Todo ano a população de Mucajaí se reúne para a encenação da Paixão de Cristo, a fim de representar o conto religioso da maneira mais emocionante possível. Neste ano, o evento celebra a 40ª edição sendo encenada por famílias que repassam de geração em geração a tradição de participar do espetáculo.
Esse é o caso da família de Estevam dos Santos, que participa da encenação desde os cinco anos e reuniu cerca de 15 familiares para fazerem parte da tradição mucajaiense. Como ele afirma, “não tem como separar a família Santos da Paixão de Cristo”.
“Já é uma coisa de família. Meu pai foi um dos criadores da peça e a cidade cenográfica em que acontece o espetáculo leva o nome dele. São 32 anos que participo da encenação, já interpretei diversos personagens e fui diretor. É algo inexplicável, é o período do ano mais importante para nós. Esposa, filhos, mãe, irmãos e sobrinhos vêm para Mucajaí e de fato vivem a Paixão de Cristo”, contou.
O coronel do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima interpreta Pôncio Pilatos, conhecido por ter sido o juiz que não interveio contra os fariseus na condenação de Jesus Cristo a morrer na cruz. No dia, ao lado dele, estará Fabiana Zimmermann, intérprete de Santa Cláudia. Ambos são um casal na peça e na vida real.
“Meus filhos participam da encenação desde crianças também, então eu participava como povão para acompanhar eles. Minha cunhada fazia a Cláudia e não pôde vir neste ano, então eu assumi o lugar dela. É uma coisa nova, mas me dá menos frio na barriga, porque só interajo com Pilatos, que é o meu esposo”, disse a médica.
Estevam reflete a evolução da peça ao longo dos anos. Segundo ele e a esposa, o espetáculo evoluiu junto com o município. Além disso, o bombeiro ressalta a importância do evento para os moradores de Mucajaí.
“Eu acompanhei tudo isso, a peça evoluiu muito. Já fizemos em praça, no cenário antigo e até em cima de um tablado improvisado em campo de futebol. Isso faz parte da história de Mucajaí, temos que valorizar mais”, comentou.
A encenação da Paixão de Cristo também faz parte da história de Miriam Di Manso. A delegada da Polícia Civil se apresenta desde a primeira edição, há 40 anos. Assim como Estevam, ela teve diversos papéis ao longo dos anos e, por quase uma década, foi uma das dançarinas.
“Há 17 anos interpreto Herodíade, o papel que eu desejava muito na infância e considerava o ápice na peça. O espetáculo acaba se tornando parte da nossa história de verdade, é um sentimento de pertencimento. Minha mãe também participava e sempre nos incentivou. Comecei ainda criança com os meus irmãos e agora meus cinco sobrinhos também participam”, afirmou.
A delegada da Polícia Civil disse que se envolver na encenação é também uma forma de fugir do estresse do trabalho e do cotidiano. “Esse evento me inspira e emociona. É o momento que eu tenho de ficar com a minha família e amigos de infância, que só reencontro em Mucajaí para a Paixão de Cristo”, finalizou.
40 anos de tradição
A 40º edição da encenação da Paixão de Cristo de Mucajaí contará com alguns diferenciais, entre eles o acréscimo de uma cena inédita no espetáculo. A informação foi revelada por Harllesson Bibiano, diretor do espetáculo, que reúne 225 atores, a maioria mucajaiense. Conforme ele, estima-se um púbico de 15 mil pessoas para assistir à apresentação.
“É difícil trazer algo novo todos os anos, mas neste será especial. Conseguimos adicionar uma nova parte importante sem prejudicar o tempo da peça, vamos resgatar outra cena histórica e teremos alguns espetáculos pirotécnicos. Será um evento muito emocionante”, compartilhou o diretor, que também já participou da peça como ator.
Conforme ele, são cerca de 600 pessoas envolvidas na peça como atores ou parte dos bastidores, sejam costureiras, montadores do cenário ou equipe de mídia. Para fazer o evento, foi necessário iniciar a organização ainda em janeiro, a fim de selecionar os intérpretes, fazer a coreografia e as roupas. Já os ensaios iniciaram há cinco semanas e, nesse sábado (23), a FolhaBV acompanhou o primeiro ensaio geral com todos os atores locais.
Na encenação, o ator Eriberto Leão vai interpretar Jesus Cristo e, assim como no último ano, Judas será representado por Felipe Gomes. O artista de 20 anos afirmou que é necessária uma preparação física e mental para fazer o personagem.
“É uma figura intensa, né? Eu costumo trabalhar com peças infantis, então essa atuação mais adulta é um desafio imenso. Participar de uma peça tão antiga é uma responsabilidade enorme, mas todos os atores estão preparados para isso”, pontuou.