Cotidiano

Garimpeiros protestam e bloqueiam principal rodovia de Roraima

Segundo os garimpeiros, a manifestação ocorre em paralelo com outras ações em outros estados do país 

Cerca de 300 garimpeiros realizaram uma manifestação na Br-174, nas proximidades do Anel Viário, que bloqueou a rodovia nesta quarta-feira (09). Os manifestantes permitiram apenas a passagens de ambulâncias e liberavam a passagem de veículos a cada hora por cerca de 10 minutos. O protesto deve continuar nesta quinta-feira, 10.

A manifestação provocou revolta em alguns motoristas que esperaram por várias horas para conseguirem seguir viagem pela principal rodovia do estado. O agricultor João Fernandes, de 53 anos, que mora em um sítio nas proximidades de Boa Vista, se disse aborrecido com a manifestação.

“Eles impedem nossa passagem e ninguém faz nada. Além disso, ficam horas tomando banho no igarapé enquanto mais de 100 carros ficam esperando na fila para conseguir passar por esse protesto. Sinto muito por eles, mas garimpo em terra indígena é ilegal, e é isso que eu penso.”

Segundo os garimpeiros, a ação ocorre em paralelo com outros estados do país, entre eles Amazonas, Mato Grosso, Pará e Amapá. A principal reivindicação seria a regularização da profissão.

Os manifestantes também solicitam uma reunião com o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), e com a bancada federal para saber como anda o projeto que legaliza o garimpo e, principalmente, querem a garantia de poder garimpar nas terras durante a tramitação do projeto.

“Queremos conversar com toda a bancada federal e com o governador para atender a nossa demanda. Hoje nós temos cinco projetos tramitando dentro da Câmara Federal para a legalização do garimpo, tanto em terra indígena como em áreas particulares. Só que esse processo vem demorando muito, e por isso esse movimento ocorre não apenas no nosso estado, mas também no Mato Grosso, no Amazonas, no Pará e no Amapá”, explicou o garimpeiro Jesse Ferreira.

“Nosso foco maior é na região do Uraricoera e Mucajaí. Nós trabalhamos correndo riscos, com um investimento muito alto para chegar na região. Nós só queremos organização e regulamentação da atividade garimpeira, sem a repressão do Exército e de órgãos fiscalizadores”, relatou Jonas de Souza Matos, coordenador do movimento.

FECHAMENTO DO GARIMPO – A manifestação acontece após uma fiscalização que fechou ao menos 30 garimpos ilegais e retirou centenas de invasores da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. A operação Walopali-Curare XI durou 12 dias e apreendeu equipamentos usados na exploração de ouro e até um helicóptero.

Durante a operação deflagrada entre os dias 23 de setembro e 3 de outubro, também foram destruídas duas pistas de pouso ilegais, de abastecimento ao garimpo, feitas no meio da floresta. 

Além disso, dezenas de motores, bombas draga, geradores e equipamentos de sucção utilizados nos garimpos de barranco, chamados localmente de “tatuzão”, foram destruídos para evitar o uso e aproveitamento indevidos.

A estimativa da Funai é que cerca de 7 a 10 mil garimpeiros estivessem operando ilegalmente na Terra Indígena, impactando os indígenas com violência, desmatamento, assoreamento dos rios e contaminação por mercúrio nas comunidades.

Outro lado – A reportagem da Folha procurou o governo de Roraima para saber sobre a possibilidade de uma audiência do governador Antonio Denarium com os representantes dos garimpeiros. Por meio de nota, o Governo informou que compete ao Governo Federal a decisão sobre a regulamentação da atividade, “que em Roraima, é responsável pelo sustento de cerca de 30 mil famílias, cujos trabalhadores atuam na clandestinidade, deixando de recolher impostos e de contribuir para o aumento das receitas do Estado e da União”. Esclareceu ainda que “O Governo de Roraima está aberto ao diálogo e vai dar apoio no que for possível, dentro dos princípios da legalidade”, concluiu a nota.