O delegado João Evangelista, que chefia as investigações do Caso Jânio e Flávia, afirmou nesta segunda-feira (8) que não houve interferência por parte de autoridades do Estado na apuração do assassinato motivado pela disputa de uma área de 167 campos de futebol, no Município de Cantá. Jânio Bonfim de Souza, 57, e Flavia Guilarducci, 50, foram assassinados em 23 de abril.
Em depoimento no dia 27 de maio, o capitão da Polícia Militar, Helton Jhon da Silva de Souza, 48, citou a possível interferência na apuração por parte do governador Antonio Denarium (Progressistas), do comandante-geral da PM, coronel Miramilton Goiano de Souza, e da delegada-geral da Polícia Civil, Darlinda Moura. Os três negam essa acusação.
“Estou afirmando que não houve interferência alguma nas investigações. Muito pelo contrário, as investigações foram com total fomento da Delegacia-Geral, da Secretaria de Segurança e do próprio Governo”, disse João Evangelista em entrevista coletiva na Cidade da Polícia Civil para tratar sobre o resultado da conclusão do inquérito que indiciou, por envolvimento no homicídio qualificado, o empresário Caio de Medeiros Porto (foragido), Helton John (preso), Jhonny de Almeida Rodrigues (em prisão domiciliar) e Deivys Jesus Mundarains Vegas (foragido), que é funcionário de Caio.
Ao lado de Evangelista, Darlinda Moura voltou a negar seu envolvimento com o caso e defendeu o governador. “Até o presente momento, ele nunca, em momento algum, em qualquer momento das investigações, ele pediu ou interferiu nas investigações. Eu afirmo e reafirmo que nunca me foi pedido nada em relação ao Caso Surrão ou qualquer outro caso que a Polícia Civil investigue”, declarou.
“A Polícia Civil continuará a fazer o trabalho dela através de provas, não é ilação, fofoca, fomento, cortina de fumaça, qualquer tipo de informação enviesada que venha pra gente que a gente não vai apurar. A gente vai apurar pra ver se há provas, pelo menos indícios de que os fatos aconteceram”, completou a delegada-geral.
Novas apurações
Uma vez concluído o inquérito, Evangelista afirmou que depende de ordem da Justiça de Roraima para apurar o envolvimento de autoridades, como o governador, que tem foro privilegiado, e até mesmo a possível participação de Genivaldo Lopes Viana, 53, e Luiz Lucas Raposo da Silva, 35, cujas prisões preventivas foram convertidas em medidas cautelares. “A investigação também aponta que podemos ter outras pessoas envolvidas direta ou indiretamente”, diz o delegado. “Se há um mandante ou mais alguém envolvido, será apreciação futura se, porventura, o Tribunal de Justiça determinar assim”.
“Eventuais outras diligências que digam respeito a pessoas com prerrogativa de função, nós sequer podemos fazer pesquisas. A gente precisa aguardar uma determinação do Tribunal de Justiça, caso haja um desmembramento, uma determinação para que continuemos nessa outra fase, aí poderemos fazer pesquisas, análises e confirmar ou não se há alguma outra conduta a ser apreciada”, explicou.
Depoimento ‘inusitado’
O delegado enfatizou que o capitão da PM se recusou inicialmente a falar à Polícia Civil sobre a arma e o carro usados no crime, bem como do áudio que registrou o assassinato e das notícias veiculadas na imprensa. Ele classificou como “inusitado” o depoimento prestado no final de junho.
“Um dos investigados [Helton John] resolveu estender informações até então desconhecidas de suposto envolvimento ou atrelar aos fatos a terceiras pessoas que, sequer tinham sido citadas, como, por exemplo, o governador e o comandante da Polícia Militar. Se me perguntar se eles têm relação com o crime, digo que não, não tem relação com o crime. Isso é um fato. Agora, o que pode surgir depois, preciso aguardar a decisão do Tribunal de Justiça. O que é outro fato: temos total liberdade de atuação e investigação”, pontuou. “Acredito que parte do que ele [Helton John] falou, não procede, mas precisamos aguardar oportunamente para diligenciar mais”, completou João Evangelista.
Empresário não tem interesse de se entregar, diz delegado
João Evangelista afirmou que Caio Porto não demonstra interesse de se entregar à polícia. “O fato aconteceu no dia 23 de abril de 2024. Hoje é dia 8 de julho. Esse período todo, Caio de Medeiros Porto se encontra foragido. Se você perguntar pra mim se há o interesse de Caio se apresentar? É óbvio que não. Se não, ele já tinha se apresentado”, declarou o delegado, que aproveitou ainda para negar que vazou conteúdos sigilosos da investigação, como tem alegado a defesa do suspeito.