Com 90 anos, um dos intelectuais vivos mais influentes do mundo está em plena forma: o professor Jürgen Habermas, discípulo de Theodor Adorno e sobrevivente da Escola de Frankfurt, vive perto do Lago Starnberg, a 50 km de Munique, na Alemanha. Sua esposa, a historiadora Ute Wesselhoeft, com quem vive há 60 anos, divide a casa com ele desde 1971, quando o filósofo assumiu a direção do Instituto Max Planck de Ciências Sociais.
Membro da segunda direção da famosa escola frankfurtiana e ex-catedrático de Filosofia na Universidade Goethe, é autor de obras fundamentais da Sociologia e da Ciência Política no século 20, como História e Crítica da Opinião Pública (1962) e o mais recente deles, Mundo da Vida, Política e Religião (2015). Sua vida, no entanto, não passa sem polêmicas, como a sempre fugida questão sobre seu passado como membro da Juventude Hitleriana, durante o nazismo.
Em entrevista ao jornal alemão Der Spiegel, Habermas admitiu estar cansado do mundo: reclamou que não há mais espaço para intelectuais na atualidade porque não existem leitores capazes de ler seus argumentos, criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por estar “debaixo do nível da cultura política do seu país” e profetizou que, apesar de as redes sociais serem hoje um lugar incivilizado, o fato de serem um fenômeno recente impede que recebam críticas mais contundentes. “Qualquer um tem um celular hoje e pode dar suas opiniões”, disse.
“A internet, que nos converte em autores em potencial, não tem mais de duas décadas de existência. É possível que, com o tempo, a gente aprenda a administrá-la de forma civilizada”, disse.
“[A esfera pública liberal] vive de pressupostos culturais e sociais improváveis, principalmente da existência de um jornalismo atento, com alguns meios de referência, e uma imprensa de massa capaz de dirigir o interesse da grande maioria dos cidadãos aos temas relevantes da formação da opinião política. Hoje em dia, essa infraestrutura não está intacta, porque o efeito fragmentador da internet desconectou o papel dos meios de comunicação tradicionais entre as novas gerações”, completou.
Habermas segue escrevendo livros — prepara um sobre religião — e palestrando em universidades, apesar da dificuldade de falar por causa de uma deficiência de nascença em forma de fissura na língua e de um lábio leporino. Uma pequena tragédia pessoal para alguém cuja missão filosófica foi dar valor à linguagem e à dimensão social como remédio de tantos maus.
Na mesma entrevista, Habermas defendeu Emmanuel Macron, presidente da França, que viu a crise política e social que enfrentou desde outubro do ano passado diminuir sua temperatura no último mês. “Ele me inspira respeito porque, na cena política atual, é o único que se atreve a ter uma perspectiva política. Como um intelectual e um orador convincente, persegue as metas políticas acertadas para a Europa, além de estar fazendo como presidente exatamente o que disse que ia fazer”, completou.