Cotidiano

Pacientes denunciam falta de medicamentos e exames no HGR

Para serem atendidos, pacientes e familiares precisaram comprar remédios e pagar exames

Tatiane Ramos

Colaboradora Folha

Apesar de o governo do Estado ter anunciado no dia 9 de julho que os estoques de medicamentos e insumos para atender as demandas das unidades de saúde de todo o Estado estavam abastecidos, pacientes do Hospital Geral de Roraima (HGR) procuraram a reportagem da Folha de Boa Vista na manhã dessa segunda-feira (15) para denunciar que faltam medicamentos básicos e que alguns dos exames mais necessários estão suspensos na unidade hospitalar.

Rosineia Elias, de 25 anos, que sofreu um acidente na Comunidade Nova Esperança, município de Pacaraima, e teve a sua face cortada, disse que não recebeu medicação para aliviar a dor. “Pela manhã sofri um acidente. O terçado escapuliu da mão do meu filho e pegou no meu rosto, atingindo minha boca. Fui para o HGR sangrando muito. Levei seis pontos dentro e cincos pontos fora da gengiva. O hospital alegou que não tinha o remédio para este fim. Não me medicaram nada para dor, nem mesmo dipirona”, disse. O esposo da vítima, Luis Elias, ainda complementou: “Quando fomos para o atendimento do HGR não havia anestesia e nem vacina antitetânica para costurar o corte, precisamos comprar os medicamentos para proceder com a assistência. O médico passou uma receita e fui aos postos do governo e não tinha o que o doutor prescreveu. Tive que adquirir na farmácia”.

Exames ainda estão sendo pagos por familiares

Outro caso foi denunciado pelo agente carcerário Enio Mota, de 45 anos, filho da paciente Raimunda do Lago, de 69 anos. Ele contou que sua mãe está internada desde o dia 12 de maio e precisa fazer um exame de arteriografia e angioressonância das carotidas vertebrais que atualmente está suspenso. 

Mota diz que sua mãe sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e três veias que fornecem sangue e oxigênio para o cérebro estão entupidas. Ela só tem uma veia boa. “Essa veia boa está entupindo e o doutor tem que fazer uma cirurgia para desentupir. O médico disse que precisa fazer esse exame de arteriografia para saber qual é a veia correta. Sem o exame, ele não vai fazer a cirurgia e o Neurologista disse que ela está correndo risco de morte, pelo fato da única veia que fornece oxigênio para o cérebro estar entupindo. Hoje mesmo paguei R$ 1mil para fazer a angioressonânica. Precisei ir a uma clínica particular da cidade e não tinha ambulância para levar. Tive que pedir ajuda para os bombeiros. É muito difícil. Pagamos tantos impostos para na hora que precisar não termos bom atendimento”, disse.

O denunciante ainda informa que, “no segundo dia de internação da minha mãe, foram pedidos dois exames: Doppler e Ecocardiograma. Somente após um mês eles foram feitos. A primeira ressonância o aparelho estava em manutenção e tive que pagar R$ 1,3 mil. Tive que comprar também uma sonda gástrica no valor de R$ 1mil porque aqui no HGR não tinha. Todos os remédios são fornecidos por mim, por exemplo, atenalol e losartana, para pressão, sinvastatina, para desfazer o coagulo, xaropes, colírios, óleo de girassol, dentre outros”.

CRM diz que não tem registros de denúncias 

A Folha também entrou em contato para saber se existiam denúncias contra o HGR no Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRMRR) e recebemos a seguinte nota:

Não há nenhuma denúncia realizada por pacientes, registrada no Conselho Regional de Medicina de Roraima, feita este ano e no ano de 2018, referentes à falta de medicamentos e suspensão de exames.

O CRM é um órgão fiscalizador da ética médica e trabalha em prol da sociedade, inspecionando se as unidades públicas e privadas oferecem condições de trabalho para os profissionais e acesso digno à população.

Qualquer pessoa pode fazer na sede da instituição, localizada na Avenida Ville Roy, nº 4123, no horário das 9h às 15h. Após a denúncia é aberta uma sindicância para dar início ás investigações, dando direito à ampla defesa e ao contraditório.

Saúde estadual nega falta de remédios e diz que exames foram suspensos na administração passada

Em resposta à equipe do jornal Folha de Boa Vista sobre as denúncias, a Secretaria de Estado da Saúde de Roraima (SESAU) esclareceu que a denúncia sobre a falta de medicação, anestesia e a vacina antitetânica, não procede. “Não temos problemas com anestesia e sobre a medicação antitetânica, está tudo normal”, disse em nota.

Sobre o exame de arteriografia realizado no CDI: a Sesau informou que foi suspensa na administração passada, por falta de materiais.

“Na atual gestão estes materiais foram contemplados no processo de aquisição de materiais para Hemodinâmica e a previsão para regularização desse exame é até o final de julho”.