JESSÉ SOUZA

Um relatório sem novidade diante do que todos já sabem sobre o garimpo ilegal

Jessé Souza*

Defensores incondicionais do garimpo ilegal, os senadores de Roraima que integraram a Comissão Temporária Externa que apurou a situação dos Yanamomi, diante da invasão de garimpeiros, tiveram que recuar. A intenção deles era aprovar um relatório favorável ao garimpo, tentando colocar todos os garimpeiros no balaio de coitadinhos. Mas não colou.

Foram obrigados a recuar diante das fortes evidências de que o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami há tempos é comandado pelo crime organizado, mais precisamente por uma facção paulista que se associou a outro grupo criminoso de venezuelanos, os quais resistem às ações de desintrusão dos garimpeiros.

O relatório aprovado pelos senadores aponta como propostas o mesmo que esta Coluna vem repetindo há pelo menos dois anos como medidas para combater o garimpo ilegal: vigilância da fronteira, rígida fiscalização dos meios de transporte nos rios e controle permanente do espaço aéreo usados por aeronaves irregulares. O parecer de 213 páginas é assinado pelo relator, o senador roraimense Hiran Gonçalves, que chegou até a ressuscitar o discurso de negação da chacina de Haximu, na década de 1990.

No entanto, o país passou a saber que defender o garimpo ilegal é apoiar o crime organizado. O discurso de coitadismo não cabe mais na defesa de garimpeiros trabalhadores, os quais são os primeiros a deixarem voluntariamente as frentes de garimpo quando há uma ação de retirada. Com as devidas exceções, restou na Terra Yanomami o mando de facções, que usam a mão de obra de garimpeiros para resistir às ações de combate ao garimpo ilegal.

Dos integrantes da Comissão, todos os parlamentares roraimenses tinham ou têm ligação com o garimpo ilegal ou sob suspeita de ilegalidades na aplicação de recursos federais destinados à saúde indígena. Um deles teve até uma aeronave em seu nome investigada pela Polícia Federal por ser utilizada para dar apoio ao garimpo ilegal, muito antes do escândalo do dinheiro na cueca.

As seguidas notícias indicam que as ações ilegais seguem bem ativas no garimpo ilegal, com relatos de mortes de pessoas que estavam garimpando em terra indígena. Significa que o governo precisa manter as ações de combate, adotando ou reforçando as medidas apontadas no relatório da Comissão do Senado.

 O que foi apontado no relatório não se trata de nenhuma novidade nem traz qualquer medida inédita. Tudo deveria ter sido adotado desde o governo passado, pois tratam-se de ações básicas para enfrentar o crime cometido em garimpos ilegais. No entanto, tudo foi escancarado pelo governo passado, sob a conivência ou o aplauso desses mesmos parlamentares roraimenses que integraram a Comissão.

*Colunista

[email protected]

** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV