Cotidiano

Desaparecimento de corpos de bebês yanomami é investigado pelo MPF

Denúncia é que mães yanomami querem acesso aos corpos das crianças vítimas de covid-19

Com a repercussão da denúncia de que três mães yanomami sofrem com o desaparecimento do corpo de seus bebês, vítimas da covid-19, o Ministério Público Federal em Roraima (MPF/RR) informou que o caso está sendo apurado por meio de procedimento de investigação.

Segundo o MPF-RR, a instituição foi informada de três óbitos de bebês por covid-19, sepultados no cemitério Campo da Saudade, e um outro óbito, não relacionado à covid-19, que aguarda liberação para retorno à comunidade de origem junto com os pais.

O órgão afirma que durante o andamento do procedimento de investigação (PP 1.32.000.000476/2020-33) foram realizadas reuniões com lideranças indígenas, defesa civil, vigilância sanitária, antropólogos e gestores da saúde, bem como emitidos pedidos de informação e apoio técnico, para garantir o respeito às práticas culturais indígenas tanto quanto possível no atual contexto de pandemia da covid-19.

O objetivo principal é garantir que as recomendações médicas e orientações dos especialistas da área de saúde sejam seguidas, mas que levem em conta o direito de luto dos povos indígenas em suas particularidades rituais.

“O MPF/RR segue acompanhando todas as notícias de óbitos, para garantir a identificação do corpo e posterior retorno à terra indígena quando for sanitariamente seguro e se assim desejar a comunidade de origem”, informou a instituição.

Prefeitura afirma que adotou os procedimentos recomendados

Sobre o caso, a prefeita Teresa Surita (MDB) informou que a administração municipal segue fluxo com o Distrito Sanitário Indígena (Dsei Yanomami), onde toda criança que falece no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA), o Serviço Social da Casa do Índio (Casai) é acionado.

“Eles mandam a funerária contratada por eles buscar o corpo da criança. Após a entrega eles são responsáveis e decidem onde fazer o sepultamento. Justamente, para manter e respeitar a tradição. O HCSA não é o hospital superlotado que a reportagem cita. Aqui as crianças chegaram muito fragilizadas e receberam a atenção e todos cuidados”, explica Teresa.

A prefeita afirma ainda que durante a pandemia, oito crianças indígenas testaram positivo para Covid no hospital e que três foram a óbito, mas que a PMBV adotou o procedimento recomendado.

“A questão indígena diante da pandemia é muito preocupante. Principalmente, pela imunidade mais baixa. Por isso em todos os aspectos é importante o isolamento social e impedir que o coronavírus chegue a essas etnias. Espero que tudo seja esclarecido o quanto antes. E que as mães encontrem os corpos dos filhos.  O contrário disso é desumano”, finalizou.

ENTENDA O CASO – Segundo informações do El Pais, três mulheres Sanöma, um grupo da etnia Yanomami, e sua aldeia, Auaris, foram vítimas de descaso na saúde. Relato é que em maio, essas mulheres e seus bebês foram levados para Boa Vista, capital de Roraima, com suspeitas de pneumonia. Nos hospitais, as crianças teriam sido contaminadas por covid-19 e lá morreram. E então seus pequenos corpos desapareceram, possivelmente enterrados no cemitério da cidade.