Cotidiano

Acumulado chega a 30% e postos sentem impacto nas vendas

O consumidor reduziu a compra do combustível por conta dos preços altos e os postos já sentem retração nas vendas

Em meio a uma nova alta do petróleo no mercado internacional envolvendo a crise dos EUA e Irã, a Petrobras reajustou os preços da gasolina em suas refinarias em 2,04% desde a terça-feira passada. O reajuste foi concedido 18 dias após o último, e representa um aumento acumulado de 30,9% só este ano.

À Folha, o presidente do Sindicato dos Postos de Combustível de Roraima (Sindipostos-RR), José Neto, empresário do ramo de combustíveis, destacou a livre concorrência no mercado em relação ao aumento de preços, e disse que o impacto dos aumentos é sentido tanto pelos donos de veículos quanto por donos de postos de combustíveis. 

“As pessoas estão abastecendo menos. Quem abastecia com 80 ou 100 reais, hoje não consegue mais e bota só 30 ou 40 reais. Pelo que observamos, o preço da gasolina vem subindo a cada dois ou três dias nas distribuidoras, mas, por conta da queda nas vendas, não acompanhamos esse aumento quase que diário, pois seguramos por um determinado período até repassarmos para o consumidor”, disse. 

José Neto ressaltou que os aumentos acontecem devido ao monopólio da Petrobras e a elevada carga tributaria no País.

“Se tivéssemos a concorrência da British Petroleum, Exxon Mobil ou Shel, teríamos outro cenário”, disse. “Além da carga tributária que é muito elevada no Brasil, pagamos 25% de ICMS para o Estado, fora os outros impostos que são Pis/Cofins e CID que juntos, geram um efeito cascata e chega a quase 90% do preço final do combustível e isso acaba reduzindo a margem de lucro do revendedor, que ainda tem o frete de Manaus para Boa Vista”, disse.

Consumidores reduzem abastecimento por conta do preço

Esse é o caso do autônomo Alfredo Nascimento, que antes enchia o tanque, agora o máximo que consegue é gastar R$ 100.

“Não dá mais. Agora ponho só 100 reais, o que dá em média 24 litros. Antes enchia o tanque com 160 reais”, disse. 

Já o estudante Carlos Eduardo, disse que para conseguir se manter até o final do mês, depois do aumento, teve que deixar o carro em casa e pegar a moto.

“Os gastos com gasolina estavam quase do mesmo valor da mensalidade da faculdade e isso pesou no bolso, então o jeito foi deixar o carro em casa e andar de moto”, disse.  

Quanto ao frete, apesar de ser caro, Neto destacou que os donos de postos preferem comprar em Manaus que comprar na Petrobras, em Caracaraí. 

“Aqui sai de 20 a 25 centavos a mais, no litro, que em Manaus. Então quem não tem como comprar fora não vai se manter no mercado. Embora o frete não seja barato, mas sai mais em conta comprando em Manaus”, afirmou (R.R)  

Procon analisa notas e MPE descarta cartel

A Folha falou com o coordenador do Procon Estado, Lindomar Coutinho, sobre fiscalização que o órgão está fazendo nos preços de combustíveis em Boa Vista com relação às compras nas distribuidoras.

“O setor de fiscalização está analisando os cupons fiscais que os postos enviaram e as declarações de quanto estavam vendendo a gasolina nos dias em que solicitamos a notificação”, disse. “O resultado desta análise deve sair até a quarta-feira”, afirmou.

Sobre a possibilidade de estar havendo um cartel, pelo preço estar sendo praticado a R$ 4,27 na maioria dos postos, o coordenador informou que isso carece de investigação pelos órgãos de repressão.

“Se está havendo cartel ou não, isso não é competência do Procon, mas da Polícia Civil. Vamos acionar o Ministério Público Estadual para saber se há alguma investigação em curso”, disse. 

MPE – Em contato com o MPE (Ministério Público do Estado) sobre a possibilidade de existir um cartel em relação ao preço dos combustíveis em Boa Vista, o órgão esclareceu, em nota, que em 2017, após denúncia, a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor requisitou informações da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP), que informou ‘não haver qualquer tipo de tabelamento, estabelecimento de valores máximos e mínimos, nem necessidade de autorização prévia para reajustes de preços dos combustíveis em qualquer etapa de comercialização’.

Desse modo, segundo o Ministério Público, por não haver necessidade de autorização prévia para registros de preços dos combustíveis em qualquer etapa da comercialização, a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor e da Cidadania “arquivou o procedimento em razão da ausência de elementos que indicassem violação aos direitos do consumidor”. (R.R)