Cotidiano

Jogo online pode ter influenciado sumiço de garoto de 12 anos

AYAN ARIEL

Editoria de Cidades 

Na tarde desta terça-feira (4), João Pedro de Oliveira Cavalcante Pires, de 12 anos, desapareceu do quintal de sua casa, no bairro São Francisco, zona oeste de Boa Vista, e foi encontrado quatro horas depois andando próximo à ponte do igarapé Caranã, que divide os bairros Jardim Caranã e Cidade Satélite, na zona oeste da capital.

A criança teria percorrido mais de 7 quilômetros caminhando sozinho pelas ruas da cidade e para a mãe do garoto, a cuidadora de idosos Gisele Evangelista de Oliveira, de 35 anos, tudo indica que o fato ocorreu por influência de um jogo online que ele disputava.

“Quando eu peguei meu celular, muito tempo depois que ele sumiu, percebi que ele estava com uma roupa parecida com a que tem nesse joguinho. Se foi esse jogo, eu não sei, mas de repente ele pode ter começado a achar que viveria aquelas aventuras. Olhamos nas câmeras que tem aqui perto da nossa casa e vimos o traje que ele saiu”, comentou a mãe.

A cuidadora de idosos contou que tudo ocorreu rapidamente, dentro de um curto período de dois minutos. Ela ficou preocupada com a falta de resposta dele, já que ele possui problemas de saúde.

“Fiquei procurando e chamando meu filho pela casa, mas ele não respondia e eu comecei a achar que ele tinha passado mal. Como estava somente eu, ele e meu sobrinho, acionei minha outra filha, que saiu desesperada rodando o quarteirão atrás dele. Depois disso veio minha irmã e começou a rodar as redondezas, com o carro dela, perto da minha casa. Foram-se passando as horas e não tinha resposta”, relatou.

Sem notícias sobre o garoto, Gisele reportou o desaparecimento à Polícia e pediu ajuda de amigos e familiares por meio de grupo de um aplicativo de mensagens e rapidamente todos começaram a se engajar na busca pelo garoto de 12 anos, principalmente pelas redes sociais.

Após três horas sem notícias da criança, o esposo de Gisele, angustiado pelo fato, teve a ideia de refazer um percurso feito diariamente pela família. Foi quando João foi encontrado andando próxima à ponte do igarapé Caranã. Segundo disse a mãe, o Balneário da Cachoeirinha, não muito distante do lugar onde o garoto foi encontrado, seria o local onde João diz que o jogo se encerraria.

“O que ele iria fazer lá, eu não sei. Quando o pai dele o encontrou, ele estava com um semblante diferente e quando ele viu o pai, foi tipo ‘acabou o jogo’. Ele estava muito assustado e confuso com tudo o que aconteceu, sem contar que também estava prestes a ter um ataque de asma”, mencionou a mãe da criança.

Por fim, Gisele alertou aos pais sobre essa situação. “A gente vivenciou quatro horas de angústia e isso é uma coisa que eu não desejo a nenhum pai ou mãe. Então vigiem os seus filhos, veja o que eles estão fazendo, o que estão consumindo e com quem eles se envolvem”, concluiu.

Psicólogo adverte que pais devem estar atentos aos jogos online


O psicólogo Alberto Cruz, ressaltando a importância do relacionamento saudável entre pais e filhos (Foto: Nilzete Franco/Folha BV)

O psicólogo Alberto Cruz pontuou que a interferência dos jogos eletrônicos na vida de crianças e adolescentes é muito forte, levando em consideração que esses jogos, em sua maioria, simulam situações que podem ser vividas na vida real.

“O fato de você ter esse mundo fantástico e diferente, que você poderá vivenciar no ambiente eletrônico, muitas vezes pode sim fazer com que essa criança ou adolescente tenha algumas percepções alteradas, dependendo do tipo de vulnerabilidade que ela possa ter” observou Cruz.

O psicólogo adverte que os jogos não são exatamente culpados por essa situação e ressaltou que o relacionamento entre pais e filhos tem papel fundamental na vida do jovem.

“O alerta que tem que ficar desse episódio é os pais não acompanhando o tanto que a criança está evoluindo para um comportamento que seja nocivo para ele. Os pais precisam estar se relacionando de verdade, conversando com os seus filhos, para entender e ficar atento aos sinais” recomendou.

Cruz também constatou que a pessoa na fase da adolescência está mais suscetível a maior influência, justamente por estar em um processo de evolução bastante conflituoso.

“Pelo fato de ele estar nessa fase de desenvolvimento, muitas vezes ele pode estar mais frágil a isso. O jogo em si não vai influenciar, mas ele é feito de usuários e muitas vezes você tem um usuário influenciando outro usuário que está vulnerável. Isso é algo bastante preocupante, então os pais devem ficar atentos com quais jogadores eles vêm se relacionando e observar eles enquanto jogam”, finalizou o psicólogo.