Cotidiano

Mensagens mostram que garimpeiros queriam provocar colapso em BV

Em uma semana tensa em Roraima por conta do bloqueio da rodovia BR 174, a principal via que interliga Roraima ao resto do país que ficou quatro dias fechada, a Folha teve acesso ao conteúdo de mensagens em um grupo de garimpeiros, durante os dias de mobilização, mostrando que eles planejavam provocar colapso em Boa Vista. Os manifestantes queiram a retirada do Exército da região ao Mucajaí e a legalização do garimpo em terras indígenas.

Para pressionar as autoridades no atendimento à pauta de reivindicações, planejaram o bloqueio da BR 174 e ameaçaram até mesmo deixar a cidade sem combustível, alimentos ou acesso terrestre ao restante do país.

No grupo, os manifestantes trocam mensagens digitais orientando os garimpeiros sobre como devem agir para voltarem a trabalhar nas terras indígenas.

“É só falar pra eles tirarem o Exército do rio, que eles liberam o rio e nós liberamos a via e aí não tem confronto com a polícia?”. A fala é de uma das organizadoras do movimento e o áudio foi enviado para uma autoridade local.

Ainda na conversa, outro manifestante fala: “Pois é, não vamos abrir não, não vamos abrir não que o Exército tocou fogo nas minhas três máquinas aqui no Rio Mucajaí e não vamos abrir a BR não, vamos deixar dar o colapso”.

Outro dos manifestantes fala sobre provocar um ‘colapso’ na cidade: “Isso é papo furado. Não vamos abrir, a BR fica fechada até acabar combustível, acabar tudo e dar o colapso em Boa Vista. Ninguém vai retroceder não pois estamos aqui e aqui vamos ficar”.

Em um vídeo, também disponibilizado no grupo, outro dos manifestantes mostra milhares de reais dentro de uma porta mala de carro e afirma: “Isso aqui é apenas recurso para manter a greve. Olha aqui o que temos para manter a rodovia fechada.”

A reportagem teve acesso a vários arquivos de áudio trocados durante a última semana no grupo de WhatsApp. A foto do grupo traz a frase “garimpeiro não é bandido, é trabalhador”. 

A maioria das mensagens se refere à dificuldade de se chegar e se manter nos garimpos existentes em terras indígenas por conta da fiscalização por parte do governo federal, em uma resposta à crise das queimadas na Amazônia, que resultou no acionamento do Exército e na operação de retirada dos garimpeiros que reclamam principalmente da destruição das máquinas e equipamentos usados por garimpeiros no leito do Rio Mucajaí.

Desde 2008, um decreto autoriza os agentes de fiscalização a destruírem equipamentos utilizados em atividades ilegais, uma medida bastante eficaz para combater o garimpo ilegal.