Cotidiano

Ruas de Pacaraima têm pouco movimento após conflito

A população relata uma cidade mais limpa e com policiamento, mas sensação de insegurança permanece

Quem esteve recentemente no município de Pacaraima percebeu uma grande mudança após o conflito ocorrido entre brasileiros e estrangeiros no final de semana passado. O cenário da cidade, que era repleto de imigrantes venezuelanos em condições desumanas, já é diferente menos de uma semana após o conflito.

A informação oficial é que cerca de 1,2 mil venezuelanos atravessaram a fronteira de volta ao seu país após os atos de violência no município e que muitos mais continuaram a realizar a saída do Brasil nesta semana. Outros, que permaneceram, decidiram juntar esforços e alugar pequenos espaços ao invés de pernoitar nas ruas da cidade.

O índice de chegada na rodoviária do município também mudou. Segundo uma comerciante que trabalha no local, a média era de 300 venezuelanos chegando diariamente a Pacaraima. Depois do conflito, a média diminuiu aproximadamente 50%, passando para cerca de 150 venezuelanos.

Outra situação observada pela equipe de reportagem foi a ausência de barracas improvisadas, colchões e caixas de papelão que eram utilizadas pelos imigrantes para dormir. Antes, os objetos permaneciam em frente aos comércios, independentes se estavam abertos ou fechados.(P.C.)

Moradores reclamam do aumento da violência


Ademir Ribeiro mostra por onde ladrões entraram em seu comércio (Foto: Wenderson de Jesus/FolhaBV)

Apesar do aumento no policiamento, o município de Pacaraima ainda registra casos de furtos. O comerciante Ademir Ribeiro informou que teve um prejuízo de cerca de R$ 1 mil após bandidos entrarem no seu estabelecimento na madrugada de ontem, 23.

Os criminosos supostamente agiram em dupla e entraram no comércio através de uma pequena janela. Do lugar foram levados alguns aparelhos de TV a cabo, DVD e valores em dinheiro. Para o comerciante, o furto é um exemplo do aumento da violência registrado em Pacaraima nos últimos anos. “Aqui a gente dormia de portas abertas, agora é câmera de segurança, tudo na grade, não pode deixar a casa só. Ninguém pode mais nem sair de casa por causa da violência”, lamentou.

A moradora Lutiene Sousa disse que o índice de violência multiplicou desde que a imigração começou há cerca de três anos. “Agora dá 18h30 e eu já fecho tudo, fico trancada. Antigamente meus meninos ficavam brincando aqui na frente até 20h30. Agora não tem condições. A gente sabe que segurança tá na rua, mas não se sabe se vai segurar alguma coisa”, refletiu.

O taxista Igleyson Gomes classificou Pacaraima como uma antiga cidade de paz e agora com um caos total. “As coisas acontecem e não temos a quem reclamar. E se reclamarmos, somos taxados de xenofóbicos. Mas não é isso, é difícil ver as coisas acontecerem na frente dos nossos olhos e não poder fazer nada. Quando você anda na rua, você não consegue mais ouvir o português. Tem três dias que não tem gasolina no posto. É muito difícil”, frisou.

População critica visita de autoridades

Para a comerciante Cenira Gomes, as visitas das autoridades ao município não têm efeito algum por conta da forma como elas são feitas. Ela acredita que, enquanto as vistorias forem realizadas em locais apropriados, bem cuidados e organizados pela Força Tarefa Logística Humanitária, o visitante terá uma boa visão da cidade e não vai realmente conhecer, a fundo, os problemas da região.

“Enquanto as pessoas que nos representam em Brasília continuarem tentando resolver o problema lá de cima vai continuar a mesma coisa. Isso eu incluo presidente, deputados e senadores”, criticou.

Cenira acredita que as autoridades não devem ‘se trancar no quartel e no palácio’ e decidir pelo povo e sim ouvir os anseios da população, daqueles que vivem a realidade do município diariamente.

“Esses que vem de fora não fazem nada, eles só vem receber as gordas diárias e depois voltam pro seu conforto. Enquanto o Governo Federal tenta resolver o nosso problema por cima, a gente sente na pele, por isso que aconteceu aquele conflito. As coisas acontecem não é só na BR-174 não. São nas ruas do município”, disse. (P.C.)