Cotidiano

Governo diz que não há contraindicação para antecipar vacina

Estado afirma que imunização é fundamental para defender a população de novas variantes Beta e Delta; entenda a polêmica sobre a antecipação da 2ª dose da Astrazeneca

A polêmica sobre a aplicação da segunda dose da vacina Astrazeneca continua. Subvertendo recomendação do Ministério da Saúde e da FioCruz (Fundação Oswaldo Cruz), responsável pela importação do imunizante britânico, o Governo do Estado afirmou que a antecipação da segunda dose, de 90 para 60 dias, é fundamental para reforçar a proteção contra as variantes Delta e Beta, considerando que estudos apontam que somente a primeira dose não garante a imunização. A medida anunciada vale a partir de agosto. 

No entendimento do Governo, não existe contraindicação à antecipação, pois a orientação do Ministério da Saúde seria apenas para evitar a falta de vacinas no início da campanha de imunização. Os gestores estaduais justificaram que a antecipação está respaldada pelo fabricante, e que a própria bula da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informa que “’a segunda injeção pode ser administrada entre 4 e 12 semanas após a primeira’, portanto não existe risco para quem é vacinado.”

Fabricante

No último dia 13 de julho, a FioCruz emitiu uma nota técnica conjunta da Sociedade Brasileira de Imunizações e da Sociedade Brasileira de Pediatria, informando que a estratégia de manter o intervalo entre doses das vacinas Pfizer e AZ/Oxford em três meses, a exemplo do que fizeram Escócia, Inglaterra, Canadá e diversos outros países, “parece correta e permite reduzir a carga de morbimortalidade da doença”. 

O Governo do Estado seguiu o exemplo de outros 10 estados que anteciparam calendário para aplicar a 2ª dose da vacina. Após reunião com governadores, na última terça-feira (13), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que o ministério vai discutir com estados e municípios uma orientação nacional sobre a possibilidade ou não de redução do intervalo entre a primeira e a segunda dose de vacinas contra a COVID-19. Ele, no entanto,  criticou governadores que têm anunciado, isoladamente, reduções no tempo entre as duas aplicações de imunizantes.

Capital

Em Boa Vista, a prefeitura parece não acatar a orientação do Governo do Estado sobre o assunto. Por meio de nota emitida ontem (15), o Executivo Municipal disse que não recebeu recomendação oficial do Ministério da Saúde para antecipar a aplicação da segunda dose da vacina AstraZeneca. “Um ofício da Secretaria Municipal de Saúde foi enviado nesta quinta-feira (15), ao secretário estadual solicitando informações sobre quais estudos e critérios justificam a antecipação e inclusão desse grupo e sobre a disponibilidade de doses para a segunda aplicação”.

Veja o que dizem as autoridades envolvidas

Ministério da Saúde:

Não emitiu nota oficial, mas se comprometeu a avaliar o assunto. 

FioCruz/Sociedade Brasileira de Imunizações:

A respeito da redução no intervalo entre as doses da vacina produzida pela Fiocruz (AstraZeneca), a Fundação esclarece que o intervalo de 12 semanas entre as duas doses recomendado pela Fiocruz e pela AstraZeneca considera dados que demonstram uma proteção significativa já com a primeira dose e a produção de uma resposta imunológica ainda mais robusta quando aplicado o intervalo maior. Adicionalmente, o regime de 12 semanas permite ainda acelerar a campanha de vacinação, garantindo a proteção de um maior número de pessoas.

O regime de doses adotado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) está respaldado por evidências científicas e qualquer mudança deve considerar os estudos de efetividade e a disponibilidade de doses. Até o momento, a vacina produzida pela Fiocruz tem se demonstrado efetiva na proteção contra as variantes em circulação no país já com a primeira dose. Adicionalmente, em relação à variante delta, uma pesquisa da agência de saúde do governo britânico, publicada em junho, aponta que a vacina da AstraZeneca registrou 71% de efetividade após a primeira dose e 92% após a segunda para hospitalizações e casos graves. Os dados são corroborados também por um estudo realizado no Canadá, que apontou efetividade contra hospitalização ou morte, para a variante Delta, após uma dose da vacina da AstraZeneca de 88%.

Neste momento, a Fiocruz reforça as orientações do PNI e da Nota técnica conjunta da Sociedade Brasileira de Imunizações e da Sociedade Brasileira de Pediatria, publicada nesta terça-feira (13/7), quanto à manutenção do intervalo de 12 semanas da vacina Fiocruz-AstraZeneca e permanecerá atuando na vigilância das variantes, bem como na produção de estudos de efetividade da vacina e de evidências científicas que possam continuar a subsidiar a estratégia de imunização no país.

Governo do Estado

A Secretaria de Saúde informa que o objetivo da antecipação da vacina é fazer com que toda a população até 18 anos esteja vacinada com a primeira dose até agosto, além de ampliar a 2ª dose, seguindo o exemplo do Distrito Federal e outros 10 Estados que já atuam com ampliação de idade e antecipação da vacina.

O secretário de Saúde Airton Cascavel esclarece também que o município de Boa Vista, além de outros municípios do Estado, tem doses em estoque e não tem sentido ficar com vacinas paradas enquanto a população pode ser vacinada. Só no caso de Boa Vista, o estoque chega a 41.627 vacinas. Informa ainda que chega nesta sexta-feira, mais de 12 mil doses de vacina das quais cerca de cinco mil serão distribuídas para a Capital.

O Governo informa ainda que é preciso garantir uma melhor resposta imune da população, pois está ocorrendo avanço de novas variantes no país, principalmente a Delta, originária da Índia, uma das quatro linhagens consideradas de preocupação pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e associada à maior transmissibilidade.

Esclarece ainda que a bula da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção e importação da tecnologia da AstraZeneca, já informa que “a segunda injeção pode ser administrada entre 4 e 12 semanas após a primeira”, portanto não existe risco para quem é vacinado, além da antecipação ampliar a proteção da população, sem interferir na eficácia do imunizante, até porque o intervalo entre as doses ainda segue a recomendação da fabricante.

No Brasil, o prazo limite foi adotado como padrão, em um momento de escassez de vacinas, o que já não ocorre mais hoje, já que todos os Estados estão recebendo remessas semanais de diversas doses e ainda há em estoque.

Prefeitura

 A Prefeitura de Boa Vista esclarece que até o momento não recebeu recomendação oficial do Ministério da Saúde para antecipar a aplicação da segunda dose da vacina AstraZeneca e tampouco a vacinação da população de 12 a 17 anos de idade com comorbidade, conforme anunciado na imprensa pela Secretaria de Estado da Saúde.

Um ofício da Secretaria Municipal de Saúde foi enviado nesta quinta-feira, 15 de julho, ao secretário estadual solicitando informações sobre quais estudos e critérios justificam a antecipação e inclusão desse grupo e sobre a disponibilidade de doses para a segunda aplicação.

A prefeitura entende que o foco é vacinar o maior número de pessoas com a primeira dose, buscando alcançar até 70% de cobertura vacinal da população geral acima de 18 anos.

Desde o início da campanha de vacinação contra a Covid-19, o município segue as orientações e recomendações do Programa Nacional de Imunizações –PNI. Até o momento, a cobertura vacinal na população alvo registra 34,73% com aplicação da primeira dose.

Vale lembrar que a FioCruz, responsável pela produção da vacina, já emitiu nota oficial informando a importância da manutenção do intervalo de 12 semanas entre as doses.

Qualquer alteração no calendário de vacinação será amplamente divulgado nos meios de comunicação. Reforça ainda que a vacinação é o melhor caminho para voltarmos à nossa rotina e evitarmos mais mortes e colapsos no sistema de saúde. Procure um dos pontos de vacina da cidade e garanta a sua dose.