“É para não deixar morrer nossa cultura” diz paneleira sobre o Festival das Panelas de Barro

A produção das ceramistas macuxi ganhou o selo do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) na 10ª edição do Festival das Panelas de Barro

Evento ocorreu entre os dias 7 e 8 de novembro (Foto; Tiago Cortez)
Evento ocorreu entre os dias 7 e 8 de novembro (Foto; Tiago Cortez)

A 10ª edição do Festival das Panelas de Barro na Comunidade Indígena Raposa I, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Normandia, que aconteceu entre os dias 8 a 10 de novembro, celebrou o fortalecimento da identidade cultural dos povos originários.

Assim, os participantes do evento envolveram-se em oficinas de produção de panelas de barro, arco e flecha, pintura corporal e parixara. Além disso, teve degustação de comidas regionais como damurida e caxiri.

Apenas as mulheres da comunidade fabricam as panelas. Portanto, é uma tradição que passa de mãe para filha e para a Macuxi Tâmara Salazar, produzir panelas preserva o conhecimento dos ancestrais.“Estamos dando continuidade ao que foi passado para a gente. É não deixar morrer a nossa cultura, é manter nossa cultura viva”, disse a ceramista.

Tâmara explica ainda o passo a passo na confecção das cerâmicas. “Primeiro a gente se reúne, marca o dia para ir buscar o barro na serra. A gente desce o barro e põe para secar. Quando ele está seco, batemos, peneiramos e fazemos a massa, deixa ele descansar de um dia para o outro. Então, começamos a confeccionar as panelas, modelamos, colocamos para aquecer e queimamos”, descreveu a paneleira.

Nesta edição do Festival das Panelas de Barro, as produções únicas das panelas e cerâmicas de barro da comunidade ganharam o Certificado de Registro de Indicação Geográfica do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Foto: Tiago Cortez

Desse modo, o certificado assegura a qualidade, origem e autenticidade das Panelas de Barro da Raposa. Com isso, a analista de projetos do Sebrae Roraima, Gacriela Misso, avalia a conquista do certificado como um reconhecimento do potencial das panelas para a comercialização.

“Por ser indígena, por ter apego sociocultural, o Sebrae se preocupou em ajudá-los a fazer esse registro. Portanto, agora é deles, podem comercializar para todo o Brasil e afirmar que é, de fato, da comunidade indígena, produzido por indígenas mulheres e ressaltando a etnocultura”, comentou Misso.

Tâmara conta que antes das ceramistas da comunidade conseguirem o certificado, as vendas eram prejudicadas. “Vinham as pessoas e compravam as panelas e superfaturavam as nossas peças e diziam que eram delas. Não tínhamos como dizer que era nossa”, relatou a macuxi.

Além de valorizar a cultura dos povos da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, o Festival das Panelas de Barro também é uma ocasião para consolidar o etnoturismo, como afirma o coordenador do evento, Enoque Raposo.

“O Festival  promove o debate sobre questões culturais. Para as pessoas que vêm de fora e acompanham esse evento podem compreender as nossas tradições, que são vivenciadas dentro dessa festividade. Nós mostramos para o mundo que ainda existe um povo que resiste às grandes mudanças”, declarou o coordenador.

ETNOTURISMO NA RAPOSA SERRA DO SOL

A Comunidade Raposa I, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no município de Normandia, região Norte de Roraima, é uma das pioneiras no Etnoturismo no Estado.

Essa modalidade de turismo propicia aos visitantes uma imersão cultural. De modo que experimentam a gastronomia, os costumes, tradições e conhecem as histórias da região.

Entre as agências de turismo de Roraima que promovem a excursão no Festival das Panelas de Barro está a Caburaí Adventure e Rocky passeios turísticos. A guia de turismo da Caburaí Adventure, Elen Dias, destaca a importância do evento para o fortalecimento do turismo local.

“A valorização do etnoturismo ajuda a educar sobre a importância do festival como patrimônio cultural, para o turista entender o valor dessa tradição do trabalho dos artesãos, gerando renda, contribuindo com o enaltecimento da cultura, beneficiando tanto a comunidade quanto o setor turístico local.”

O etnoturismo na Raposa Serra do Sol acontece desde 2019. Devido à relevância da iniciativa, em 2023 a comunidade alcançou o segundo lugar no Prêmio Nacional de Turismo do Ministério do Turismo na categoria Gestão e Governança do Turismo.