
O Ministério Público de Roraima (MPRR) apresentou suas alegações finais no processo que investiga o sequestro e tortura do jornalista José Romano dos Anjos Neto, ocorrido em outubro de 2020. No parecer, no qual a Folha teve acesso, o órgão requer a condenação de nove réus, incluindo o ex-presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), Jalser Renier, apontado como mandante do crime.
Além de Jalser, o MP pede a condenação dos policiais Natanael Felipe de Oliveira Junior, Moisés Granjeiro de Carvalho, Vilson Carlos Pereira Araújo, Nadson José Carvalho Nunes, Clóvis Romero Magalhães Souza, Gregory Thomaz Brashe Junior e do ex-servidor da ALE-RR, Luciano Benedicto Valério. Eles são acusados dos crimes de sequestro, cárcere privado, tortura, roubo majorado, dano qualificado e constituição de milícia privada.
Por outro lado, o Ministério requer a absolvição de Thiago de Oliveira Cavalcante Teles por não haver provas que o vinculem diretamente ao crime. O órgão considera que as evidências colhidas ao longo do processo não são suficientes para sustentar uma condenação.
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“O pedido de absolvição pelo GAECO do MPRR é um atestado da comprovação de sua inocência, tese sustentada e comprovada durante toda a instrução processual. Aguarda ainda a manifestação judicial para confirmar sua total ausência de participação no caso e, finalmente, que seu nome possa ser limpo perante a sociedade roraimense”, disse o advogado de Thiago, Samuel Almeida Costa, em nota.
Os crimes e as provas apresentadas
Romano dos Anjos foi sequestrado em sua residência, no bairro Aeroporto, em Boa Vista, por homens encapuzados e armados no dia 26 de outubro de 2020. Ele foi levado para uma área isolada na zona rural do município, onde foi espancado e ameaçado de morte antes de ser abandonado gravemente ferido. Na ocasião, sua esposa, Nattacha Vasconcelos, também foi rendida e mantida em cárcere privado dentro da casa.
As investigações apontam que o crime teve motivação política, já que o jornalista fazia denúncias contra Jalser Renier e seu grupo. De acordo com o MP, dias antes do crime, Jalser registrou um boletim de ocorrência alegando que estava sendo alvo de calúnias. Dois dias depois do sequestro, ele voltou à polícia para denunciar que estaria sendo vítima da divulgação de informações sigilosas. Para os investigadores, esses registros reforçam a suspeita de retaliação contra Romano.
O parecer detalha que o crime foi minuciosamente planejado, com uso de técnicas operacionais de segurança, armas de fogo e veículos, e que a execução envolveu agentes ligados ao esquema de segurança do então presidente da ALE-RR. Entre as provas citadas pelo MP estão depoimentos das vítimas e testemunhas, laudos periciais, registros de chamadas telefônicas e interceptações realizadas ao longo da investigação.