O avanço das tecnologias e sobretudo da inteligência artificial fez com que os robôs fossem capazes de desempenhar diversas tarefas de forma autônoma. Eles chegaram a quase todos os setores da economia. Agora, estão presentes também nos cafés e restaurantes nos Estados Unidos. Robôs cozinheiros já são uma realidade na terra do Tio Sam – o custo de implementação, no entanto, é extremamente elevado.
O funcionário estrela dessa revolução industrial é Flippy, um robô adquirido pela bagatela de US$ 100 mil (R$ 390 mil). Ele está instalado na CaliBurger, uma lanchonete em Pasadena, na Califórnia. Pelo preço, é de se imaginar que o dispositivo eletrônico opere milagres. E é quase isso. Ele consegue cuidar de 12 hambúrgueres ao mesmo tempo. Vira-os metodicamente, serve em uma bandeja e ainda limpa a grelha. É, por assim dizer, um funcionário exemplar.
Falando dessa forma, parece até que ele faz todo o trabalho sozinho, sem ajuda humana. Mas não é verdade. O colega de trabalho de Flippy é Rayshaun. O trabalho dele é colocar os hambúrgueres no lugar certo na grelha, checar a temperatura da carne e colocar o queijo quando o robô avisar. A experiência não fez com que trabalhadores fossem demitidos na lanchonete, apenas otimizou o preparo dos hambúrgueres.
O Flippy foi desenvolvido pela empresa Miso Robotics, responsável pela criação de outro robô capaz de fritar batatas e asinhas de frango e que opera hoje na Chick N’ Tots, em Los Angeles. Os robôs desenvolvidos pela empresa possuem dois braços mecânicos de seis eixos com scanners térmicos e programas de inteligência artificial. Eles identificam a comida e os utensílios de cozinha para preparar o alimento. A experiência foi tão positiva que a CaliBurger pretende comprar mais 50 robôs para as lanchonetes da companhia em 2019.
No Vale do Silício, onde surge a maior parte das invenções tecnológicas, os restaurantes operados por robôs são uma nova febre. O CafeX, com três unidades em San Francisco, por exemplo, não tem nenhum barista humano. Os funcionários apenas fazem a manutenção das máquinas.
Na lanchonete Creator, uma máquina de 4 metros de largura, com 350 sensores e 20 computadores prepara cheeseburgers de US$ 6 (R$ 23) em apenas cinco minutos. Ela dá conta de 130 unidades por hora. Na pizzaria Zume, existem quatro robôs, cada um responsável por um processo da pizza.
Além do setor gastronômico, em que a automação ainda é uma grande novidade, a inteligência artificial já vem sendo utilizada em outras áreas. Por isso, possui um papel muito importante na vida dos usuários. No Brasil, por exemplo, o setor financeiro e de consumo já utiliza chatbots para um atendimento mais personalizado e rápido ao cliente, fruto do aprendizado de máquina e da maior quantidade de dados disponíveis. Se por um lado a inteligência artificial pode representar uma melhora de qualidade de vida dos seres humanos, por outro ela provoca um impacto semelhante às revoluções industriais.
Por esse motivo, o setor público e as empresas precisam pensar em programas de treinamento para preparar a população para o futuro do trabalho, sobretudo em relação aos empregos de baixa complexidade, que possuem maior risco de serem extintos. Um estudo recente feito pela Universidade de Brasília (UnB) descobriu que 54 milhões de empregos formais podem desaparecer no país até 2026 por causa do avanço da inteligência artificial. A pesquisa usou um método desenvolvido por Carl Frey e Michael Osborne, pesquisadores de Oxford. Nos Estados Unidos, a perda estimada é de 47%. Países pobres perderão menos.
Em recente artigo escrito por Ronaldo Lemos, advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro no jornal Folha de S.Paulo, o especialista defende que o Brasil precisa desenvolver com urgência um plano de inteligência artificial – e que o país já está atrasado nessa seara.
“Inteligência artificial não é somente um ‘setor’ da economia. Ao contrário, essa tecnologia deve ser vista hoje como parte da infraestrutura de qualquer país, pois é capaz de gerar externalidades positivas para todas as atividades produtivas, tornando-as mais competitivas e eficientes”, diz o advogado.
Vários países já possuem programas de inteligência artificial, sendo os mais notórios os Estados Unidos e a China, além de Canadá, França, Reino Unido, Singapura, entre outros. Segundo Lemos, quatro pilares precisam estar presentes nesse plano de inteligência artificial. O primeiro é em relação à capacitação em IA. É preciso formar uma geração capaz de implementar e pensar projetos nesse campo. O segundo é institucionalizar essa política por meio de parcerias com o setor privado e a comunidade científica.
O terceiro é criar uma política nacional de dados. O que move a inteligência artificial é uma grande quantidade de informações disponíveis. Portanto, é importante assegurar a privacidade e a segurança dos usuários. A União Europeia já possui um projeto de proteção de dados, chamado de GDPR, que obrigou gigantes da tecnologia como o Google a reformular os termos de uso dos serviços desenvolvidos pela companhia.
Um projeto semelhante entrou em vigor no ano passado no Brasil. A Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018, dispõe sobre a proteção de dados pessoais dos usuários. Apesar de se constituir em um grande avanço, foi criticada por especialistas como Ronaldo Lemos por excluir a obrigatoriedade da criação de uma autoridade nacional para a fiscalização da aplicação dessa lei, diferentemente do que aconteceu com a lei europeia.
Por fim, Lemos defende a criação de um mecanismo para preparar o contingente de pessoas que podem perder seu emprego para novas funções. “Estamos vivendo uma primavera da inteligência artificial, que irá se converter em inverno para todos os países despreparados para lidar com o tema”, conclui o especialista.