CASO BRASKEM

Entenda como as minas de sal-gema podem afetar o meio ambiente

Estima-se que mais de 200 mil pessoas tenham sido afetadas pelo desastre, que levou ao encerramento da extração na área.

Mina afundou cerca de 1,7m deste terça-feira - Reprodução?internet
Mina afundou cerca de 1,7m deste terça-feira - Reprodução?internet

Na última quinta-feira (30), a Defesa Civil de Maceió emitiu um alerta preocupante sobre a possível iminência de colapso em uma mina de sal-gema da Braskem, localizada no bairro do Mutange. As autoridades desocuparam a área e orientaram a população a evitar transitar na região, destacando o risco iminente.

A mina em questão, a mina 18, situa-se nas proximidades da Lagoa Mundaú, e um eventual desabamento poderia resultar na formação de grandes crateras, com potencial efeito cascata em minas vizinhas. O temor é fundamentado em eventos passados, como o ocorrido em março de 2018, quando um tremor de terra desencadeou o afundamento do solo em cinco bairros, obrigando 60 mil famílias a abandonarem suas residências.

Esse desastre de 2018 impactou mais de 200 mil pessoas e levou ao encerramento das atividades de extração na área. Desde então, 35 minas de sal da Braskem foram progressivamente fechadas em Maceió. Contudo, os recentes registros de tremores suscitaram preocupações renovadas sobre a possibilidade de novos colapsos.

Extração

O sal-gema, extraído no subsolo de Maceió, é obtido por meio da escavação de poços, nos quais a água é injetada até atingir a camada de sal, formando uma solução salina. A Braskem adota esse método para a obtenção do material, que é posteriormente transportado para a superfície após a retirada da solução salina.

Após a extração, as cavernas resultantes são preenchidas com material líquido para conferir maior estabilidade ao solo. No entanto, ao longo de mais de quatro décadas de exploração, algumas dessas minas começaram a apresentar vazamentos, colocando em evidência os desafios enfrentados pela indústria.

O sal-gema, encontrado a profundidades de até 1.000 metros, demanda escavações intensivas para sua extração e é utilizado em diversas indústrias, incluindo a produção de soda cáustica e na fabricação de papel.

Impactos socioambientais

Os impactos ambientais resultantes da exploração inadequada das minas de sal em Maceió foram destacados pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). A desestabilização de antigas cavernas subterrâneas na região é apontada como a causa do afundamento do solo no desastre de 2018, cujos efeitos ainda são sentidos.

Postos de saúde, escolas e outros serviços públicos precisaram ser desativados na ocasião, assim como uma trilha do VLT. O comércio local foi afetado, resultando no fechamento de lojas, e a população que dependia do trabalho informal nos bairros impactados perdeu suas fontes de renda. Além disso, o patrimônio histórico e cultural da região foi prejudicado.

Um projeto de pesquisa liderado por universidades federais de Alagoas e Pernambuco, juntamente com a Universidade de Brasília, está analisando os impactos ambientais, sociais e econômicos dessa tragédia. O grupo alerta para o risco contínuo de avanço da Lagoa Mundaú e o possível alagamento de imóveis e ruas próximas.

A lagoa, considerada patrimônio natural da cidade, desempenha um papel crucial na economia local, sendo fonte de renda para pescadores e marisqueiros. A redução na quantidade de sururu nos últimos anos, matéria-prima para um prato típico de Maceió, levanta a preocupação sobre uma possível conexão com o desastre de 2018 e seus desdobramentos ambientais. A comunidade aguarda ações efetivas para prevenir novos colapsos e preservar o meio ambiente e o sustento das comunidades locais.