Cotidiano

Gravidez precoce é fator determinante para evasão escolar

Estudo nacional demonstrou que meninas de até 19 anos sofrem impactos diretos no desenvolvimento profissional por conta de maternidade e ajudam a aumentar a pobreza

Um estudo feito pela Fundação Abrinq aponta que a gravidez na adolescência reflete diretamente na perpetuação da pobreza e vulnerabilidade social, devido aos impactos da continuidade da educação dessas mães, comprometendo o desenvolvimento pessoal e profissional. Tanto em Roraima quanto no Acre, o destaque está nos dados de mães adolescentes que nunca frequentaram a escola, com 7,2%.

O estudo aponta que embora a incidência da gravidez precoce tenha apresentando queda na última década no País, as regiões e Estados ainda apresentam uma desigualdade de políticas públicas e investimentos para prevenir a gravidez na adolescência. No Brasil, em 2017, foi registrado o nascimento de 480 mil crianças de mães que não tinham ultrapassado os 19 anos.

A Região Norte teve o maior percentual de nascidos vivos com mães menores de 19 anos, com 23,7%. O Nordeste vem em segundo, com 20%, seguido da Região Centro-Oeste, com 15,5%. Sudeste e Sul tiveram 13,3% e 13,1%. O estudo destaca que os nascimentos de mães adolescentes indígenas poderiam influenciar a proporção do Norte, mas ao observar regionalmente os filhos dessas mães, a proporção é 46 vezes menor que outras raças, o que enfraquece a hipótese.

Roraima registrou a proporção de 23% de nascimentos antes dos 19 anos, ficando em quinto lugar. A maior parte dessas mães adolescentes é de solteiras, com 76,4% se colocando em terceiro lugar desse perfil, perdendo para Rio de Janeiro e Amapá, que tiveram 93,2% e 90,5%, respectivamente.

Número de mães com até 7 anos de estudo é maior no Norte e Nordeste

O Norte e Nordeste representam também os maiores casos de mães até 19 anos cuja quantidade de anos de estudo está entre 4 e 7 anos. Há também nas regiões a presença de mães que não concluíram o primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Majoritariamente, todas as unidades federativas tiveram mães adolescentes que frequentarem o ensino médio, de 8 a 11 anos de estudo.

Políticas públicas poderiam reduzir números, diz pesquisadora

Em entrevista à Folha, a administradora executiva da Abrinq, Eloísa Oliveira, afirmou que a maior parte das meninas apresentou o desejo de voltar a estudar, mas que são impedidas pela maternidade.

“Isso muda totalmente o projeto de futuro dessa menina, porque ela passa a ter que compatibilizar o processo de formação com o papel de mãe”, ressaltou.

Eloísa frisou que o estudo também fez uma recomendação aos gestores públicos para diagnosticar cada localidade e aplicar ações para orientar e evitar que adolescentes engravidem precocemente. Uma manutenção nas escolas e processos de alerta sobre os riscos são os principais pontos a serem levantados.

Ela relatou que, após o nascimento, é preciso ter também uma rede de proteção a essas mães, inclusive com os pais das crianças para que assumam o compromisso de cuidado com os bebês. Essas políticas públicas podem reduzir os números de gravidez na adolescência futuramente.

“É garantir as condições necessárias para que essa menina não interrompa a trajetória da educação básica e reduza a possibilidade da gravidez ser multiplicadora de pobreza para as próximas gerações. A maternidade é importante, mas é melhor que aconteça quando a mulher já está madura para assumir esse papel”, completou.

Roraima já registrou mais de 500 partos em adolescentes em 2019

Até quarta-feira, 24, foram registrados 543 partos no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazaré (HMINSN) em pacientes com faixa etária de 11 a 19 anos somente em 2019. Em 2018, foram 2.259 partos em gestantes dessa faixa etária e 1.119 em 2017.