
O presidente Donald Trump anunciou nessa segunda-feira (24), em uma rede social, que vai taxar os países que comprarem petróleo ou gás da Venezuela. A tarifa de 25% incidirá sobre qualquer produto a ser comercializado com os Estados Unidos.
Segundo o comunicado, a tarifa começará a valer a partir do próximo 2 de abril.
“[A tarifa será implementada] por inúmeras razões, incluindo o fato de a Venezuela ter enviado propositalmente e enganosamente aos Estados Unidos, disfarçados, dezenas de milhares de criminosos de alto escalão e outros, muitos dos quais são assassinos e pessoas de natureza muito violenta”, afirmou Trump.
O governo estadunidense acusa a Venezuela de enviar para o País membros da facção criminosa Tren de Aragua, considerada uma organização terrorista por Washington.
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Pouco mais de uma semana atrás, o governo Trump deportou 238 imigrantes venezuelanos para El Salvador acusados de integrarem essa organização.
As famílias e advogados dos deportados para o País centro-americano questionam a versão oficial da Casa Branca. Eles afirmam que os imigrantes estão sendo acusados injustamente com objetivo de permitir sua deportação sumária.
Ainda de acordo com o presidente, a taxação ocorrerá porque “a Venezuela tem sido muito hostil aos Estados Unidos e às liberdades que defendemos”. Os atritos entre Washington e Caracas vem desde o governo do ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013).
O que diz a Venezuela
O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil Pinto, classificou a medida como “arbitrária, ilegal e desesperada”. Para ele, ela “confirma o fracasso retumbante de todas as sanções impostas contra o nosso País”. O diplomata também considera que o presidente estadunidense viola “flagrantemente” acordos internacionais do comércio que impedem países de fazer pressão política no segmento.
“Venezuela vai exercer todas as ações relevantes perante organizações internacionais para fazer valer os seus direitos e denunciar esta nova violação da ordem econômica global […]. Nosso país avança no seu caminho de crescimento e prosperidade, juntamente com um povo que resistiu com dignidade e derrotou todas as tentativas de subjugação promovido pelos extremistas habituais”, declarou.
Medidas Coercitivas Unilaterais
A Venezuela já sofre com uma série de Medidas Coercitivas Unilaterais (MCU), chamadas também de sanções econômicas, aplicadas pelos Estados Unidos. A maior parte dessas medidas é do primeiro mandato de Trump, entre 2017 e 2019.
No final de fevereiro, Trump anunciou o cancelamento de uma autorização para petroleira estadunidense Chevron atuar na Venezuela. Porém, o departamento responsável pelas sanções dos Estados Unidos prorrogou nesta segunda-feira (24) uma licença para Chevron atuar no País até o dia 27 de maio. Tal licença perderia a validade no início de abril.
Com o início da guerra na Ucrânia, o governo anterior de Joe Biden havia flexibilizado algumas sanções contra o país sul-americano, permitindo o retorno das exportações de petróleo cru para os Estados Unidos.
O especialista venezuelano Francisco Rodríguez, professor da Universidade de Denver, nos Estados Unidos, avalia que a nova decisão de Trump é de difícil aplicação e que, por enquanto, os Estados Unidos continuam comprando óleo venezuelano, apesar do anúncio para suspender as atividades da Chevron.
“Se Repsol (empresa espanhola privada) compra petróleo venezuelano, os EUA poderão impor uma tarifa de 25% sobre todas as exportações espanholas? Isso sugere Trump. Mas a Repsol não é a Espanha e o governo espanhol não controla suas decisões comerciais”, ponderou o pesquisador dos efeitos das sanções contra a Venezuela.
Para Rodríguez, a medida de taxar em 25% os países que comprarem o óleo venezuelano pode ter o efeito de privilegiar as exportações da Venezuela para os Estados Unidos caso as licenças da Chevron sigam sendo prorrogadas.
“Vale lembrar que muitas dessas licenças são emitidas por períodos curtos e renovadas rotineiramente. O melhor exemplo é a Licença Geral 5, que foi renovada 18 vezes. Não seria surpreendente se um padrão semelhante surgisse com a Chevron”, completou o professor em uma rede social.
*Com informações da Agência Brasil