Prints de conversas por WhatsApp mostram que influenciadores que faziam propaganda para o Jogo do Tigrinho e jogos similares recebiam uma conta diferenciada dos demais usuários das plataformas. Segundo a polícia, essas contas garantiam apostas viciadas em ganhar.
As conversas foram interceptadas, após autorização judicial, pela Polícia Civil de Alagoas, que investiga um suposto esquema de fraude envolvendo influenciadores, agenciadores e intermediários. As investigações culminaram na Operação Game Over, deflagrada na segunda-feira, que mirou 12 alvos e pediu apreensão no valor de R$ 38 milhões, montante movimentado desde outubro de 2023, quando a apuração teve início. Os mandados foram expedidos pela 17ª Vara Criminal. Carros de luxo, uma lancha e dinheiro foram apreendidos.
Na prática, os influenciadores recebiam um link para uma conta de demonstração, chamada “demo”, programada de forma diferente para sempre ganhar. Para o usuário comum, o link era de uma plataforma normal, onde as perdas eram comuns. A polícia também descobriu pelas conversas que os influenciadores sabiam que no primeiro jogo que fizessem ganhariam o superprêmio. A ideia era fazer com que os seguidores se empolgassem com a ideia de jogar também.
Para a polícia, os influenciadores estariam enganando seus seguidores. Além disso, as conversas mostram que os influenciadores ainda ganhavam comissão conforme conseguiam captar clientes para as plataformas, o que, segundo o delegado Lucimério Campos, caracteriza uma prática criminosa. “Você não pode ganhar dinheiro em cima de quem está apostando porque você está lucrando em cima de quem está perdendo. Quando você estimula e fecha contrato com comissão, você está estimulando e ganhando em cima daquele dinheiro que está sendo deixado na plataforma”, afirmou Campos.
A polícia também identificou vários depósitos feitos nas contas dos influenciadores. Em um dos diálogos, um agenciador pede para um intermediário informar ao influenciador que ele receberá o pagamento “de 3 a 5 minutos” após a publicação da promoção. Os intermediadores, conforme a polícia apurou, trabalhavam para várias plataformas ao mesmo tempo. “Eles tinham ganhos altos porque estamos falando de pessoas com engajamento alto, com mais de 1 milhão de seguidores. Então, quando ele coloca o link, o potencial de retorno é muito grande, dava um lucro vertiginoso”, disse o delegado por trás da investigação.
Segundo o delegado, as investigações apontaram para um esquema sofisticado para lesar pessoas que acreditavam na veracidade desses jogos. A polícia montou um quebra-cabeça que a levou a descobrir um golpe executado em sete fases, começando com a captação de intermediários pelas plataformas internacionais no Brasil até a ostentação dos influenciadores contratados com dinheiro dos “prêmios”.
Para o delegado, mais do que desbaratar uma organização, a operação tem um caráter didático. “A gente não quer só a despatrimonialização dos envolvidos, mas deixar um recado de um órgão confiável, como a polícia”, destacou.
Os investigados estão sendo indiciados por estelionato, contravenção de jogo de azar, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Os nomes dos blogueiros não foram divulgados pela polícia.