atendimentos, tanto pelo poder público como por outras organizações da sociedade civil. A gente pede a todas as pessoas que possam doar qualquer quantidade nos nossos canais de doação e também pensar em políticas públicas para mitigar isso, mas principalmente de forma digna”, afirmou durante coletiva de imprensa.

Além disso, Vanessa reforça que os dois projetos foram desenvolvidos com foco na sustentabilidade ambiental, evitando a geração excessiva de resíduos sólidos.

Vanessa Ayres, assessora nacional da Cáritas Brasileira (Foto: Wenderson Cabral/Folha BV)

“O projeto Sumaúma não gera grandes quantidades de lixo. A comida é preparada e servida em forma de bandejão, sem uso de materiais descartáveis, como pratos, garfos e copos”, explicou.

Os custos mensais do Projeto Sumaúma giram em torno de R$ 800 mil, considerando encargos trabalhistas, compra de alimentos e manutenção das atividades. Além da alimentação, o programa também fornecia assistência médica, cadeiras de rodas e outros serviços essenciais para migrantes e pessoas em situação de rua.

A paralisação dos projetos resultou na demissão de aproximadamente 100 funcionários, incluindo brasileiros e migrantes que atuavam no atendimento.

O projeto Sumaúma, que antes era integrado a ação “Mexendo a panela”, existe desde 2022 e já serviu mais de 1 milhão de refeições a pessoas em situação de vulnerabilidade em Roraima. A coordenadora local do Projeto Sumaúma, Áurea Cruz, enfatiza a importância da ação em parceria com a Cáritas.

“Costumo dizer que a comida que preparamos aqui não é só uma comida, ela vai muito além, ela tem respeito pelas pessoas, carinho, tem dignidade, tem haver com o lado humano das pessoas e o acolhimento. Além disso, tem um espaço dedicado exclusivamente as mães lactantes, onde elas podem amamentar suas crianças até completarem seus seis meses de vida e a partir daí elas tem a introdução alimentar com a sopa, dentro do projeto em combate à fome no Brasil”, diz Áurea.

Coordenadora local do Projeto Sumaúma, Áurea Cruz (Foto: Wenderson Cabral/Folha BV)

Campanha de arrecadação

Com a falta de repasse de seu principal financiador, a Cáritas Brasileira lançou uma campanha espontânea de arrecadação de fundos no Brasil e no exterior, para retomar “o desenvolvimento desses programas essenciais”.

Segundo o assessor nacional da instituição, Well Leal, o Orinoco já havia sido suspenso temporariamente, mas conseguiu manter suas atividades até a última sexta-feira (14), com doações. No entanto, os recursos acabaram, resultando em uma nova interrupção dos serviços.

Assessor nacional da Cáritas Brasileira, Well Leal (Foto: Wenderson Cabral/Folha BV)

“A gente passou por um primeiro momento de informe do governo norte-americano para a suspensão de três meses de um dos nossos projetos, inicialmente do Orinoco, de água e higiene, onde atualmente atua com pessoas em situação de vulnerabilidade, em sua grande maioria migrantes. O outro projeto, que serve 1.200 refeições todos os dias na rodoviária internacional de Roraima, também foi paralisado nesta segunda-feira (17), porque estamos sem contato com o governo dos Estados Unidos, esse projeto em específico não recebeu nenhuma ordem de suspensão, então, teoricamente ele deveria estar funcionando, só que nós paramos de ter contato com o governo e com a agência Usaid (Departamento de Estado e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), que não repassou as informações para que a gente possa continuar com o funcionamento”, diz Leal.

A Cáritas Brasileira disse ainda que mantém um diálogo com entes públicos, como as prefeituras de Boa Vista e Pacaraima, e os governos estadual e federal, além de órgãos internacionais, em busca de financiamento para continuar sua atuação.

“A gente recebe muita doação de pessoas cristãs, sobretudo da Igreja Católica, que sempre ajudou a garantir o funcionamento da Cáritas. Mas estamos ampliando essa campanha para todo o Brasil e mundo”, afirmou o assessor.

Doações

A Cáritas Brasileira informou em seus canais de mídia, que as doações podem ser feitas por meio do pix [email protected] ou através de transferência bancária na conta do  Banco do Brasil, agência: 0452-9 e conta corrente: 53.377-7. Doações internacionais através do IBAN: BR1600000000004520000533777C1 |  Swift: BRASBRRJSBO.

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