Especialistas avaliam impactos da eleição de Trump para o Brasil

Economistas especializados nas áreas política, econômica e de relações internacionais citam temas regionais como a migração venezuelana

O ex-presidente americano Donaldo Trump (Foto: Donaldo Trump)
O ex-presidente americano Donaldo Trump (Foto: Donaldo Trump)

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi eleito presidente nesta quarta-feira (6) e voltará a governar o País a partir de 2025. Em Roraima, especialistas das áreas política, econômica e de relações internacionais avaliam o novo cenário para o Brasil, citando até temas regionais como a migração venezuelana.

Ao analisar a promessa de Trump de fazer a maior deportação de migrantes ilegais da história de sua nação por causa da insegurança, o professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Haroldo Amoras, concorda com a hipótese de que a migração venezuelana pode aumentar no Brasil, embora o País não seja o principal destino.

“Certamente o destino não será o Brasil. Será, principalmente, a Europa. É pensar em Alemanha e França, porque são mais tolerantes com esse tipo de fluxo”, afirmou o economista mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais e Desenvolvimento Regional, ressaltando que isso pode acontecer apesar do obstáculo geográfico imposto pelo Oceano Atlântico.

Professor da UFRR, Getúlio Cruz diz não acreditar em deportação em massa, porque os Estados Unidos vão precisar da força de trabalho dos migrantes. Ele acredita que, inicialmente, Trump vai tentar estancar o fluxo migratório e depois deportar principalmente quem pratica crimes.

“Boa parte dos imigrantes legalizados que moram nos Estados Unidos, que tem o green card, votaram no Trump. Eles sabem que essa imigração desordenada leva de bojo a importação de bandidagem, de praticantes de roubos, assaltos e assassinatos. E quem migrou da América Latina para lá, como da Venezuela, não quer esse estado de coisas”, avaliou o economista mestre em Economia e doutor em Ciência Política.

Relações com a Venezuela

Amoras afirmou que Trump, para cumprir a promessa de fazer a América “grande novamente”, vai elevar as tensões com potências como Rússia, China e Irã, países aliados da Venezuela, a quem classifica de “párea internacional”.

“É possível que os bloqueios comerciais dos Estados Unidos se expandam, aumentem para ter controle geopolítico dessa parte da América do Sul. E isso se traduz claramente no rebatimento da posição do Brasil, que foi obrigado por essas pressões todas a negar a entrada da Venezuela nos Brics, ao exigir que o Maduro apresentarem as atas eleitorais […]. Provavelmente o Trump vai tentar cortar essas ligações onde o Estado venezuelano respira”.

Política

Cruz acrescenta que a vitória do bilionário desenha um cenário favorável para a eleição de políticos de centro e de centro-direita no Brasil em 2026. “A eleição municipal já deu o alerta de que a maioria dos eleitores são de direita e de centro-direita. Isso pressiona não só o Lula, vai pressionar o Congresso Nacional, mirar na vitória do Trump e eleger políticos de centro e de centro-direita”, explicou.

Para o especialista, a vitória do presidente americano representa principalmente uma derrota para o Governo Lula na intenção de ganhar protagonismo ambiental internacional com a preservação da Amazônia.

Com Trump distante da pauta ambiental, Getúlio Cruz acredita que a COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) de 2025, em Belém, ficará “esvaziada”. Também pesa para isso os recordes de queimadas ocorridas nos dois primeiros anos da gestão de Lula. “Nunca um governo se mostrou tão incapaz de combater esses incêndios”, destacou.

Economia

Economicamente, Haroldo Amoras diz não acreditar em mudanças expressivas para o Brasil. “Não vejo nenhuma alteração substancial, porque a questão do protecionismo americano [conjunto de medidas para dificultar a importação] já existe onde convém existir pra eles. Então é no mercado de matérias primas, no mercado de carne, no mercado de frango, de soja, então essa guerra comercial faz parte do jogo”, destacou.

Por sua vez, Getúlio Cruz avalia que o Brasil pode se beneficiar da guerra comercial entre Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas do planeta. “Na medida em que a China tenha produtos sobretaxados dos Estados Unidos, pode haver possibilidade de nós aumentarmos a exportação para os Estados Unidos. É uma janela, vai depender da competência, que não é esse governo [Lula] que vai ter”, enfatizou.