Cotidiano

Agentes levam detentos doentes ao HGR durante operação padrão

Servidores dizem que ação só encerrará quando a maioria dos detentos doentes for atendida

Após as notícias de que detentos da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo estariam com doenças infectocontagiosas como sarna, tuberculose, hepatite A e Hepatite B, agentes penitenciários que atuam dentro da Pamc deflagraram na manhã desta quarta-feira, 28, a operação padrão ´Salvando Vidas`, encaminhando ao Hospital Geral de Roraima (HGR) os presos considerados em estado mais grave de doenças. Cerca de 23 presos foram transportados em três viaturas sem a autorização da Secretaria de Justiça e Cidadania Estadual e de acordo com o Sindicato dos agentes, a ação não demandava autorização por estar relacionada a questões de saúde.

A equipe da Folha acompanhou a chegada dos presos ao HGR e conversou com o presidente do Sindicato, Lindomar Sobrinho, que explicou que a ação foi decidida em assembleia entre os servidores. 

“Nós decidimos trazer os presos em estado mais crítico para receber atendimento porque nós não queremos contrair essas doenças. Só temos um médico que visita a unidade uma vez na semana, o certo era trazer todos os dias os presos ao hospital para receber os cuidados”.

Lindomar também falou sobre outros fatores que levaram à decisão de deslocamento dos presos por parte dos agentes.

“Estamos vivendo uma situação de retiradas de direitos com nossas progressões não pagas. Não existem equipamentos para nosso trabalho. O material utilizado para lidar com os presos, como luvas e máscaras, não foram fornecidos pelo governo, além de julgarmos a transferência dos presos para a Pamc uma atitude irresponsável. Existe um pavilhão que é quase impossível transitar devido ao forte mau cheiro, por isso paramos todas as atividades nesta manhã do dia 28 para a realização da operação”

Questionado por quanto tempo a ´Operação Salvando Vidas` duraria, Lindomar Sobrinho explicou que ela continuaria pela parte da manhã da quinta-feira até que todos os presos considerados em situação de vulnerabilidade recebessem atendimentos de saúde.

“Por se tratar de uma questão de saúde e amparados pela lei 7210/84, que diz que quando não há atendimento na unidade prisional temos que buscá-lo fora, não solicitamos autorização da secretaria. A categoria entendeu que a ação se fazia necessária e por conta própria, de forma responsável, a realizamos. Ninguém vem em nome de bandeiras políticas. Era obrigação do governo ofertar atendimento aos presos, mas estamos aqui prestando esses serviços. Intimidações não vão nos parar”, ressaltou.

Parentes de presos realizaram manifestação em frente ao HGR


Com cartazes e gritos contra o governo estadual, parentes pediam que presos recebessem atendimento médico

Parentes dos presos que foram conduzidos ao Hospital Geral de Roraima por meio dos Agentes Penitenciários para receberem atendimento médico estiveram em frente ao HGR realizando manifestação com cartazes para, de acordo com eles, denunciar a real situação da saúde dos apenados e o que consideram omissão do poder público.

De acordo com uma das mulheres que não quis ser identificada, durante as visitas os presos seriam orientados a não comentar como estavam vivendo.

 “Não temos autorização para olharmos o corpo deles. Quem levou os remédios para o meu filho fui eu e ainda pediram para levarmos mais, mas acredito que nem as roupas que compramos foram entregues. O governo diz que está tudo bem e em ordem, mas não está. Os detentos fizeram coisas erradas, mas estão lá pagando por isso, e deveriam pagar com dignidade”, disse.

Secretário diz que presos só poderiam sair com autorização médica

O secretário de Justiça e Cidadania estadual, André Fernandes, disse que os presos levados ao Hospital Geral de Roraima só poderiam sair sob orientação médica e que se durante o trajeto ocorressem problemas, os Agentes Penitenciários sofreriam penalidades, conforme prevista em lei, e que os fatos ainda seriam apurados para avaliar se os servidores responderiam por alguma ação.

“Nós temos uma equipe médica dentro da PAMC que teria que fazer a indicação de que o preso necessitava de atendimento em um hospital. O agente que fizer o transporte do detento e acarretar erro vai sofrer as consequências em relação aos problemas causados”.

O secretário ainda esteve na tarde desta quarta-feira no HGR e avaliou a atitude dos agentes penitenciários como um ato sindical, o que acarretou, de acordo com ele, prejuízo ao atendimento da população, já que dos 23 presos doentes, somente dois eram casos de internação.

“As doenças não são por conta da superlotação e muitas são transmitidas por meio de relações sexuais. Os detentos com doenças como tuberculose estão separados dos outros e já estão em tratamento. Em setembro, estamos organizando mutirão para atender todos os presos”, concluiu.