JESSÉ SOUZA

Trabalhadores no fundo do poço ignorados pela política que só valoriza os grandes

Em Roraima, 116.078 mil pessoas estão inadimplentes, mas não sabem porque nunca consultaram a situação do seu CPF (Foto: Divulgação)

O surgimento rápido de vários centros comerciais nas avenidas mais movimentadas da Capital, especialmente na zona Oeste, onde estão localizados os bairros mais populosos, só confirmam a importância do comércio no Estado, uma força econômica sustentada principalmente pela chamada “economia do contracheque”, movimentada pela folha de pagamento de servidores nas três esferas de governo.

No entanto, o principal ator dessa força motriz, o trabalhador, não é tratado com muita importância, recebendo o mesmo tratamento dispensado aos grandes empresários pelos políticos e governantes. O exemplo clássico disso é que as autoridades não se engajam nas grandes campanhas nacionais para que inadimplentes negociem suas dívidas, o que é fundamental para a economia local e para a vida financeira da população.

A prova disso está nos dados divulgados em um levantamento inédito da Serasa, que é uma empresa privada que reúne informações sobre o crédito e a inadimplência de pessoas físicas e jurídicas do país. Os números indicam uma situação que deveria preocupar todos os atores da economia local, e não apenas aos principais interessados, ou seja, aquelas pessoas que apresentam algum tipo de pendência no comércio.

Conforme a Serasa, em Roraima existem 116.078 mil pessoas que nunca consultaram a situação do seu CPF e, portanto, não sabem que elas têm contas atrasadas. Desse total, 64.426 mil possuem ofertas de dívidas negativadas disponíveis para negociação, mas muitas delas não têm acesso ou não sabem como fazer para consultar.

Os descontos oferecidos para essa grande leva de devedores ocultos chegam a 99%, segundo informou a empresa, com ofertas dos mais diversos segmentos da economia, como bancos, securitizadoras (empresas que compram dívidas), comércio varejista, setor de serviços e telecomunicações, concessionárias de energia e água, entre outros.

A importância de ir atrás desses devedores é essencial para a economia local e para essas pessoas, especialmente os assalariados, que encontram no crediário uma maneira de facilitar o acesso a produtos e serviços quando não se tem todo o valor imediatamente para dar na hora na compra. Ao retomarem seu crédito, os consumidores reconquistam a possibilidade de planejarem melhor suas finanças ao retomarem suas vidas financeiras.

Outro beneficiado são os próprios lojistas, pois esses pequenos, médios e grandes empresários podem ter maior poder de venda e também melhorar o relacionamento com os seus clientes. O movimento nos shoppings da cidade depende do nome limpo do consumidor para que ele possa fazer girar a economia.

Logo, diante de importantes benefícios de lutar contra a inadimplência dos trabalhadores, por que este fator é ignorado pelos atores da sociedade? Por que a ordem de importância é sempre os grandes empresários, os quais são os maiores devedores de impostos e das fartas linhas de financiamento oferecidas pelo governo?

Passou da hora de pensar em ajudar o assalariado a sair do fundo do poço para que possa também ajudar a movimentar a economia local. Um simples quiosque com internet e computador em um local público acessível para consultar o CPF já seria um grande passo. Mas quem se preocupa com isso?  

*Colunista

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