Turistas e moradores locais vivenciam as cidades de modos completamente diferentes, e foi por isso que o programador britânico Eric Fischer resolveu criar mapas que demonstram como, em metrópoles mundiais, como Londres, eles podem sequer se encontrar.
Na capital do Reino Unido, por exemplo, enquanto os visitantes andam em torno do Palácio de Buckingham, do Parlamento, da igreja de St. Paul e de Oxford Street, os locais giram em regiões como East Croydon, Hendon, Dagenham e outras partes da chamada Zona 1.
Segundo Fischer, os londrinos podem passar anos sem visitar as áreas centrais — e turísticas — de Londres, e para ver como esses diferentes mundos são, basta representá-los em mapas baseados nos locais onde as pessoas tiram e publicam suas fotos.
Nos mapas, as áreas vermelhas são exemplos de imagens feitas por turistas, enquanto as azuis indicam os locais fotografados por locais — os amarelos são os espaços de confluência dos “dois mundos”. No caso de Londres, a distinção é geográfica: a Zona 1 é dos visitantes e a Zona 2, dos locais. Fischer contou ao jornal britânico The Guardian que construiu os mapas para um projeto chamado Locals and Tourists, que faz parte de um outro, maior, batizado de The Geotaggers’ World Atlas (Atlas Mundial dos ‘Geomarcadores’).
Os dados utilizados por Fischer se referem a fotos tiradas nas cidades pesquisadas entre 2010 e 2013 e foram coletados dos bancos do Gnip sobre o MapBox e o Twitter. Os “locais”, segundo os critérios de análise, foram aqueles que tuitaram da mesma localização por ao menos um mês, enquanto os “turistas” são aqueles considerados “locais” em outra cidade, mas que estavam tuitando, no momento da pesquisa, em uma localização diferente.
No total, Fischer elaborou 136 mapas de várias cidades do mundo, como Nova York e Washington, nos EUA, Toronto, no Canadá, Tóquio, no Japão, Estocolmo, na Suécia, e Paris, na França. Alguns chamam atenção, como o caso de Barcelona, na Espanha, Roma, na Itália, e Berlim, na Alemanha, onde praticamente não há cor azul: o que indica que as cidades são quase completamente tomadas por turistas durante a maior parte do ano. O contrário disso é Manchester, na Inglaterra, onde há poucos registros em vermelho e muitos em azul, mostrando que a metrópole não é tão concorrida em termos turísticos.
Segundo especialistas, os mapas podem ajudar cidades que querem incrementar ou, ao contrário, controlar seus processos turísticos. Lisboa, em Portugal, por exemplo, vive as duas pontas do paradoxo: enquanto companhias aéreas como a TAP criaram programas para que turistas em direção aos grandes hubs da Europa passem ao menos um dia na capital portuguesa, associações de moradores e movimentos sociais protestam contra a bolha imobiliária gerada pela especulação turística.
Outras, como San Francisco, nos EUA, e Sydney, na Austrália, são marcadamente divididas entre os locais e os turistas: há pequenas concentrações em vermelho nas áreas turísticas e grandes espaços ao redor em azul, indicando os espaços por onde os moradores circulam em seus cotidianos.
Há ainda os casos de cidades como Budapeste, na Hungria, onde se vê claramente um único lugar fotografado tanto por turistas como locais: a região do Parlamento, cuja ponte adiante divide Buda e Peste — cartão-postal da capital húngara.
Há cinco cidades brasileiras representadas no estudo de Fischer: Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e a dupla Recife e Olinda, no Pernambuco.
No mapa de São Paulo, dois lugares estão entre os mais fotografados por turistas: a Avenida Paulista e o centro da cidade, notadamente a região da Luz e da Sé — onde também há uma imensa área azul indicando que são espaços clicados por “locais”. Parques como o Ibirapuera e o Água Branca são as únicas exceções: marcadores azuis em meio aos espaços brancos, mostram lugares onde os moradores da cidade também fotografam com avidez.
No do Rio, no entanto, a máxima dos “dois mundos” ganha força: enquanto turistas não cansam de fotografar as praias de Copacabana e Ipanema, na Zona Sul, e encontram locais que clicam a Urca e o Morro do Corcovado, assim como o Jardim Botânico e o Cristo Redentor, a Marquês de Sapucaí e o centro da cidade são locais quase completamente representados apenas pelos locais.