Cotidiano

Boa Vista é 5ª capital com maior número de pessoas com diabetes

Percentual de homens com a doença aumentou 210,3% de 2006 para 2017; o número de mulheres com diabetes também aumentou 58,6% no mesmo período

Os índices de diabetes em Boa Vista aumentaram na última década, segundo levantamento do Ministério da Saúde (MS). A cidade aparece como a quinta capital com o maior número de pessoas com a doença no país, com 8,1% da população diagnosticada com diabetes.

Os dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) apontam que o percentual de homens de Boa Vista com diabetes também é preocupante. O índice aumentou 210,3% entre os anos de 2006 e 2017. “Há 11 anos, o percentual de homens que tinham sido diagnosticados com a doença era de 2,9%, agora o índice passou para 9%. O número de mulheres com diagnóstico de diabetes também aumentou 58,6% no mesmo período”, diz trecho do levantamento. 

Os homens de Boa Vista apresentaram, na comparação com as demais capitais, a maior taxa de diagnóstico médico de diabetes no ano passado. “A diabetes, assim como a hipertensão e o colesterol alto, pode ser evitada desde que hábitos saudáveis como uma alimentação adequada e a prática de atividade física, sejam adotados”, ressalta o Ministério da Saúde.

MORTALIDADE – No mesmo período, entre 2010 e 2016, o diabetes vitimou 789 pessoas em Roraima. De acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o número teve alta de 60,2% no período considerando que foram 88 mortes, em 2010, e 141 em 2016. 

Dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) também apontam que a quantidade de internações subiu 27% em seis anos, considerando que houve 449 hospitalizações em 2010 e 573 em 2016. 

DADOS ATUAIS – A Folha questionou o número de diabéticos atualmente na Capital, porém a Secretaria Municipal de Saúde de Boa Vista informou somente o número de pacientes cadastrados na Superintendência de Assistência Farmacêutica.

Segundo a Prefeitura de Boa Vista, são 2.483 pacientes ativos na Superintendência de Assistência Farmacêutica, em que a maior parte deles participa de grupos de hipertensos e diabéticos, oferecidos nas unidades básicas de saúde.

A gestão informou que desde o ano passado os pacientes diabéticos que utilizam as insulinas humanas NPH e Regular são atendidos pelo Município e podem receber os medicamentos nas unidades básicas de saúde.

Já a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que não tem dados específicos sobre o número de diabéticos em Roraima. O Estado alega que os dados referentes ao número de diabéticos devem ser vistos somente com os municípios. 

Apesar disso, a Sesau informou o número de atendimentos ocorridos na Capital nos primeiros meses do ano. De janeiro a abril de 2018 foram realizados 3.496 atendimentos para diabéticos em todas as unidades básicas do município de Boa Vista.

Nutricionista recomenda hábitos saudáveis para prevenir diabetes

Segundo a nutricionista clínica e mestre em Ciências da Saúde, Liana Macedo, a adoção de hábitos saudáveis ainda é a maior recomendação dos especialistas para prevenir e combater a doença. 

Primeiro, no entanto, é preciso entender os diferentes tipos da doença: tipo 1, quando a pessoa não produz insulina; tipo 2, quando a pessoa até produz o hormônio, mas não de forma correta e outras formas, como a diabetes gestacional adquirida na gravidez.

“A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune e ainda se sabe muito pouco o que causa. Às vezes uma infecção pode ocasionar com que as células do sistema imunológico comecem a reagir contra órgãos do nosso corpo. No caso da diabetes, o pâncreas”, explicou Liana. “O diabético tipo 1 precisa utilizar injeções de insulina para suprir a falta”, completou.

Já o diabético tipo 2 produz, mas a insulina não tem uma ação adequada e não consegue utilizar a glicose adequadamente. No tipo 2, a pessoa geralmente inicia o tratamento sem o uso de insulina, mas pode chegar a usar em uma fase mais avançada.

FATORES DE RISCO – Liana explicou que também existem situações chamadas de ‘fatores de risco’ para o desenvolvimento da diabetes, sendo o primeiro o excesso de peso. Quanto mais pesada a pessoa for, maior a resistência à insulina. “A insulina permite que a glicose entre nos tecidos para que haja o fornecimento de energia, então, a obesidade, a falta de atividade física, uma alimentação inadequada, tudo isso é um fator de risco para o diabético, que a gente pode prevenir”, esclareceu. 

Outro fator importante de se analisar é a questão genética, já que existe uma chance muito maior de contrair diabetes tipo 2 quando se tem pais diabéticos. Com o tratamento adequado, o filho pode ter mais controle de quando a doença pode aparecer, por exemplo, na casa dos 20/30 anos ou mais tardiamente.

Diabéticos devem consumir frutas, verduras e vegetais

A nutricionista esclareceu que as diabetes tipo 1 e 2 são caracterizadas pelo excesso de glicose no sangue, com tratamento medicamentoso diferenciado, mas uma recomendação alimentar parecida.

Liana afirmou que a dieta do diabético é uma dieta saudável, em que se deve evitar os carboidratos refinados, como massas refinadas, açúcares e gorduras em geral. É preciso, no seu lugar, consumir carboidrato de boa qualidade, principalmente cereais integrais, frutas, verduras e vegetais que são ricos em vitaminas e minerais, além de conter fontes de proteína vegetal ou animal.

Ao contrário da crença popular, não se pode restringir o carboidrato totalmente. “Só se faz a restrição total quando o paciente está com a glicose muito elevada e com dificuldade para controlar com uso de medicamentos”, explicou. “O bom carboidrato pode servir para suprir o organismo de energia e impedir que a glicose fique circulando no sangue”, completou.

Doença pode atingir retina, rins e coração

O diabetes atinge órgãos importantes do organismo, sendo um deles a retina, podendo causar a retinopatia diabética, que é uma doença que atinge os olhos e pode levar à cegueira. O diabetes também prejudica os rins, podendo ainda causar a nefropatia diabética, que é uma doença que causa uma perda progressiva da função dos órgãos, podendo levar à hemodiálise para o resto da vida ou até fazer um transplante.

Outra questão é o ataque ao sistema cardiovascular podendo causar desde infarto até o AVC, por isso que é importante a prevenção e controle da doença, já que o diabetes não tem cura. A profissional de saúde recomenda que o controle seja feito através da medicação, mas que também precisa de apoio familiar.

“Esse cuidado deve ser iniciado desde cedo, na gestação. A mãe tem que cuidar da alimentação e praticar exercícios ao gerar uma criança. O aleitamento materno é um fator de proteção de obesidade e consequentemente de diabetes. Toda a família tem que estar envolvida na prática da alimentação saudável dentro de casa”, acrescentou Liana.

TRATAMENTO – O Ministério da Saúde alerta para aqueles que já têm diagnóstico de diabetes, que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferta atendimento de forma gratuita, inclusive desenvolvendo ações de prevenção, detecção, controle e tratamento medicamentoso, inclusive com insulinas.

Para monitoramento do índice glicêmico, ainda está disponível nas unidades de Atenção Básica de Saúde, reagentes e seringas. O programa Aqui Tem Farmácia Popular, parceria do Ministério da Saúde com mais de 34 mil farmácias privadas em todo o país, também distribui medicamentos gratuitos, entre eles o cloridrato de metformina, glibenclamida e insulinas. (P.C.)