Cotidiano

Contaminações por Covid-19 disparam na Terra Indígena Yanomami

Já existem casos confirmados em 23 das 37 regiões da TIY, localizada entre os estados de Roraima e Amazonas

Quase oito meses após a primeira morte por Covid-19 entre os Yanomami, o cenário sanitário na Terra Indígena Yanomami é de total descontrole, de acordo com o relatório “Xawara: rastros da Covid-19 na Terra Indígena Yanomami e a omissão do Estado”, lançado nesta quinta-feira (19) e elaborado pela Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana e pelo Fórum de Lideranças da TIY.

Ainda segundo o documento, o número de casos confirmados no território saltou de 335 para 1.202, entre agosto e outubro, um aumento de mais de 250% de casos, nos últimos três meses. Segundo o monitoramento da Rede Pró-YY, até o final de outubro já foram registrados 23 óbitos pela doença.

Já existem casos confirmados em 23 das 37 regiões da TIY, localizada entre os estados de Roraima e Amazonas. “Por dentro, não estamos bem. Estamos todos adoecidos. Nossa floresta adoeceu”, contou uma Yanomami da região de Kayanau, em Roraima.

O relatório aponta que aproximadamente 10 mil indígenas, mais de um terço da população total, já tenham sido expostos ao coronavírus. Desde junho, o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana solicita a retirada dos milhares de garimpeiros ilegais que atuam no território e são vetores da doença.

A campanha #ForaGarimpoForaCovid, que tem o apoio de aliados brasileiros e internacionais, já conta com mais de 420 mil assinaturas em apoio à luta indígena.“Queremos protocolar o abaixo-assinado na Câmara dos Deputados, no Senado e na Presidência da República. É um instrumento de denúncia dos problemas causados pelos garimpeiros, como a contaminação dos nossos rios, as doenças, essa xawara (epidemia), que tem matando muita gente”, completou Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara.

Para Maurício Ye’kwana, diretor da Hutukara Associação Yanomami e porta-voz da campanha, o relatório é um instrumento que joga luz no descaso do governo na Terra Indígena Yanomami durante a pandemia. “Dados do Ministério da Saúde (MS) indicam que há onze regiões da TIY onde menos de dez testes foram realizados pelo Dsei-Y e outras três onde nenhum teste foi feito, ou seja, em mais de um terço das regiões há pouquíssima informação sobre a chegada da Covid-19, reforçando as denúncias dos indígenas de que, na realidade, o número de contaminados pode ser muito maior”.

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