Cotidiano

Curso de Direito comemora 28 anos de história 

Primeiro da área em Roraima, o bacharelado possui nota máxima no Enade e formou mais de 690 alunos

AYAN ARIEL

Editoria de Cidades 

O curso de Direito da Universidade Federal de Roraima (UFRR) está completando 28 anos de história no próximo dia 14, lançando ao mercado juízes federais e estaduais, defensores públicos, procuradores de justiça, promotores e advogados que atuam em Roraima e em outros estados brasileiros.

Desde 1992, quando foi realizado o primeiro vestibular para a área, 692 acadêmicos se formaram na área, segundo dados do Departamento de Registros e Controle Acadêmico (Derca) da Universidade. Atualmente, possui 260 alunos matriculados e nota cinco no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), pontuação máxima a ser atingida na avaliação.

A coordenadora Lívia Duarte Barreto enaltece o avanço que foi para o Estado de Roraima. “Ele foi o primeiro curso daqui da nossa terra, dando oportunidade para as pessoas daqui obterem essa formação no lugar onde residiam e, consequentemente, contribuir para a formação de profissionais de excelência que passaram a atuar localmente, sempre dentro dessa visão humanística”, exaltou a coordenadora.

Lívia destaca que, por estar em uma instituição pública reconhecida pela excelência, se tem uma formação diferenciada e os resultados vêm do trabalho realizado pelos professores e alunos.

“Os nossos alunos, ao ingressarem em suas vidas profissionais, são profissionais diferenciados dentro do mercado de trabalho. E isso, durante todos esses anos, é perceptível, pois nossos egressos conseguem os primeiros lugares nos concursos das mais variadas áreas jurídicas, tanto no Estado quanto fora dele”, explicou.

A trajetória do curso nesses 28 anos mostra resultados bons, pois a nota máxima foi atingida nos anos de 2018, 2012 e 2009. Já a nota quatro no exame foi obtida em 2006 e 2015. Além disso, a graduação da UFRR também foi reconhecida e premiada pelo Selo OAB Recomenda nos anos de 2002 e 2019. A premiação agracia Instituições de Ensino Superior (IES) que possuam elevados níveis de excelência e qualidade.

Entre os projetos desenvolvidos além da sala de aula, tem o Núcleo de Práticas Jurídicas, que presta assistência à comunidade de forma gratuita, como resolução de dúvidas, até o ajuizamento ou acompanhamento de ações judiciais, realizado por alunos do sétimo semestre em estágio supervisionado.

O ENSINO – Por fazer parte de uma estrutura de ensino pública, há sempre o enfrentamento perante as dificuldades orçamentárias para serem realizados os trabalhos, mas apesar dos problemas, o bacharelado conta com espaço físico próprio dentro da UFRR, que contempla as salas de aula e administrativo.

“Sempre tem uma coisa a melhorar, mas a gente busca junto à administração superior atender todas as necessidades, tanto dos professores, quanto dos alunos”, pontua Lívia.

Para aperfeiçoar o ensino jurídico entre os alunos, o curso conta com o Núcleo Docente Estruturante, formado por um grupo de cinco professores que trabalharam constantemente para aprimorar a estrutura pedagógica e a matriz curricular, com disciplinas e ementas, que atendamos necessidades de ensino dos alunos, a nível local, regional e nacional.

“Isso ajuda o acadêmico a estar cada vez mais motivado com a área que abraçou como formação e o prepara para o mercado de trabalho no setor jurídico. Eu vejo que esse interesse dos alunos pela advocacia cresceu muito nos últimos anos. Antigamente eu chegava à sala de aula, perguntavam dos alunos nos primeiros semestres quais as pretensões no direito e a maioria almejava o concurso público. Agora, isso está mais equilibrado. E é pra essa concorrência que o curso quer dar as ferramentas necessárias para que os alunos possam estar preparados quando forem pro mercado de trabalho”, conclui a coordenadora.

Estudantes indígenas ganham cada vez mais espaço   

Márcia Santiago venceu muitas barreiras até realizar seu sonho de fazer o curso de direito (Foto: Diane Sampaio/FolhaBV)

Em uma universidade cada vez mais plural em ideias, pensamento e as mais variadas cores e sotaques, o bacharelado não poderia ficar para trás. Lugares vêm sendo conquistados por minorias e entre elas tem se destacado a indígena.

Macuxi da comunidade Boqueirão, no município de Alto Alegre, Márcia Santiago, de 32 anos, é acadêmica do quarto semestre do bacharelado. Ela contou que, antes de realizar seu sonho de fazer Direito, através do Processo Seletivo Indígena (PSEI), estudou o ensino médio em sua comunidade, fez o ensino médio na Capital e completou a graduação em História.

“O que me motivou foi ser exemplo, porque fui professora por um ano na minha comunidade e eu incentivava os alunos a se inscreverem no PSEI que tem aqui e poucos alunos conseguiam se inscrever, então, pra dar esse exemplo, eu fui e me inscrevi também. Dei um ano inteiro de aula, me inscrevi, fiz a prova e quando passei decidi cursar Direito e deixar a sala de aula”, relembra a acadêmica.

O mundo acadêmico molda o pensamento crítico e tira o estudante do pensamento comum. Isso não foi diferente para Márcia, que garante hoje tem uma visão mais abrangente sobre o mundo.

“Eu vejo essa necessidade dentro do movimento indígena, para que conheçamos a legislação, a fim de utilizar esse mecanismo para desenvolver políticas mais adequadas e eficientes para as nossas populações”, opinou Márcia.

A Macuxi incentiva outras pessoas a buscarem seu lugar no mundo acadêmico e na área de direito, deixando o seguinte recado:

“A universidade tem um papel fundamental para a sociedade como um todo, principalmente para as minorias, pois é uma forma de mudarmos a nossa realidade. E eu, fazendo parte de um povo indígena, penso que a universidade está dentro de um contexto de proporcionar uma igualdade, reconhecendo e respeitando nossas diferenças”, conclui Márcia.