O acesso à informação nunca foi tão simples. Com os avanços tecnológicos, é possível encontrar artigos, notícias e reportagens com apenas alguns cliques em qualquer lugar do mundo. A democratização dos dados e a globalização também possibilitam que conteúdos sobre países do outro lado do mundo cheguem ao território nacional em minutos. Tudo isso, na teoria, possui efeitos positivos ao público, que tem mais meios para se informar. Na prática, essa facilidade de se comunicar trouxe uma enxurrada de desinformação às populações no meio de uma pandemia.
É para tentar conter os efeitos de informações sem comprovação científica que a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a campanha online global “Pause”, parte do projeto “Verificado”, no jogo entre Vasco e Corinthians, no Rio de Janeiro. A ação estampada na camisa dos jogadores visa promover uma reflexão nas pessoas e conscientizá-las sobre os impactos do compartilhamento de notícias falsas, freando a desinformação.
A iniciativa foi criada e nomeada com base em pesquisas científicas que comprovam a relação entre uma breve pausa e a diminuição da vontade compartilhar materiais chocantes ou emotivos nas redes sociais ou em grupos privados com amigos e familiares. Sendo assim, a entidade pretende propor esse momento a mais de reflexão entre a leitura de um conteúdo e a disseminação dele, seja enquanto o usuário está conectado pelo smartphone ou notebook, já que os dispositivos proporcionam efeitos diferentes no comportamento da pessoa nas mídias.
De acordo com Melissa Fleming, subsecretária-geral da ONU para Comunicações Globais, “está cada vez mais claro que não se pode enfrentar com sucesso a pandemia sem também abordar a desinformação online”. Para ela, quando a desinformação se espalha, “o público perde a confiança e muitas vezes toma decisões que dificultam a resposta do público e até mesmo suas próprias vidas”.
Com isso, o objetivo central é aumentar o entendimento midiático para permitir que os usuários das redes consigam identificar informações errôneas, tendenciosas ou desconexas. Para isso, o site do projeto Verificado traz um acervo de matérias checadas e com a veracidade de conteúdo atestada pela equipe da ONU.
Desinformação sobre o coronavírus
Desde que a pandemia começou, diversos sites de notícias com conteúdos tendenciosos, canais nas redes sociais e influenciadores negacionistas iniciaram uma campanha de desinformação acerca da doença. Apenas nos dois primeiros meses do ano, 90% das 6.500 mensagens recebidas pela iniciativa “Saúde sem fake news”, do Ministério da Saúde, que alerta sobre mensagens que são falsas, eram relacionadas ao novo vírus. Dessas, 85% eram falsas.
“As pessoas têm confiado cada vez mais em discursos e informações que não são baseadas em evidências nem na ciência, mas na experiência de pessoas que disseram que isso aconteceu”, alerta o pesquisador Igor Sacramento, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz). “É muito preocupante quando as pessoas acreditam mais em um testemunho no YouTube do que em um especialista que pesquisou um assunto por anos”, complementa ele.