Uma família grande e com muitas histórias para contar. Assim é a família de Gerardo Anatrella, 52 anos. Ele é esposo de Yolesia, 47. Juntos têm três filhos; Francesca, 28, Mássimo, 25 e Gerardo Bruno, 20. A família também conta com José Gregório, 29, casado com Francesca. O jovem casal tem duas filhas menores; Fabiana, 7 e a bebê Zamira.
Eles estão há cerca de dez meses em Roraima e decidiram migrar depois que passaram por algumas dificuldades na cidade onde viviam, Cumaná, estado de Sucre, na Venezuela. No Brasil, a situação foi um pouco complicada no início, pois logo que chegaram em Boa Vista, não conseguiram lugar nos abrigos para refugiados e então passaram a morar nas ruas da cidade. Depois de algum tempo, foram aceitos no abrigo São Vicente 1, que é gerenciado pela AVSI Brasil, em parceria com a Operação Acolhida.
Em agosto deste ano, Gerardo, os dois filhos e o cunhado, foram aprovados num teste de seleção para trabalhar em uma indústria na cidade de Seara, em Santa Catarina. A oportunidade de emprego surgiu a partir da empresa contratante, que abriu uma seletiva em Roraima.
A seleção dos candidatos foi organizada pelo Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) e pela AVSI Brasil – que implementa o projeto Acolhidos por meio do trabalho.
O projeto prevê a interiorização de venezuelanos a partir de uma oportunidade de trabalho, além de moradia temporária na nova cidade, por até três meses e o acompanhamento de uma assistente social que dará apoio para a integração da família naquela localidade neste período. A família já realizou todos os exames necessários para a viagem e está providenciando as últimas documentações para iniciar a nova vida no Sul do pais.
Antes do embarque, porém, eles vão participar de uma atividade inesperada em Boa Vista. A família completa tem um encontro com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, que estará em Roraima cumprindo uma missão diplomática no Brasil. O encontro está previsto para a tarde desta sexta-feira, 18, e será acompanhado por integrantes da AVSI Brasil, da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), pela força-tarefa da Operação Acolhida e representantes do Departamento de População, Refugiados e Migração (PRM) do governo dos Estados Unidos, que financia o projeto Acolhidos, no Brasil.
“Fiquei muito feliz por ter a minha família escolhida para este encontro de amanhã. Espero que este gesto motive e encoraje outros venezuelanos que temem sair de Roraima para outras localidades. Acho que nossa história pode servir de exemplo para tantas famílias que procuram uma oportunidade de recomeço no Brasil. Estamos ansiosos para conhecer a nova cidade e queremos contribuir da melhor maneira possível”, disse Gerardo.
A história da família no Brasil
A saga da família começou em novembro do ano passado, quando os irmãos Gerardo Bruno e Mássimo, decidiram migrar para o Brasil para procurar novas oportunidades de emprego. O caçula estava estudando engenharia de telecomunicações, em Cumaná, mas desistiu do curso, pois a situação da família já estava ficando insustentável pela grave crise política, econômica e social pela qual o país atravessa. Eles foram acompanhados pelo cunhado, José Gregório. Os três atravessaram a fronteira para o Brasil rumo à Pacaraima, e depois seguiram para Boa Vista, com o sonho de conseguir um emprego e ajudar o restante da família, que ficou na Venezuela.
Porém, algumas semanas depois, José Gregório adoeceu e preferiu voltar ao país de origem. Neste período, a esposa engravidou. O casal já tinha uma filha menor e neste momento os três moravam num lava-rápido.
Como a situação da família estava muito crítica, Yolesia, mãe de Francesca, decidiu levar a filha grávida para o Brasil, junto com a netinha, aproveitando a companhia dos dois filhos, que já haviam atravessado a fronteira. Yolesa tinha experiência de trabalho na área administrativa, mas já estava sem trabalho há algum tempo na Venezuela. Já o marido, Gerardo, estava trabalhando como cozinheiro em uma universidade e ficou no país por mais alguns dias. No Brasil, a situação da família ficou complicada, pois todos estavam morando nas ruas de Boa Vista, sem conseguir um lugar melhor para ficar.
No final de dezembro, Gerardo também se uniu à família no Brasil, já que sua filha estava prestes a ganhar o bebê. Neste período, as mulheres foram aceitas no abrigo São Vicente 1 e, logo em seguida, o restante da família também, inclusive o genro, que voltou depois de sua recuperação.
No início deste ano, a família passou a contar com Zamira, a segunda neta de Gerardo. Junto a ela, a esperança da família foi renovada. Em agosto ele, os dois filhos e o cunhado foram aprovados numa seleção de emprego para trabalhar numa indústria frigorífica no Sul do país.
A expectativa para um novo lar e um emprego, motiva a família, que irá embarcar até o final do mês para a cidade de Seara, sob o acompanhamento da AVSI Brasil.