Cotidiano

Bloqueio de rodovia e comércio fechado em novo dia de protestos

AYAN ARIEL

Editoria de Cidades

O município de Pacaraima encontra-se em clima tenso desde a tarde de sexta-feira (5), quando se iniciaram os protestos de moradores contra o estupro de uma estudante indígena de 15 anos, cometido por um venezuelano. 

Após a Força Nacional e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) jogarem bombas de efeito moral e atirarem balas de borracha nos manifestantes, a rodovia federal BR-174 permanece bloqueada pelos indígenas e as duas principais vias de acesso ao município também foram fechadas pelos moradores da cidade. 

Os pontos bloqueados são na entrada de Pacaraima, próximo à rodoviária, como confirmado pelo prefeito Juliano Torquato, e outro bloqueio na saída para a Venezuela, segundo informações de moradores da localidade.

A Folha obteve relatos que, no fim da tarde, a passagem dos veículos que saíam de Pacaraima em direção à capital estava sendo liberada por alguns minutos. 

Em entrevista concedida a nossa equipe, o chefe do executivo de Pacaraima afirmou que a prefeitura vem buscando chamar atenção do governo federal em relação à atual situação daquele lugar.

“A única coisa que queremos é que o governo federal escute, que venha algum representante ou alguma comissão e realize uma audiência pública que mostre realmente a realidade do município. Precisamos buscar uma solução para que Pacaraima tenha a qualidade de vida que merecemos”, comentou Torquato.

Associação recomenda que Comércio feche as portas

Vários estabelecimentos comerciais de Pacaraima estão fechados por recomendação da Associação Comercial do município fronteiriço. O presidente da representação, João Cléber Soares Borges, afirma que a medida é necessária para garantir a segurança dos lojistas da região.

“A gente até sabe como começa, mas nunca sabe como termina. Então, para a segurança dos comerciantes e em sinal de respeito à população que nos acolhe, fechamos as portas para que o lojista, se não puder aderir ao movimento, que pelo menos possa deixar de abrir as portas”, afirmou o presidente da Associação.

De acordo com Borges, nesta segunda-feira (10) vários comerciantes já aderiram à recomendação dada pela instituição e não abriram os comércios.

 “Sempre há aqueles que, por algum motivo, não aderiram a esse movimento. É claro que não queremos que isso aconteça, mas esse comerciante pode correr o risco de ter uma surpresa inesperada e desagradável de manifestantes ou até dos próprios delinquentes que vêm agindo na cidade”, ponderou. 

PM envia reforço e evita nova confusão entre brasileiros e venezuelanos 

A Polícia Militar de Roraima (PMRR) enviou reforço ao município para evitar maiores confrontos dentro da cidade.

De acordo com a nota enviada pela Polícia Militar, os militares estão fazendo não apenas policiamento ostensivo, mas também mantendo base móvel de policiamento, policiamento a pé no Centro de Pacaraima e uma equipe da Força Tática faz patrulhamento em áreas de risco.

O Comandante da Polícia Militar de Roraima, Coronel Elias Santana, afirma que a corporação vem acompanhando esses protestos e inclusive realizou o balizamento das ruas por onde passariam as manifestações.

“A Polícia Militar se manteve atenta aos acontecimentos e nessa segunda-feira, quando houve um pequeno desentendimento entre brasileiros e venezuelanos, a nossa guarnição agiu e agora o momento é de aparente normalidade. Nós estamos fazendo o nosso papel constitucional, que é monitoramento ostensivo para preservação da ordem pública em todas as ruas de Pacaraima”, ressaltou o comandante.

De acordo com informações recebidas pela Folha diretamente de Pacaraima, nenhuma prisão ou apreensão referente às manifestações, foi executada. A Folha tentou entrar em contato com o Exército Brasileiro para saber o que estava sendo feito pela entidade militar em relação ao ocorrido em Pacaraima, porém não obteve retorno até o encerramento dessa matéria.

Moradores reclamam da insegurança em Pacaraima

Por conta dos últimos acontecimentos, os moradores de Pacaraima estão bastante apreensivos. Vivendo no município há 15 anos, o professor autônomo Ralf Weissenstein, de 66 anos, enfatizou que o que vem ocorrendo é algo sem precedentes.

“As ruas e avenidas principais estão bloqueadas e o comércio está fechado, então a situação está assim. O prejuízo para os munícipes e comerciantes é muito grande e vem ocorrendo muitos crimes por aqui, de dia e de noite”, relatou o homem.

Outro morador antigo da cidade, o autônomo Antônio Alves de Sousa, de 59 anos, criticou a falta de segurança na cidade e pede mais atenção para a população daquela localidade.

“Gostaria que a cidade fosse como antes, sossegada, porque anda ocorrendo muitos roubos por aqui. Não conseguimos ter mais paz e a população de Pacaraima pede por mais segurança e tudo de bom que nós merecemos”, opinou o autônomo que mora a 30 anos naquele local.

Esposa de Antônio, a dona de casa Judith Suarez Fernandez, de 45 anos, que mora há 23 anos em Pacaraima, reforçou os problemas da cidade em relação à segurança e criticou a ação de repressão ocorrida nesse domingo (9).

“Estamos nos manifestando pedindo mais segurança, porém as autoridades nos reprimem com bombas de gás, sendo que a manifestação está ocorrendo de forma pacífica, o que acaba causando mais revolta na população”, finalizou.