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De venda de bolos a restaurante próprio: cozinheira desde os 14 anos compartilha história de vida

Deyziane Franco começou na culinária como ambulante pelas ruas de Manaus e, hoje, é dona do próprio restaurante de comida regional

A cozinheira compartilhou sua trajetória com a FolhaBV (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
A cozinheira compartilhou sua trajetória com a FolhaBV (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Com apenas R$ 50, doados por uma amiga, Deyziane Franco iniciou um negócio de venda de bolos pelo centro comercial Caxambú, em Boa Vista. Hoje, 11 anos depois, a ‘Nega Loka’, como é conhecida pelos clientes, é dona do próprio restaurante de comida regional, localizado em frente a um dos principais pontos turísticos da cidade.

A paixão pela culinária nortista não é recente. Na verdade, devido à origem humilde e à necessidade de trabalhar desde nova para ajudar em casa, a filha mais velha entre cinco irmãos começou na gastronomia ajudando uma senhora ambulante, que vendia diversos pratos da cultura local pelos eventos de Manaus, capital do Amazonas.

“Ela era do Pará e me ensinou tudo sobre a culinária paraense. Eu aprendi muita coisa e como ter amor pela profissão. Quando você vem de uma família muito pobre, trabalhar com comida é um sonho. Aqui, no meu restaurante, a gente busca valorizar o que é da nossa cultura do Norte, com damurida, paçoca e caldo de peixe. Os turistas que vêm aqui adoram, mas a própria população local também”, disse.

Dificuldades enfrentadas

Desde 2011, a cozinheira de 36 anos viu no estado um lugar com oportunidades para crescer no ramo. Ela iniciou como ambulante na venda de bolos, após enfrentar dificuldades para sustentar os cinco filhos sozinha.

“Às vezes, é muito difícil para uma mulher, mãe de cinco crianças, passando por diversas situações, conseguir um emprego. Eu não tinha nada, nenhuma perspectiva de vida. Quando a minha amiga me deu os R$ 50, eu estava em estado depressivo por não conseguir dinheiro. Ela me ajudou muito anunciando meus bolos para todo mundo comprar. Ver as pessoas me procurando depois, porque gostaram e me incentivando a crescer, me motivou demais a continuar. Me reinventei”, contou.

Foto: Nilzete Franco/FolhaBV

A empresária afirmou que não foi um processo fácil. Depois dos doces, passou a investir mais na culinária local como vendedora ambulante em eventos públicos na capital. Ela também iniciou um sistema de entregas de comida por delivery até, por fim, abrir o próprio restaurante há cerca de um mês.

“Eu levava minha barraca em cima da bicicleta do bairro São Bento até o Centro, onde acontecem os arraiais, por exemplo. Já aconteceu de chover após um desses eventos e eu ter que voltar para casa a pé, às 23h, empurrando a bicicleta embaixo de chuva. Foi um processo doloroso para chegar até aqui, ficaram muitas cicatrizes”, afirmou.

Empreendedorismo feminino

Foto: Nilzete Franco/FolhaBV

Quanto ao apelido “Nega Loka”, Deyziane explicou que surgiu como ideia dos próprios clientes, devido ao jeito como a empreendedora abordava eles. No final, ela viu como uma oportunidade para impulsionar o marketing do restaurante.

“Na verdade, o nome era ‘Nega Doce’, porque a gente trabalhava com doces. Porém, eu e minha irmã, que me ajudava na época, sempre fomos meio doidinhas e o nosso jeito irreverente de abordar os clientes sempre chamou a atenção deles. Um cliente até falou que a gente deveria trocar o nome para ‘Nega Loka’ e acabou pegando. Também é um jeito engraçado de não deixar esquecerem o meu negócio”, comentou.

A cozinheira enfatiza que contou com a ajuda de várias pessoas para consolidar o próprio negócio, mas principalmente de mulheres, como a amiga que investiu nela, a irmã, que a ajudou no início das vendas, e outras que a incentivaram.

“Eu estava rodeada de mulheres empreendedoras, que abraçavam a causa de outras mulheres. Sem elas saberem, acabaram gerando uma cadeia de apoio. Às vezes, a gente tem que engolir o choro e bola para frente. Mas elas sempre diziam ‘no começo é assim mesmo’, ‘tô contigo’, ‘não desiste’ ou ‘é só uma fase”, relembrou.

Deyziane afirmou que, para dar conta de tudo e ainda ser presente para os cinco filhos e um marido, é necessário organização de tempo, estudo constante, fé em si mesma e coragem para correr riscos no negócio.

“A regra é não desistir. Tudo que acontece ao nosso redor é uma escola, temos que aprender com nossos erros. Toda mulher tem que ser louca, às vezes, para conseguir dar conta de tudo e dos pesos que já nascem com ela. Tem que dar uma de louca e se impor quando tentam te diminuir”, finalizou.