Trump vai criar coalizão para isolar Maduro e cobrará apoio de Lula

Conforme colunista do UOL, nova política externa de Trump deve garantir que abastecimento de petróleo não dependa mais de regiões distantes do mundo, mas principalmente de fontes do hemisfério

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump (Foto: Gage Skidmore)
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump (Foto: Gage Skidmore)

O presidente eleito Donald Trump promete “pressão máxima” sobre a Venezuela, conforme o colunista Jamil Chade, do portal UOL. Conselheiros do partido republicano explicaram que o regime de Nicolás Maduro estará no centro das atenções da política externa de Trump para a América Latina e que a meta será a construção de uma coalizão regional contra Caracas.

Documentos elaborados por republicanos mostram que a meta de uma nova política externa de Trump passa por garantir que o abastecimento de petróleo não dependa mais de regiões distantes do mundo, mas principalmente de fontes do hemisfério.

Para os republicanos, a estratégia de Joe Biden com a Venezuela não funcionou. Uma negociação de um ano com o governo Maduro e com a oposição resultou no acordo de Barbados, que previa eleições livres e a retirada de parte das mais de 900 sanções impostas pelos EUA contra Maduro. Para conselheiros de Trump, Biden foi “trapaceado” pelo ditador venezuelano e haveria pouco espaço, a partir de agora, para retomar a ideia de Barbados.

Na administração de Biden, seus representantes apontaram que a estratégia que o governo Trump usou entre 2016 e 2020 na Venezuela não apenas fracassou como gerou a pior onda de refugiados e migração na história recente da América Latina.

O novo governo americano não descartará uma negociação, mas insiste que isso será acompanhado por uma pressão e pela construção de uma coalizão regional. Já a ideia de um conflito armado com participação dos EUA não seria a prioridade. Trump venceu a eleição prometendo não se envolver em guerras.

Cobrança a Lula

O Brasil, segundo eles, será cobrado a tomar uma atitude mais clara em relação ao governo de Maduro, ainda que a decisão de não reconhecer o resultado da eleição de julho em Caracas esteja sendo vista como um ponto “positivo” para o início de um diálogo.

O portal UOL apurou que, em setembro, a missão enviada pelo governo brasileiro para dialogar com republicanos constatou que o tom de que um eventual posicionamento de Trump sobre a Venezuela viria marcado por “forte pressão”.

Venezuela vira ‘ameaça’ ao se aliar com inimigos dos EUA

Parte da estratégia dos republicanos para a Venezuela consta de um documento preparado por Kiron Skinner, ex-diretora de Planejamento de Políticas no Departamento de Estado no primeiro governo Trump, e que faz parte do Projeto 2025, um pacote de medidas desenhadas por 140 ex-conselheiros do presidente eleito e que serviriam de uma espécie de guia para o próximo governo.

Sua avaliação e proposta sobre a Venezuela vai na direção que os conselheiros republicanos relataram ao UOL. Segundo Kiron, a Venezuela se aproximou de alguns dos maiores inimigos internacionais americanos, como China e Irã, “que há muito tempo buscam uma posição nas Américas”.

O documento sugere que, “para conter o comunismo venezuelano e ajudar os parceiros internacionais”, Trump “deve tomar medidas importantes para alertar os abusadores comunistas da Venezuela e, ao mesmo tempo, fazer progressos para ajudar o povo venezuelano”. “O próximo governo deve trabalhar para unir o hemisfério contra essa ameaça significativa, mas subestimada, no Hemisfério Sul”, diz.

Em outro trecho, o projeto destaca como “os Estados Unidos têm interesse em um Hemisfério Ocidental relativamente unido e economicamente próspero”. “No entanto, a região agora tem um número esmagador de regimes socialistas ou progressistas, que estão em desacordo com as políticas orientadas para a liberdade e o crescimento dos EUA e de outros vizinhos e que representam cada vez mais ameaças à segurança do hemisfério”, alerta.

Petróleo e segurança

O projeto destaca que a necessidade de nova abordagem que permita os Estados Unidos se reposicionarem de acordo com seus interesses e ajudar os parceiros regionais a entrar em um novo século de crescimento e oportunidades.

De acordo com a base do programa ultraconservador, uma das metas da nova política externa de Trump seria reduzir a dependência do petróleo de locais distantes e concentrar esforços para o abastecimento de energia a partir da região.

De acordo com o projeto, ainda que as nações do Hemisfério Ocidental tenham “laços culturais e históricos mais fortes com os Estados Unidos do que a maioria dos outros países e regiões do mundo”, a região está entrando rapidamente na esfera de atores estatais externos antiamericanos, como China, Irã e e Rússia. O documento considera que Venezuela, Colômbia, Guiana e Equador “são ameaças crescentes à segurança regional em seus próprios direitos ou são vulneráveis a potências extracontinentais hostis”.

“Os Estados Unidos têm a oportunidade de liderar esses vizinhos democráticos na luta contra a pressão externa de ameaças vindas do exterior e de lidar com as preocupações locais de segurança regional. Essa liderança e colaboração devem abranger todas as ferramentas à disposição dos aliados e parceiros dos EUA, inclusive a cooperação com foco na segurança”, completa.