Cotidiano

Economia ‘chapa branca’ reflete no saldo de desempregados

Especialista explica que queda ou criação dos postos de trabalho no Estado está diretamente ligada à situação do governo

A abertura de 173.139 novos postos de trabalho com carteira assinada em fevereiro deste ano está sendo vista por especialistas como o início da retomada do crescimento no Brasil. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que aponta que o saldo desse mês é o sexto melhor da série histórica desde 1992. Porém, diferentemente do restante do País, Roraima apresentou queda de 246 postos de trabalho e isso representa a maior pontuação negativa desde o começo da divulgação da evolução do Caged no Estado. 

Dos últimos cinco anos, só em 2017, segundo dados do cadastro do Ministério do Trabalho e Emprego, houve crescimento na criação de novos empregos em Roraima. O ano de 2015 foi o primeiro na média histórica – que começou a ser divulgada em 2004 – que apresentou saldo negativo de contratações no

Estado, com menos 30 empregos. Em 2016, o saldo também ficou negativo em 83 postos de trabalho. Já em 2017, houve saldo positivo de 164 novos postos de trabalho. O cenário voltou a ficar negativo em 2018, com 49 a menos e nos dois primeiros dois meses deste ano já apontam queda significativa de 246. 

Para explicar a gangorra que se tornou a criação de empregos em Roraima nos últimos cinco anos, a Folha conversou com o professor de economia Dorcílio Erik. Ele explica que a queda ou criação dos postos de trabalho no Estado está diretamente ligada à “situação econômica” do governo, a qual chamou de “chapa branca”, e da vinda de recursos públicos federais para a construção civil, construção e recuperação de estradas, de casas populares e saneamento básico. 

“Isso evidencia a característica atípica que a economia roraimense apresenta comparada a outros Estados da federação”, disse. “Nossa economia é conhecida como ‘chapa branca’por girar em torno dos gastos públicos, quer seja do funcionalismo público ou das empresas terceirizadas para o setor público, enquanto no restante do País o setor privado vem se recuperando e produzindo mais e contratando mais mão de obra. Embora tenhamos os mecanismos das áreas de livre comércio de Boa Vista e Bonfim, isso ainda não contribui para geração de empregos e renda”, acrescentou.

Outro ponto destacado pelo economista é quanto à imigração desenfreada de venezuelanos no Estado, que se tornou mais intensa nos últimos dois anos. 

“Roraima é o Estado mais impactado com a vinda dos imigrantes venezuelanos, ou seja, há um excesso de mão de obra, de trabalhadores procurando vagas de trabalho, e quando vai se fazer uma análise de desemprego, ele vai estar em evidência por termos o número de trabalhadores a mais que os postos oferecidos para absorver esses trabalhadores”, explicou.

Ele ressalta ainda que enquanto a economia do restante do País está se recuperando, Roraima ainda não acompanha essa tendência por depender dos investimentos do setor público em relação à baixa contribuição da iniciativa privada no Estado.

“Quando se encerra o contrato de prestação de serviços e estas empresas saem da linha, os servidores são demitidos e dificilmente serão realocados para outras funções. Este cenário só repercute positivamente em longo prazo, já que hoje Roraima se encontra em estado de calamidade financeira e, conforme o governo vá recuperando sua condição fiscal e a saúde financeira, isso vai permitir que possa voltar a contratar mais prestadoras de serviço”, complementou.

MINISTÉRIO – A reportagem tentou contato com o Ministério do Trabalho em Roraima para agendar entrevista com o superintendente regional e saber quais os setores que mais demitiram neste período, mas não houve resposta.