Cotidiano

Em dois meses, três aeronaves caíram em região de garimpo em Roraima

Dois acidentes ocorreram em agosto, em um deles, três pessoas ainda seguem desaparecidas

Uma busca que dura quase três meses e, até o momento, sem nenhuma resposta. Assim tem sido os dias da família do piloto Cristiano Nava da Encarnação, de 32 anos, que está desaparecido desde o início de agosto, junto com Wallace Gabriel Lopes e Antônio José Oliveira da Silva, quando o avião em que pilotava caiu em uma região de garimpo no interior de Roraima. Assim como este acidente, outros dois foram registrados em apenas dois meses.

Cristiano saiu de Boa Vista, no dia 4 de agosto, em uma aeronave com destino à região de garimpo na área indígena Yanomami e deveria ter chegado ao local às 14h do mesmo dia, o que não ocorreu. No avião estavam ele, o mecânico e o dono da aeronave. O último contato com Cristiano, Wallace e Antônio ocorreu às 9 h. Até o momento, todos seguem desaparecidos.

De acordo com a irmã do piloto, Danielle Nava da Encarnação, as famílias seguem as buscas por conta própria, mas até o momento continuam sem resposta. “As famílias dos três estão envolvidas nessa luta. Logo após a suspensão das buscas pelos órgãos competentes, começamos a procurar. Já investimos mais de R$ 150 mil, com apoio de amigos e familiares”, relatou.


Piloto Cristiano Nava segue desaparecido    (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo Danielle, as famílias não vão cessar a procura por terra ou outros meios, conforme as possibilidades. “Estamos colocando mateiros para desbravar a mata. Hoje mesmo uma dupla entrou na mata depois de uma pista que os garimpeiros nos passaram. Toda informação é checada, pois é uma esperança que temos em encontrar meu irmão e os outros”, declarou.

Outros acidentes

No dia 23 do mesmo mês, outra aeronave caiu na região de garimpo, desta vez nas proximidades do rio Uraricuera. Conforme apuração da reportagem, o avião teria explodido e pegado fogo após a queda, momento em que um casal conseguiu sair e foi socorrido por garimpeiros, com queimaduras graves. O piloto e dois garimpeiros não resistiram.


Aeronave caiu de bico em um lamaçal   (Foto: Divulgação)

Já neste mês, um monomotor com prefixo PT-NTM caiu na região do Samaúma, no município de Alto Alegre. Um morador contou que o piloto, conhecido como ‘Tomate’, morreu na hora. Ele relatou que a aeronave não pegou altitude e caiu de bico no chão, afundando em uma área com muita lama. Garimpeiros retiraram o piloto do lamaçal. O acidente ocorreu na pista do Jeremias.

ANAC

Em nota, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que tem o trabalho de apurar eventual exploração de locais de pouso e operação de aeronaves. Uma vez identificada infração, os responsáveis pela operação e aeronave podem ser multados, além de receberem outras penalidades como suspensão ou cassação de licenças.

“As possíveis infrações identificadas que não sejam de competência da Agência, são denunciadas ao Ministério Público e às autoridades policiais para que sejam adotadas as medidas cabíveis”, citou trecho da nota. 

Operação

 A Anac realizou de 24 de agosto a 12 de setembro, o trabalho de fiscalização no âmbito da Operação Yanomami, contra proprietários e operadores de aeronaves que estavam utilizando aviões em atividades relacionadas ao garimpo ilegal. Ao todo, 86 aviões foram fiscalizadas, sendo 58 apreendidas administrativamente e oito interditadas.

Em uma das ações realizadas em pista clandestina do Clube de Aviação Desportiva de Roraima, 50 aeronaves foram autuadas por operações em local não homologado e por realização de manutenção clandestina. Na Terra Indígena Yanomami, os fiscais federais identificaram e embargaram 59 pistas de pousos, três portos (rio Uraricoera) e cinco helipontos clandestinos que serviam de apoio logístico ao garimpo ilegal.

A operação foi coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e teve apoio de agentes da Polícia Federal, da Força Nacional de Segurança Pública, servidores da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Agência Nacional do Petróleo (ANP), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).